Transtorno de personalidade obsessivo compulsiva

From Henry's personal library

Atenção: este artigo não é um diagnóstico! É apenas uma pesquisa pessoal.

Tem um conceito que diferencia o transtorno de personalidade do transtorno obsessivo compulsivo. Egosintônico e egodistônico. Simplificando, em geral o transtorno de personalidade envolve crenças e comportamentos e a pessoa não vê problemas. TOC geralmente inclui um elemento de irracionalidade e muitas vezes a pessoa percebe que são pensamentos ou comportamentos que ela não gostaria de ter ou de fazer porque são inúteis ou perda de tempo. Pode acontecer os dois ao mesmo tempo? Pode.

Um exemplo: a pessoa que tem uma mania de limpeza ou de ordem pode repetir até a exaustão num processo de checagem, rechecagem e há um medo de que se não fizer direito vai pegar uma doença, se contaminar ou que a falta de ordem vai causar algum mal. O transtorno de personalidade obsessivo compulsiva diz respeito à rigor, respeito à normas ou padrões. Então a limpeza é por uma questão de segurança contra infecções num hospital por exemplo. A checagem e rechecagem pode ser para prevenção de acidentes de trabalho ou num esporte radical por exemplo. Um médico cirurgião lava as mãos uma vez seguindo procedimentos e é metódico na execução, mas não compulsivo de lavar as mãos 10x por exemplo. O exagero na repetição inclusive é contraproducente e irracional.

Pode ter relação com TDAH? Pode. Um dos sintomas do TDAH é o hiper foco e TPOC pode ser hiper focado no trabalho. Outro sintoma é a inquietação e a necessidade de atividade mental ou física constante. Isso acontece com TDAH e TPOC.

Pode ter relação com espectro autista? Pode. A principal intersecção está na racionalização do emocional, em crenças muito rígidas e regras. A descrição do espectro autista e também do TDAH, muita coisa tem semelhanças com todos os transtornos de personalidade. Se você for pesquisar mais fundo, até mesmo a esquizofrenia tem intersecção com os transtornos de personalidade.

Em tenho uma opinião pessoal de que o TPOC está relacionado de alguma forma com o borderline / limítrofe. Porque em muitos aspectos o TPOC parece uma espécie de hiper compensação à desordem e caos do(a) borderline. Se o(a) borderline é muito descontrolado e instável, o TPOC é exageradamente controlado e rígido. As emoções no(a) borderline variam muito entre um extremo e outro, positivo e negativo e são pessoas muito reativas. No TPOC variam pouco, são muito reprimidas e daí para quem vê de fora parece com uma frieza muito grande. De certa forma parece também uma antítese da personalidade antissocial, os vulgos psicopatas, porque entre os critérios do diagnóstico do antissocial está justamente o problema de não obedecer às regras e normas da sociedade. No TPOC a pessoa, ao contrário do antissocial, hipervaloriza as normas e regras em primeiro lugar sempre. Pode também ter relação com a personalidade narcisista. Porque imagino que pais narcisistas por exemplo. No excesso de controle, de imposições, de frieza e de cobranças. Qual a resposta? Se tornar uma pessoa que internaliza um excesso de controle, de cobrança, de ordem, que nunca são o bastante?

São pessoas que em alguns aspectos podem se confundir com um(a) narcisista. Pode ser narcisista ao mesmo tempo? Não sei dizer, mas que tem uma intersecção tem. Narcisista geralmente tem muito a ver com se sentir dominante, superior ou mais importante e isso vem acompanhado de grosserias, destratar ou ser mais explosivo. Tem manipulação e chantagens também. Obsessivo não necessariamente é grosseiro ou rude, tem mais a ver com preocupações com segurança, ética ou respeito e geralmente são muito ríspidos. Uma frieza no sentido de achar que as preocupações alheias deveriam ser como as deles(as).

Uma questão que liga antissocial, histriônico, borderline, narcisista e obsessivo compulsivo é que há muita projeção, dissonância cognitiva e um foco muito grande nas próprias convicções e crenças. Muito disso inclusive não é racional e consciente, mas em grande parte inconsciente e quase automático. Procure pelas definições de projeção, dissonância cognitiva, crenças e valores porque aqui não vai ter espaço senão fica muito grande.

Nota importante: Essas pessoas podem cometer crimes ou apresentarem mau comportamento? Se você pesquisar a descrição do TPOC pode ter a impressão de que essas pessoas são parecidas com padres ou freiras. Como se fossem pessoas altamente religiosas e super rígidas com regras e segurança. Assim como a personalidade antissocial não necessariamente é sinônimo de criminosos desprezíveis. A personalidade obsessivo compulsiva não necessariamente significa que são pessoas que nunca fariam o mal ou nunca cometeriam erros. Um transtorno de personalidade por si só não é o que define a pessoa como sendo boa ou má. Moral, certo e errado. Essas coisas podem ser distorcidas nas mentes tanto do TPOC quanto do TPAS. Mesmo pessoas que não se enquadrem num transtorno de personalidade podem ter crenças e valores distorcidos.

Relacionamentos

Os relacionamentos são mais frios ou distantes tanto para narcisistas quanto obsessivo compulsivo. No caso narcisista a descrição de uma família inclui o aspecto de que o amor era sempre condicionado. A descrição de um(a) narcisista diz que a pessoa trata relacionamentos como se fosse um comércio. O mesmo vale para antissocial. Como se fosse compra e venda e que um(a) narcisista sempre tem que ter mais ganhos do que perdas. Então a pessoa pode fazer algo pelo outro desde que veja vantagem, ganhos ou ache que o outro mereça. Por outro lado, a pessoa sempre se acha merecedora ou que tem todos os direitos, mesmo que não faça nada para merecer ou muito menos do que deveria. Obsessivo compulsivo muitas vezes se parece com isso porque aprendeu que sempre existem regras, normas.

A diferença é que um obsessivo compulsivo pode ter uma preocupação genuína com bem-estar, segurança ou afeto pelo outro, mas sempre condicionado às regras ou normas. Um(a) narcisista está preocupado primeiro com o próprio bem-estar, com a própria segurança ou com receber sempre mais do que dá. O obsessivo compulsivo pode até chegar num extremo de se preocupar exageradamente com segurança e bem-estar alheios mais do que com si mesmo, o que acaba parecendo um(a) borderline nessa entrega excessiva.

Um exemplo: um(a) narcisista pode pensar que amor é dar um presente muito caro e luxuoso, porque aprendeu na vida que o amor é um objeto que se quantifica com dinheiro. Um(a) borderline também pode pensar no amor em termos de dar e receber presentes, objetos. Um obsessivo compulsivo também pode dar um presente caro, mas porque aprendeu que se não for assim vai faltar com respeito ou com ética. Um antissocial nem preocupado com amor está, só está interessado no que ganha com aquilo ou com a utilidade.

A personalidade antissocial e psicopatas também tem relacionamentos mais frios. Mas entra um elemento de controle abusivo e coercitivo. Psicopatas podem não só invalidar os sentimentos como um(a) narcisista faria, mas também ameaçar e agredir. Por ex: um(a) filho(a) é proibido de chorar porque o psicopata rejeita emocional frágil e faz ameaças. Um obsessivo compulsivo minimizaria o choro. Diria algo como "isso é bobagem" ou "isso passa". Existe sim a preocupação com o sentimento, mas sempre associada a uma racionalização. Pode ser uma cultura onde chorar é visto como inadequado por algum motivo qualquer. Um(a) narcisista invalida dizendo coisas como "você é fraco(a)", "você é idiota" ou "você é uma vergonha". Isso tudo é reflexo do interior do próprio narcisista.

O elemento comum entre o obsessivo compulsivo, borderline, narcisista e antissocial é o controle. Mas as motivações e a expressão desse controle são diferentes para cada um. O obsessivo compulsivo é mais movido às regras, ética e moral. O narcisista se vê como padrão e quer tudo do seu jeito, sente-se ameaçado pelos outros. O psicopata se sente acima das leis, acima de todos e com poder sobre a vida alheia. Um(a) borderline também pode ser visto como controlador(a), mas aí a motivação é o emocional desregulado e muitos gatilhos porque são pessoas exageradamente reativas.

Faltou o histriônico: pela descrição do que é histriônico, o relacionamento para um tem semelhanças com borderline e narcisista. Borderline por causa das emoções, que fazem um(a) histriônico(a) ser dramático(a), escandaloso(a) ou teatral. Tem um elemento de controle parecido com o narcisista, porque quer receber muito mais atenção do que os outros. Parece contraditório uma superficialidade combinada com emoções intensas. Mas isso acontece porque a pessoa recebe muito mais do que dá e não está muito preocupada com os sentimentos do outro.

Ver relacionamentos como trocas comerciais ou negociações não é necessariamente errado, afinal o mundo é feito de trocas entre pessoas. Avaliar todo relacionamento em função de regras rígidas, ética e moral também não é o ideal. O problema desses transtornos é que sempre geram problemas pelo exagero ou falta de regras. Pelo exagero na ética e na moral ou pela ausência destas. São relacionamentos muito disfuncionais pelo desequilíbrio entre as partes e dentro da pessoa em si mesma.

Emocional

São pessoas egoístas? Pode parecer o egoísmo de um(a) narcisista, mas é diferente. Narcisista tem mais a ver com se preocupar sempre com o próprio ego. Tudo tem que servir aos propósitos e desejos de si mesmo. Um(a) narcisista vê egoísmo nos outros, mas não em si mesmo. Obsessivo compulsivo é mais uma projeção de preocupações com segurança, ética ou respeito. Porque aprenderam que isso é o mais importante e pensam que assim deve ser para todos por perto. Um(a) borderline também pode apresentar egoísmo de maneira semelhante, pelas projeções que faz nos outros também. A diferença está na maneira de se expressar e nas motivações por trás.

O amor para um(a) narcisista é sempre no sentido de que o mundo inteiro deveria satisfazer às suas vontades, como se fosse sempre obrigação dos outros fazer o que um(a) narcisista quer. Um(a) narcisista te dar algo ou fazer algo por você é como se fosse um presente divino, uma coisa única que ninguém mais faria. Obsessivo compulsivo o amor se confunde com um excesso de zelo, se preocupar demais com corretude, eficiência ou segurança. Acho que uma diferença aqui é que um(a) narcisista pode delegar tarefas, incluindo aí explorar os outros. O mesmo para antissocial. Um obsessivo não costuma delegar, porque quer ter o controle por si mesmo ou porque não confia em padrões que não sejam os próprios. O(A) dependente não confia em si de tal forma que delega decisões aos outros por uma insegurança extrema.

Obsessivo compulsivo tem relação com muita autocobrança. Se cobrar com padrões de ética, moral e educação que muitas vezes são acima da média. Não é a mesma coisa que um(a) narcisista que se vê como superior ou como um padrão em si mesmo. Essa autocobrança costuma se projetar para fora, querendo que os outros façam como ele(a). Nesse ponto que narcisista e obsessivo compulsivo podem se confundir. Porque parece uma frieza, uma imposição de cima para baixo. Digamos que a figura de um ditador ou a mentalidade do exército caberia aqui. Narcisista costuma menosprezar os outros ou invalidar mesmo. Obsessivo compulsivo não é que menospreza, mas tem uma postura muito julgadora ou crítica.

Por exemplo: obsessivo compulsivo pode se preocupar com as roupas e regras de etiqueta de todos numa festa. Pode também achar que um show de comédia é idiotice ou futilidade, que seria melhor estar trabalhando ou estudando. Um(a) narcisista pode cobrar dos outros, mas existe uma forte dissonância cognitiva e até uma hipocrisia descarada de cobrar, mas dar o exemplo todo errado ou nem mesmo fazer o que diz que faz. Também existe dissonância cognitiva no obsessivo compulsivo, mas é porque aí a pessoa é rígida com um padrão e só aceita aquele padrão mesmo. Por exemplo: o que ela aceita como regra de etiqueta inclui uma forma de cumprimentar, de fazer, de obedecer, que é muito antiquada ou rígida comparada com outras pessoas e culturas.

Li um pouco sobre personalidade esquiva ou evitativa e, curiosamente, muitas pessoas relatam um ambiente de cobrança ou críticas demais na infância. Ou seja, a personalidade esquiva também tem alguma relação com as exigências impostas pela obsessivo compulsiva ou narcisista. A descrição do emocional do(a) borderline inclui muita culpa e autocobrança, mas muito ligada à sentimentos de inferiorização, vergonha, inadequação e insuficiência. Então todos os citados transtornos de personalidade têm alguma relação entre si nas suas origens.

Um comentário quanto ao caso da personalidade dependente: obsessivo compulsivo costuma assumir responsabilidades de tudo, chegando ao exagero de assumir responsabilidades demais. Dependente é o extremo oposto. Joga as responsabilidades o máximo que conseguir para os outros. Enquanto uma quer cuidar de tudo por conta própria, a outra não quer cuidar de nada, preferindo que os outros cuidem de tudo. Agora é possível dizer que uma seria a causa ou a consequência da outra? Não, depende de muito mais fatores.

Tem uma questão de vazio existencial nos transtornos de personalidade em geral e isso se manifesta de diferentes formas. Obsessivo compulsivo tem uma devoção ao trabalho tal que vida é o trabalho. São pessoas que se sobrecarregam de trabalhar. Narcisistas precisa de muita validação e pode ser uma pessoa que quer ter a devoção dos outros por ex. Borderline tem muito medo do abandono ou da rejeição e pode ter atitudes extremas, que para ele(a) são uma devoção, uma entrega pelo outro. Uma visão muito distorcida e extrema do que é amor. Personalidade dependente tem uma carência no sentido de depender dos outros para tudo, como se fossem incapazes de viverem e tomarem decisões sozinhos(as). Personalidade antissocial costuma buscar prazer imediato e isso pode se confundir com TDAH. A busca pela excitação imediata, que seja mentindo ou provocando o caos por ex.

Sobre o histriônico: pela descrição são pessoas intensas e superficiais. Como assim? Valorizam demais o erótico, sensual, um contato físico, uma atração pelo outro e isso parece borderline e também narcisista. Porque é uma busca por validação ou por preencher um vazio existencial. Uma necessidade de estar acompanhado(a). É intenso pela atração e pela dramatização ou teatralidade. Mas é superficial ao mesmo tempo porque não passa de aparência, de querer mais do outro e não retribuir com quase nada.

Razão vs. emoção

A questão da racionalidade versus emocional tem semelhanças entre obsessivo compulsivo e narcisista. É por causa do controle. Um obsessivo compulsivo pode valorizar atitudes práticas ou resultados finais. Não porque despreza o emocional, mas porque prefere a objetividade sobre a subjetividade. Por exemplo: economizar tempo ou dinheiro. Mas isso a custo, um sacrifício e que muitas vezes é irracional. Assim uma reforma de um espaço para festas por exemplo pode ficar para depois de se juntar o dinheiro. Mas a pessoa não é flexível para pensar se a reforma precisa mesmo ser feita toda de uma vez ou se o pagamento precisa ser todo de uma vez. Às vezes nessa inflexibilidade ou visão muito estreita dos problemas a pessoa está é perdendo tempo ou dinheiro, porque poderia resolver de outra forma.

Essa visão muito focada em resultados finais acaba atropelando o processo até chegar lá e também o emocional, porque pode ser que a pessoa fique tão focada num ganho futuro que ela não veja que no presente os prejuízos estão se acumulando por exemplo. Um(a) narcisista pode ter algo bem parecido, de imaginar ganhos futuros que nunca são alcançados porque vive numa fantasia. Uma idealização e não vê problemas em si mesmo. Um(a) narcisista pode se ver como uma pessoa pragmática, mas isso por falhas cognitivas e por desprezar o emocional. Muito disso é o auto-gaslighting. Antissocial costuma ter uma visão de alcançar resultados mesmo que isso signifique passar por cima dos outros e é aí que costumam cometer erros, porque a impulsividade os faz ter uma visão mais estreita dos problemas. Podem ser pessoas que buscam os ganhos mais imediatos e rápidos, mas nem sempre.

Outro ponto semelhante no emocional de narcisistas, antissociais, obsessivo compulsivo e também o(a) borderline é a necessidade de controlar o emocional por meios externos. Um obsessivo compulsivo pode se sentir ansioso na espera de algo ou irritado(a) e daí busca descarregar isso numa atividade como trabalhar mais, estudar mais, algo que exija dedicação ou concentração e esforço. Um(a) narcisista costuma descarregar o emocional negativo em cima dos outros. Daí vem os relacionamentos tóxicos, abusos e uma tentativa de controlar os outros como se os outros fossem culpados por qualquer coisa ruim que aconteça com o(a) narcisista. É típico dos(as) narcisistas querer se eximir da culpa. Podem buscar muitos eventos e festas como forma de buscar validação por exemplo, como se fosse um vício em drogas para compensar aquele vazio existencial e tentar se livrar das emoções negativas. Um borderline pode se "viciar" numa pessoa, num relacionamento, como se precisasse do outro para controlar o caos emocional que vivenciam constantemente.

O que tenho a impressão é que tem variação na apresentação e no temperamento. Pessoas com personalidade obsessiva podem ser mais temperamentais ou não, mais irritadas ou não, com uma ansiedade mais explícita ou mais reprimida, mais apressadas ou não, mais antipáticas ou não. Um(a) narcisista ou obsessivo compulsivo também não necessariamente é impositivo e autoritário, pode se apresentar mais distante e ausente. Outra coisa é que é difícil imaginar uma pessoa com um transtorno de personalidade sozinha, sem nenhuma outra comorbidade. Entram problemas de cansaço, fadiga, insônia, lesões, falhas de memória, falhas de concentração, ansiedade, depressão, fobias, manias, cognição, etc. Porque tem muitos hábitos e comportamentos que são ruins para a saúde, mas a pessoa não para muito para pensar sobre ou mesmo justifica de alguma forma.

A busca por fatores externos para controlar o emocional. Por exemplo assistindo filmes, séries, viajando, indo atrás de pessoas para se relacionar ou simplesmente estar acompanhado, músicas, trabalhos diversos, etc. Tudo isso é normal em qualquer pessoa. No caso de transtorno de personalidade é o exagero, que chega a ser muito parecido com o vício em drogas.

Quanto ao caso histriônico. É mais parecido com o borderline por racionalizar pouco ou nada. Um narcisista costuma racionalizar mais. É o oposto do obsessivo compulsivo que racionaliza até demais. Se você pesquisar a descrição, erotização e sedução é quase puramente emocional. O psicopata também pode seduzir e ser dramático ou teatral, mas neste caso é mais calculado e intencional. O histriônico é mais irracional e instinto.

Essas pessoas reconhecem o emocional? Podem reconhecer em partes. Mas todos os transtornos de personalidade dizem respeito a falhas no reconhecimento das emoções e na expressão das mesmas. Além de associações emocionais distorcidas, como por exemplo associar amor à sofrimento ou dor à prazer. Isso inclusive é também uma das características do estresse pós-traumático e existem teses de que os transtornos de personalidade poderiam ser interpretados como casos extremos de estresse pós-traumático.

Comportamentos

São pessoas preconceituosas? Tem uma semelhança sim. Como são pessoas com regras e condutas rígidas e que criticam e julgam muito. Um obsessivo compulsivo pode separar as pessoas entre éticas e antiéticas, morais e imorais segundo critérios como roupas, condutas, modo de falar. Por ex: só se casaria com outra pessoa da mesma religião ou que se vista de uma certa forma. Pode obrigar um(a) filho(a) a seguir esses mesmos padrões por ex. A descrição da personalidade narcisista inclui auto centramento, egoísmo, insegurança. São pessoas que tendem a menosprezar, ver os outros como inferiores. Seria mais do que uma simples rejeição. Um ponto de intersecção aqui seria que ambas as personalidades têm uma forte tendência à comparação das pessoas segundo critérios de si mesmo. Todos os transtornos de personalidade incluem muitos vieses cognitivos e o preconceito começa com vieses.

Tanto o narcisista quanto o obsessivo teimam em manter os mesmos comportamentos e crenças. Porque para uma pessoa assim o certo é ela mesma. Mesmo quando a realidade se mostra diferente, quando não conseguem os resultados desejados, é muito difícil para ambos ver um problema em si mesmo. Podem parecer a mesma coisa para quem vê de fora porque ambos podem ter um comportamento inescrupuloso de impor muito e cobrar muito. O que muda são os sentimentos internos, aí é que está a grande diferença entre um e outro. Um obsessivo compulsivo pode ter um excesso de sentimento de culpa pelo excesso de autocobrança. Já um(a) narcisista tenderia a achar que todos estão contra si e pode até beirar a paranoia de achar que há uma conspiração contra si mesmo.

Acho que uma diferença importante entre narcisista e obsessivo compulsivo é a questão da imagem. Um antissocial não costuma ter preocupação com vergonha e autoimagem. Já um(a) borderline tem muita preocupação e é muito instável, variando muito entre extremos positivos e negativos. Narcisista tem muita preocupação com a imagem de si, porque tudo gira em torno de aparências e validação externa. Obsessivo compulsivo não costuma se preocupar com ser elogiado(a), com receber atenção ou subir num pedestal como um(a) narcisista faria. Narcisismo está muito relacionado com ego frágil e vergonha. Obsessivo compulsivo é mais parecido com uma indiferença para com sentimentos alheios por causa da rigidez com padrões e normas.

Por exemplo: um obsessivo compulsivo pode ter uma grande preocupação com realizar um trabalho impecável, mas por causa de uma autocobrança exagerada incluindo medo de ser criticado ou repreendido. Não por uma questão de imagem de pessoa impecável ou para ser aplaudido, que seria mais parecido com o(a) narcisista.

Quanto ao histriônico. Muito da descrição dá a entender que são pessoas presas na infância e adolescência, o que também pode descrever borderline, narcisista e antissocial. Mas é mais no sentido de chamar a atenção para si de maneira muito exagerada. Uma carência afetiva bem pronunciada e com comportamentos muito superficiais, artificiais, de se comportar de maneira muito chamativa. Ou então de falar com palavras que exageram o emocional, seja positivo ou negativo.

No que tange à dissonância cognitiva também é notável que os comportamentos não condizem com os pensamentos. Um obsessivo compulsivo pode prezar no seu discurso por muita economia ou por segurança por exemplo. Mas por conta de muitos vieses cognitivos, outras pessoas notam como aquelas decisões e comportamentos não estão condizentes com a pregada economia ou segurança. O problema é que a pessoa hipervaloriza detalhes, tem crenças muito conservadoras e o que ela acha que vai gerar economia ou segurança, numa visão mais ampla podem até gerar mais insegurança ou mais gastos. Mas a pessoa é teimosa e insiste naquela maneira de agir e de pensar.

No caso de um(a) narcisista ou antissocial essa incongruência costuma estar muito associada à falsidade. A pessoa pode ter um discurso de ajudar os pobres por exemplo, mas é uma fachada. Nos relacionamentos familiares e íntimos ela mostra uma face de desprezo, descrédito, faz pouco caso ou mesmo humilha e faz graça de sofrimento alheio. Essa característica de falta de sincronia entre pensar e agir é inclusive uma das mais importantes que definem todos os transtornos de personalidade.

Uma pequena nota quanto à manipulação: nem sempre a manipulação é calculada e intencional. É um erro atribuir toda a manipulação à uma decisão consciente e racional. Isso não apenas para transtornos, psicopatas e narcisistas. Tem sim um elemento de irracionalidade e emocional envolvido e que pesa muito. Digo isto porque essa visão cinematográfica de que psicopatas são gênios do mal é muito distorcida e romantizada.

Um exemplo hipotético de pais e filhos(as)

Digamos que um pai ou mãe quer o(a) filho(a) estudando música. Obsessivo compulsivo cobra muito rigor e adesão às regras, padrões. A justificativa pode ser algo cultural, como uma família onde para ser bem-sucedido há de ser sempre o(a) melhor. Uma questão de honra por ex. Quem sabe uma questão de segurança para evitar um possível fracasso por ex. Se for narcisista pode ser que o discurso seja esse de honra, mas as exigências são mais uma projeção de sonhos que o pai ou a mãe joga em cima desse(a) filho(a). Como se fosse uma obrigação fazer o pai ou a mãe feliz. Há um controle sobre o(a) filho(a) para que o(a) filho(a) não seja diferente do pai ou da mãe.

Se fosse pai ou mãe psicopata aí entra tortura e muita raiva. É mais do que controle, começa a aparecer muita violência e até um sadismo por fazer maldades. É mais parecido com escravidão. Psicopata vê filho(a) como objeto. No caso borderline pode haver algo como "se você gostar de outro tipo de música diferente do meu você não me ama mais" ou algo do tipo "se você não estudar música vou te perder, você vai me deixar sozinho(a)". As preocupações de um(a) borderline podem ser exageradas ao ponto de parecer uma paranoia ou ciúmes doentio, com rupturas da realidade.

Outra situação hipotética é com relação à comida ou vestimentas. Pais obsessivo compulsivos podem controlar escolhas de comida por um excesso de preocupação com nutrientes, com o custo da comida, com o lugar onde se come, com a qualidade, com a origem da comida. Um exagero de preocupação com ficar gripado, com passar frio ou mesmo com se machucar. Ou seguem um padrão muito rígido, que pode ser até preconceituoso, de escolha de cores ou estilos da moda no quesito vestimentas. No fundo isso não é interpretado por eles como controle, mas como zelo.

Borderline pode ser muito parecido neste aspecto porque um dos comportamentos descritos é dar presentes em demasia, o que inclui presentes que dizem respeito às preferências e gostos pessoais dos pais, não do filho(a). O emocional desregulado do borderline cria preocupações muito desconectadas da realidade. Muito disso é explicado por projeção. Narcisistas também podem fazer semelhante, mas aí é uma questão de imposição, controle e cerceamento de liberdade individual. Já entra um elemento de invalidação, como se fosse obrigação do filho(a) seguir os mesmos padrões dos pais. Pode ser uma questão de imagem e ideologias, como manter uma aparência pública de família ideal que segue estes ou aqueles princípios. Antissocial pode levar esta questão da falsa imagem pública a um grau extremo, se é uma fachada para esconder crimes por exemplo.

Um exemplo claro de dissonância cognitiva nessa relação familiar é quando há muita contradição entre comportamento, atitudes e discurso. Assim, no caso obsessivo compulsivo, pode haver um discurso de que o(a) filho(a) deva ser independente. Mas isso se choca com o excesso de zelo. Os pais querem que o(a) filho(a) volte sozinho da escola, mas ao mesmo tempo estão excessivamente preocupados com como o(a) filho(a) volta. Podem querer trazer de volta de carro. Narcisistas podem criticar em excesso, dizendo o(a) filho(a) só causa dor de cabeça. Mas ao mesmo tempo querem controlar todas as escolhas e comportamentos. Podem dizer que não tem tempo para cuidar, mas ao mesmo tempo monitoram todos os passos ou fazem questão de dizer o que fazer e quando fazer o tempo todo. Borderline pode acontecer algo como criticar que o(a) filho(a) faz muito escândalo quando são os pais que estão criando os escândalos por si mesmos. Fica uma contradição irracional entre falar uma coisa e fazer outra.

Em todos os casos um elemento comum é um sentimento do(a) filho de nunca ser suficiente, de ser rejeitado(a) ou muito não reconhecimento. Também costuma haver muito sentimento de culpa, de responsabilização por problemas que não são causados pelo filho(a) mas pode ser que os pais se manifestem com essa projeção de culpa de maneira mais explícita ou implícita.

Como diferenciar um caso de outro? Eu diria que o ponto são as motivações por trás dos comportamentos. Em qualquer caso o importante é frisar que quase sempre há um descompasso entre os pais pensarem que estão fazendo algo, mas que na prática não é bem isso. Não existe um padrão universal ou o correto de carinho e afeto. Há variações. O problema dos transtornos é o exagero ou a total ausência. A própria crença rígida num padrão universal ou correto de carinho e afeto já é indicativo de alguma distorção cognitiva.

O que fazer? Não sei dizer. Não tenho a resposta. Mas fica de alerta. Pessoas assim numa família ou ambiente de trabalho são muito difíceis de estar por perto. Também vale reforçar que todas as características aqui descritas não são exclusivas de um ou outro diagnóstico e podem estar presentes em algum grau mesmo sem todas as outras características. Os transtornos em si também sempre têm alguma sobreposição entre os diferentes casos.

Lista de características do TPOC

  • São pessoas que prezam muito por regras e controle e não veem nada de errado nisso;

  • Preocupações exageradas com rigor, forma ou métodos. A hora certa, o jeito certo, o lugar certo;

  • Uma diferença sutil seria que um(a) obsessivo compulsivo diria "eu sigo a ética correta" ou "eu obedeço à valores morais certos". Um(a) narcisista diria "eu sou melhor ou eu tenho mais valor do que você" ou ainda "eu mereço mais do que você". A grande diferença está na motivação por trás da frase e nas intenções para dizer o que diz;

  • Preocupações exageradas com vestimentas, forma de cumprimentar, forma de falar, forma de se apresentar, com linguagem, com lugares, com horários, com desempenho, com organização, com leitura, com forma de escrever, com limpeza, com comidas;

  • São pessoas com padrões de moral ou ética muito fixos. Costumam julgar ou criticar demais os outros em função disso. Os outros são vistos como antiéticos, imorais, mal-educados, malcomportados, ineficientes ou desorganizados. Pode ter relação com uma religiosidade muito forte ou não. Um(a) narcisista pode ter um discurso de ética e moral, mas o comportamento é completamente destoante da fala;

  • Costumam ser pessoas muito imperativas ou duras. Mas isso é diferente da antipatia, má educação ou mau caratismo;

  • Ironicamente o excesso de zelo se transforma num problema de desorganização pelo excesso de preocupações com detalhes;

  • O controle se entende ao emocional. Como por exemplo não poder sorrir desse jeito ou não poder fazer cara feia daquele jeito. Tem muita racionalização. Obsessivo compulsivo pode ser algo como "não pode dar risada porque é feio ou porque é falta de educação". Enquanto um(a) narcisista é mais no sentido de inversão de culpa, gaslighting, sempre buscando fatores externos para justificar o que a pessoa sente de ruim. Um(a) narcisista diria algo como "Você está rindo porque quer me humilhar" ou então "Você não tem direito de rir, eu é que tenho";

  • São pessoas que costumam tratar tudo em função de trabalho. O lazer tem que ser regulado como um trabalho. As relações pessoais são vistas como trabalho, com formalismos que muitas vezes não são necessários;

  • São pessoas que costumam precisar trabalhar o tempo todo, como se a vida fosse trabalhar ininterruptamente;

  • São pessoas com uma preocupação fora do comum com economia. Seja economia de tempo, dinheiro ou espaço. Fica muito acima da média mesmo;

  • É pelo excesso que costuma ficar claro que não economizam tanto quanto pensam que fazem. Inclusive chega ser irracional o desperdício que elas próprias não percebem;

  • Borderline costuma viver entre extremos de amor e ódio, vendo as pessoas como amores perfeitos ou como inimigos velados. Heróis x Vilões;

  • O obsessivo compulsivo tem algo nesse sentido, ou algo está certo ou errado. Não existe meio termo;

  • São pessoas com uma obsessão por resultados. Mas é contraditório, porque a preocupação futura e que gera ansiedade acaba fazendo a pessoa não ver que está desorganizada ou perdida em detalhes sobre como fazer, o modo correto de fazer ou o modo mais eficiente. No fim o resultado não é alcançado e fica ainda mais distante;

  • Uma característica do narcisista é que a validação tem que ser constante e nunca é validação suficiente. Um(a) narcisista quer mais validação do que pode conseguir. Tem algo semelhante no obsessivo compulsivo no sentido de querer controlar mais do que consegue e resultados que nunca são suficientes;

  • Narcisista e obsessivo compulsivo costumam ter muita cobrança. Cobra e nunca fica satisfeito(a). Exige mais. São pessoas praticamente impossíveis de agradar porque nunca é o bastante. Borderline pode ser tão inseguro que qualquer pequeno detalhe pode ser visto como uma suspeita de que você não o(a) quer mais e isso pode significar cobranças também.

Referências (inglês)

Referências (português)