Tente o modo errado primeiro

From Henry's personal library

Isto é contra-intuitivo. Muitas vezes você tem mais de uma possível solução para um certo problema. Uma solução possui uma probabilidade maior de funcionar, digamos 80%. A outra tem uma probabilidade menor, digamos 20%. Sam diz que às vezes buscar a solução que intuitivamente não deveria funcionar pode nos levar a terrenos inesperados e que isso é bom. Às vezes o inesperado é um resultado positivo. O desenvolvimento é um processo iterativo afinal, não é? Sempre há espaço para cometer erros e é isso que Sam está dizendo. Mark Rosewater compartilha uma visão semelhante. Ambos dizem que não assumir riscos é uma ameaça maior do que se permitir correr riscos.


Eu tenho um wiki de matemática e uma das minhas crenças pessoais é que o modo com que a matemática é ensinada na escola e na faculdade é errado. O erro é que as pessoas são condicionais a acreditarem que respostas erradas não tem valor, enquanto a matemática se esforça para estar certa o tempo todo. As pessoas são ensinadas que devem se importar com aquilo que está certo, porque cálculos errados estão errados e devem ser descartados. Isso deixa as pessoas com meias respostas porque quando uma resposta está errada nunca há espaço para questioná-la. Por que está errado? Na maioria das vezes a resposta dada é "porque está errada". Quando uma empresa faz um jogo e ele não funciona, deve haver alguma resposta melhor do que "porque os jogadores não compraram o jogo". Eu li dezenas de artigos publicados pelos caras da Wizards sobre a criação de cartas e com o tempo você começa a notar que há uma verdade que é profundamente enraizada na realidade. Os erros são erros porque eles aconteceram em primeiro lugar. Um erro não pode existir se nunca aconteceu. Como você pode saber se algo está certo ou errado sem tentar primeiro?

O que Sam discute sobre tentar o modo errado primeiro é fundamentado em viés cognitivo. Tem alguma coisa no cérebro de todos que sempre acontece. Quando as pessoas têm escolhas possíveis, a escolha mais segura sempre é a preferida. Eu não tenho conhecimento sobre viés cognitivo, exceto que o viés cognitivo é uma das coisas que explica por que algumas pessoas assumem riscos e outras não. Por que algumas pessoas são mais propensas a fazer isto ou aquilo nesta ou naquela condição. Eu poderia dizer que se uma empresa vai fazer um jogo. Qual é a opção mais provável: opção A, um jogo para um gênero que está crescendo rapidamente e atraindo mais e mais jogadores; opção B, um jogo para um gênero que está sendo esquecido, com poucos jogadores ainda jogando. Por todas as razões de sã consciência que alguém poderia pensar, a opção A seria a primeira a ser escolhida. Enquanto a opção B seria considerada ruim.

Pode isto se relacionar com design de níveis? Sim. Imagine que você é bom na criação de níveis realistas baseados em cidades, prédios comerciais, sistemas de metrô, fazendas, vilarejos antigos, etc. Mas não é bom com níveis abstratos baseados em mundos de fantasia ou outras dimensões. Se você fosse começar um projeto agora mesmo, qual dos dois tipos de nível você estaria mais inclinado a escolher? Provavelmente o mais seguro, o realista. Porque você está confortável com ele. Indo um pouco mais longe, imagine que alguém queira se desafiar. Forçando os próprios limites até o máximo. Algumas pessoas querem se desafiar e sair da zona de conforto. Em casos extremos isto pode ser perigoso, como no caso de pessoas que constantemente se colocam em situações de risco ou de ameaça à vida. Em outros casos pode ser alguém que está se esforçando para ser original e está sempre apostando em opções inseguras, como por exemplo tentar construir níveis que ele ou ela nunca consegue completar por falta de habilidades. Infelizmente eu não posso dar nenhum conselho aqui sobre o que fazer em tais casos.

Eu diria que quanto mais experiência você tiver, melhores julgamentos você consegue fazer. Sam não está dizendo que as pessoas devem sempre tentar o modo errado primeiro. Não, ele não está afirmando que esta é a regra. Ele está falando sobre o valor que muitas vezes é ignorado em nunca tentar coisas que não sejam as mais seguras. Sempre escolher o seguro tem um risco invisível. Esta é a sua lição.