O que é música boa?

From Henry's personal library
Mr. Holland's Opus - Uma aula de música que funciona

Eu acho que achei uma definição do que é uma música boa. A música está presente em todas as culturas. É uma língua que todos podem aprender e “falar”. A música boa é aquela que consegue transmitir uma mensagem. A música ruim é a música que fracassa em transmitir uma mensagem.

Por muito tempo na minha vida eu evitei a música. Por quê? Depois de aprender sobre o narcisismo e os transtornos de personalidade, eu descobri que o motivo era preconceito. Em toda escola e todo grupo de pessoas você encontra uma diversidade de gostos musicais. Há milhares de estilos musicais pelo mundo. Eu não recusava todo e qualquer tipo de música, mas evitava qualquer discussão musical e expor minha opinião a qualquer custo. Na escola é normal as pessoas se sentirem atraídas por este ou aquele tipo de música e isso pode tanto formar grupos e amizades como criar divisões entre as pessoas. Acho que sem perceber eu evitava a música para evitar opiniões contrárias de pessoas que não fossem parte do mesmo grupo que gosta de um mesmo tipo de música. De alguma forma, na minha cabeça, eu tinha uma crença de que para evitar estereótipos e a música tem muitos deles, a solução era não fazer parte de nenhum grupo de tal forma que não evitaria todos os estereótipos. Quais? Música brega, de rico, de pobre, de menina, de menino, de perdedor, deste gênero ou daquele outro, de velho, e por aí vai.

Não lembro quando, mas foi na rádio CBN e com a Fabíola Cidral. Um programa que tinha uma pessoa comentando que “funk” é um tipo de música no Brasil comumente associado com violência e crimes, gírias sexuais, palavrões. É um reflexo da realidade da pessoa que vive aquilo e isso se manifesta na música. Você não pode banir palavras ou temas porque não estamos mais na ditadura e a censura não é mais aceita. Pelo mundo afora, a maioria dos países não vive mais uma ditadura.

Um rápido comentário aqui: Eu tive uma professora de inglês e numa aula teve um exercício que era um dos mais comuns, cada um escolher uma música e levar para a aula para discutir a letra e assim aprender inglês. Uma das formas mais comuns de ensinar um idioma. Naquela aula ela disse que a maioria das músicas de Metal Pesado carrega um peso que a maioria das pessoas não reconhece. A maioria das pessoas não reconhece que as letras carregam muito mais peso do que aparentam. Mais de uma década depois, eu estava numa festa de aniversário de um colega de turma da escola. Ele me disse que em bandas de metal e rock sempre tem brigas (ele foi membro de uma banda por anos). Do lado estava o primo dele e esse primo disse que a maioria das pessoas não acreditaria em como esse colega meu da escola era diferente. Muito mais agressivo e rebelde. O que impediu esse colega de se perder na vida foi o primo. Uma coisa que esse colega me disse me pegou de surpresa: “Alguns caras usam cocaína, mas eu não. Ela ferra com a sua cabeça. Não é legal”. O que a música e as drogas têm em comum? Emoções fortes! Mas isso já é assunto para uma outra discussão fora desta página.

André Rieu é muito criticado por estragar a música clássica. Ou quem sabe, por se auto-proclamar um músico clássico sem o ser. Há uma classe de puristas que não querem “contaminar” a música clássica e o que o Andre Rieu promove com a sua orquestra deturpa a música clássica. Por outro lado, os músicos pop também criticam que a orquestra do André Rieu mistura músicas opostas e distintas. Um dos pontos que membros da orquestra dele sustentam é que os críticos não têm a mesma fama que a orquestra conseguiu. Concordo aqui. A música precisa atingir um público e independentemente de qual seja o público. Sem público a música morre. Não estou discutindo se o tamanho do público significa música de melhor qualidade ou não. Não é esse o ponto.

O ponto que quero discutir é que toda música transmite uma mensagem e quanto mais forte for o impacto desta mensagem no público, mais memorável e marcante a música é. O público pode ser pequeno ou grande, mas se a mensagem numa música foi transmitida, a música atingiu o seu objetivo. Que objetivo? Se a mensagem atingiu o público, então a música atingiu o seu objetivo. Se você ouvir as palavras de André Rieu e a sua música, a mensagem dele é que a música boa é aquela que toca nos sentimentos da pessoa. Eu diria que mesmo a música carregada de ódio e com letras de ódio. Cânticos num estádio de futebol, por exemplo. Conseguem transmitir uma mensagem e provocar reações emocionais fortes. Não estou apoiando músicas de ódio, mas apenas dizendo que as pessoas que apoiam este tipo de música tem algo em comum com as letras das mesmas. Para provocar, aqui vai uma pergunta: se torcedores de futebol escolhem músicas que transmitem ódio, porque não escolheram uma outra música sem ódio? Por que o ódio é mais poderoso do que outra coisa. Amor por exemplo? O que é mais forte: amar o próprio time ou odiar o adversário?

A política e os hinos nacionais são grandes exemplos de músicas que servem para transmitir mensagens. Mensagens de ódio, de amor, que cegam, que ensurdecem ou de esperança. No passado eu costumava criticar músicas sem entendê-las e nem ao menos parar para sentir aquela música em primeiro lugar. Eu acredito que julgar músicas sem ouví-las é preconceito. Como diz a expressão “Não se julga um livro pela capa”. Você ao menos se permitiu ler o livro além da capa? É isso que questiono: você entende o que você critica ou julga? Você pode não gostar de um certo tipo de música, mas pelo menos você entende a mensagem por trás daquela música? Indo mais fundo, você consegue reconhecer as emoções por trás da música e o que as emoções contam a respeito de quem fez aquela música? Não tenho uma resposta para isso, mas se o público vai atrás de um certo tipo de música e evita outro, tem algo sobre a sociedade nessa escolha.

Tudo isso que escrevi veio porque parei para pensar: “Que tipo de música eu escuto?” Na escola eu evitava prestar atenção nas músicas e em aprender com elas. Mas conforme envelheci comecei a procurar por músicas aos poucos e aprender mais sobre. Escuto músicas de filmes. Músicas do Japão, Irlanda, Austrália. Todos os países do mundo. Me lembrei de uma cena do filme “Mr. Holland Opus”, na qual Gleen Holland critica que algumas músicas por usarem apenas uma ou duas notas musicais. Seriam músicas rasas, em contraste com músicas clássicas que apresentam muito mais profundidade. Acho que muitas boybands e girlbands tocam músicas simplificadas desse tipo. Você não pode obrigar todo mundo a seguir uma única interpretação de música sem espaço para diferentes culturas e estilos. É por isso que concordo com o que o André Rieu diz sobre a música boa se aquela que toca no coração das pessoas. As celebridades podem fazer o mal ou podem ser narcisistas, malignas ou o que for, mas a música delas tem esta propriedade de atingir um público. Digo, mesmo músicas carregadas de ódio ou desprezo ainda contém uma mensagem e quem quer que tenha produzido aquela música tinha algo a dizer. Por um longo período eu estava surdo em termos, me proibindo dos prazeres da música e isso teve muitas implicações graves.

Um último comentário: André Rieu comenta que é alvo de mulheres que o perseguem por toda parte, algo que é comum de acontecer com celebridades. O que me chamou a atenção é que ele disse que muitas mulheres jogam calcinhas no palco das apresentações. Como eu escrevi muito sobre saúde mental e transtornos de personalidade. É possível comparar as apresentações luxuosas, grandiosas e com vestidos coloridos da orquestra do André com a personalidade histriônica? Sim, mas cuidado com o preconceito e viés! Não dá para sair afirmando que o público-alvo do André é histriônico, que as mulheres que jogam calcinhas no palco são histriônicas ou que a orquestra tem membros histriônicos. Ou mesmo que a música que ele produz é histriônica por ser chamativa, mas ao mesmo tempo rasa e sem profundidade como dizem os críticos. O André diz que precisou de terapia porque o relacionamento com pais sempre foi muito ruim até a morte deles, mas quanto disso tem relação com o espetáculo que ele produz eu não saberia dizer.

Referências (inglês)

Referências (português)