Limbo. O que esse jogo me ensinou?

From Henry's personal library
Fonte: https://theologygaming.com/review-limbo-stars/

Este adorável jogo me fez ter uma pequena reflexão. Neste jogo é esperado que o jogador vá falhar diversas vezes. Mas o design desse jogo é feito de uma forma que as mortes do jogador não são irritantes ou frustrantes. É divertido. As animações de morte são muito bacanas.

Resiliência x Teimosia x Persistência. Uma coisa que sempre aconteceu comigo em diversos jogos. Morrer e tentar de novo. Muitas vezes eu tentava repetidas vezes por horas a fio até me irritar / cansar e desistir. Descansando um pouco conseguia passar por aquele trecho. Quem sabe vencer aquele obstáculo acontecia muito tempo depois. Isso também é muito comentado quando se trata de estudar matemática por exemplo. Às vezes um problema difícil requer descanso e não mais tentativas frustradas. Eu tive uma professora de cálculo que dizia que para resolver um problema difícil era preciso dormir. Não, o que ela queria dizer não era que você vai encontrar a resposta sonhando ou sonhos lúcidos. Ela falou sobre dar tempo para o seu cérebro descansar.

O que isso tem a ver com fazer um jogo? A pergunta é essa: quando você faz um jogo complicado ou difícil e espera que o jogador tenha muito trabalho para finalizar ou passar de algum desafio. Você está pensando naquele jogo em termos de persistência, teimosia ou resiliência? Eu não tenho formação ou nenhum estudo científico para me basear no momento desta mensagem. Mas se os jogadores estão desistindo do seu jogo, será que você não confundiu resiliência ou persistência com teimosia? Muitos jogos são exageradamente difíceis e isso pode ser culpa de falha nos testes ou pode ser intencional. Tem níveis e modificações por aí de diversos jogos que são feitos com a intenção de serem impossíveis. Alguns vídeos por aí contabilizam milhares de tentativas até conseguir passar ou mesmo as quebras de recorde de pontos ou de tempo num jogo. Por exemplo: procure por vídeos de níveis customizados para Super Mario que são feitos para serem praticamente impossíveis de completar. Quem busca esses recordes está sendo resiliente, persistente ou teimoso? Pessoalmente eu diria que se um jogador tenta muitas vezes quebrar um recorde, mas vai melhorando e procurando por técnicas para tal, isso é persistência e não teimosia. Agora se vai na sorte, na pura tentativa e erro, aí já é teimosia.

Jogadores teimosos tendem a insistir nos mesmos erros e a não valorizarem o descanso. Eu já fiz isso em muitos jogos e o resultado é que acaba se tornando muito mais difícil, dispendioso e demorado do que deveria. Há uma crença escondida aqui que é semelhante a "Tempo é dinheiro". É como se inconscientemente sentíssemos que se pararmos de tentar estaremos perdendo oportunidades e assim a solução ficaria cada vez mais distante. Ou então estamos apostando na sorte, de tal forma que se a probabilidade é de 1 em 300, temos que tentar 300 vezes até dar certo. O erro é que estamos pensando que se ficarmos parados não teremos nenhum progresso. Nossas mentes têm a capacidade de fazer projeções futuras e algumas pessoas são muito boas nisso, enquanto outras são péssimas. Isso tem uma correlação forte com vieses cognitivos, mas é um campo muito amplo que não vou entrar aqui. Podemos realizar progressos no espaço abstrato da imaginação. É importante destacar isso.

Nossas mentes são capazes de fazer conexões e associações entre diferentes coisas. Quando ficamos superfocados num detalhe ou num aspecto só e desconsideramos o resto. Tal estado mental nos impede de ter uma perspectiva mais ampla. O resultado é que perdemos esta capacidade de fazer conexões e associações. Andrew Willis, o matemático famoso que resolveu o Último Teorema de Fermat, disse que gostava de andar pela floresta para relaxar e pensar. Artur Ávila, o primeiro brasileiro a ganhar a Medalha Fields, deu uma entrevista na qual disse que para resolver problemas na matemática ele gosta de relaxar no sofá e olhar para o teto ou o céu. Quando estamos numa situação crítica de vida ou morte, nossas mentes procuram a solução mais imediata, a primeira que aparecer. Este tipo de pressão não funciona com jogos e estudar, porque não é natural. Quando estudamos para provas temos que nos permitir dar tempo para processar as informações. Eu diria que o mesmo conceito se aplica na psicologia e na recuperação de traumas. A chave é que o subconsciente está "trabalhando em segundo plano", enquanto estamos realizando alguma outra tarefa. É uma capacidade inata das nossas mentes e temos que nos dar tempo para se aproveitar dela. No lugar de martelar a cabeça repetidas vezes, dê um passo para trás e respire. Nossas mentes têm a capacidade de olhar para um problema e imaginar diferentes cenários e diferentes possibilidades. Tente fazê-lo.

Eu deixei resiliência e persistência por último e teimosia primeiro porque era melhor começar por identificar o problema e os erros. Persistência, resiliência e teimosia podem todos ter como sinônimo a insistência. Mas depende de como você insiste para saber diferenciar um do outro. Dificuldades, problemas e obstáculos são inerentes ao mundo. Não temos e nunca teremos controle sobre todas as diversas variáveis que afetam a vida. Uma confusão que já tive é a de pensar que resiliência e persistência são sinônimos de aguentar, de resistir ou até mesmo de ser mais paciente. Isso vale para estudar, para o vestibular e para jogos. Tentar passar no vestibular várias vezes não necessariamente é uma demonstração de persistência ou resiliência. Pode ser teimosia e insistência no erro ou em vários erros. Ninguém tem uma quantidade de energia infinita a ponto de nunca se cansar ou se desgastar. Ninguém é mais forte, mais resistente e aguenta muito mais do que todo mundo. Isso é relativo e, inclusive, ficar se comparando muito com os outros é também uma forma de teimosia. Afinal, o que você acha que os outros têm que você não tem? Ou ao contrário, o que você acha que tem que acha que os outros não tem? Ficar tentando sem pensar em estratégias, abdicando do descanso ou atirando para todos os lados na esperança de que um, por sorte, acerte. Isso é teimosia.

Persistência diz respeito a continuar em frente a despeito das dificuldades e obstáculos. Resiliência diz respeito a não se deixar abalar facilmente. No exemplo do Bernardinho e o time campeão da olimpíada de 2016. Eles eram resilientes porque não vinham de um histórico de muitas vitórias. Não eram os favoritos. Os jogadores não formavam o time com as melhores estatísticas. Nem apoio da mídia esportiva eles tinham. A mídia era até inimiga deles. Mas tinham um psicológico mais forte e um emocional mais resiliente. Isso tudo se traduziu na medalha de ouro daquele ano. Como trabalhar a mente? Isso eu não sei dizer e não caberia nesta página mesmo que eu soubesse. Mas veja que por trás há um elemento de auto-conhecimento e estratégia. Você precisa saber que ninguém é imune a críticas, a pressão, ao medo, a vergonha. Apenas um robô desprovido de emoções seria imune a tudo isso. É até engraçado, mas um jogador martelando repetidas vezes um desafio num jogo e sem conseguir passar. Parece um robô que não para e continua sem pensar ou descansar. Estudar por pura insistência e teimosia não é parecido com um estudo mecânico, chato e sem sentido? Eu deixei nas referências o exemplo do Lyoto Machida perdendo lutas para o irmão mais velho. O exemplo dele é de persistência quando ele diz que treinou mais. Mas é também de resiliência quando ele fala do choque que foi perder a luta e o pai chando-o de burro. Porque aquilo foi uma lição com consequências positivas. Poderia ter abalado e algumas pessoas seriam profundamente abaladas, mas não foi o caso dele. A Susane Ribeiro fala disso indiretamente quando fala sobre aprender com os erros no vestibular. O mesmo discurso do Mark Rosewater com outras palavras.

A teimosia pode ser um sintoma de transtorno mental? Pode, mas acredito que nenhum diagnóstico é feito assim com esse sintoma isoladamente.

Um sinônimo que não comentei foi a perseverança. Fica para outro artigo, porque perseverança envolve discussões filosóficas e religiosas e ficaria muito complicado continuar aqui. O que eu diria é que perseverança é uma palavra mais forte do que a persistência.

Referências (inglês)

Referências (português)