Hipótese de Sapir-Whorf

From Henry's personal library
(em inglês)

Quando eu assisti esta apresentação do TED eu fiquei impressionado "Uau! Faz todo sentido!". Cuidado! Esta ideia da língua determinar os nossos pensamentos é fácil de desconstruir. Parece instigante e incrível num primeiro momento, mas cedo ou tarde você notará as falhas nela. Procure por relativismo linguístico ou Hipótese de Sapir-Whorf. Eu achei o exemplo que ela deu da tribo australiana que usa "Norte, Sul, Leste e Oeste" também para significar "Frente, atrás, direita e esquerda" falho. Todo idioma tem palavras que são usadas com finalidades diferentes dependendo do contexto. Traduções literais sempre causam desentendimentos e efeitos esquisitos.

Se você pensar em saúde mental é muito fácil ser enganado e pensar que transtornos mentais são profundamente ligados ao idioma. Afinal, todo transtorno mental envolve descrições de emoções, tempo e espaço. Mude o idioma e o transtorno deverá ser afetado em conjunto, não? Não é bem assim. Nenhum transtorno é causado por um idioma em si. Por outro lado, danos cerebrais e doenças neurológicas podem afetar a memória e a língua.

O que você acha que aconteceria com a depressão e a ansiedade se você eliminar os tempos verbais de um idioma? Os conceitos de passado, presente e futuro não dependem do idioma que falamos. Existem diferenças sintáticas entre os milhares de idiomas, mas o cérebro em si guarda memórias e é capaz de projetar no futuro e isso não depende da língua. No meu wiki de ciências aplicadas eu comentei que o povo Pirahã, que o Caleb Everett (Universidade de Miami) estudou, não tem palavras para números. Isso significa que eles não entendem matemática? Não é que eles não entendem, mas o sistema social deles que não usa palavras para contar com números. O idioma não os torna incapazes de aprender matemática. Na pior das hipóteses, eles não conseguem aprender matemática usando o próprio idioma. Se você comparar os idiomas entre si sempre existem palavras sem uma tradução direta. Não é a ideia ou o conceito que existe num idioma e não no outro. São as culturas e a sociedade de cada país que são diferentes umas das outras.

Este conceito da língua de determinar como pensamos nos faz acreditar que diferentes línguas criariam personalidades diferentes de uma maneira geral. Em outras palavras, é possível tratar a depressão fazendo a pessoa aprender outra língua? A depressão está presente em todos os países do mundo e a causa certamente não é a língua. Na grande maioria dos casos a depressão é causada por fatores sociais e ambientais. É a sociedade quem cria uma língua, não o contrário. Para sustentar este argumento eu cito alguns países. Compare a Alemanha e a Áustria. China e Taiwan. Os Estados Unidos e o Reino Unido têm o inglês como idioma oficial e, mesmo assim, culturas e sotaques diferentes. Falar o mesmo idioma não significa que as pessoas de diferentes países pensam e agem da mesma forma.

Eu já tive uma professora de inglês que dizia que falando outro idioma nós nos sentimos outra pessoa. Por um lado, é verdade que falar outro idioma nos faz sentirmos outra pessoa. Porém, não é o idioma que muda a nossa personalidade. São as memórias que estão ligadas às experiências de vida. Por sua vez, experiências ligadas a um idioma. A ideia de que o nosso comportamento pode ser alterado por falar este ou aquele idioma é totalmente falha. Se fosse verdade daríamos espaço para o preconceito. Porque aí passaríamos a acreditar que o fato de "Lua" ser masculino num idioma, "casa" feminino em outro e "água" não ter gênero num terceiro. Desde quando sexismo, racismo e fobias dependem do idioma que falamos?

(em inglês)

Uma vez eu achei um professor de mandarim dizendo que o mandarim torna a matemática mais fácil porque nesse idioma as pessoas fazem contas de cabeça. O argumento dele é o seguinte: no mandarim eles não tem palavras para os números de 11 a 19 por exemplo. Como falamos "21"? Usamos as palavras "20" e "1". Porém, no mandarim e também no japonês, o fato de não haverem palavras específicas para os números "11" e "12" por exemplo. Eles, japoneses e chineses, falam usando as palavras "10" e "1" para falar "11" por exemplo. Assim sendo, chineses e japoneses fariam contas de cabeça mais rápido. Por consequência, seriam melhores em matemática. Espere aí! Então os chineses são melhores alunos em matemática porque falam mandarim? Eureka! Vamos melhorar as notas de matemática do país inteiro ensinando mandarim! Não, não funciona assim.

(em inglês)

Caleb Everett deu uma entrevista dizendo que quando uma língua contém dezenas e dezenas de termos para uma mesma coisa, como por exemplo o povo Inuit tendo 50 palavras diferentes para designar neve ou gelo. Isso significa que aquele povo dá muito mais importância àquela coisa. Embora esse conceito tenha sentido, ele também é preconceituoso. No inglês temos as palavras "sky" e "heaven", que traduzindo para o português só tem a palavra "céu". Então o inglês, por ter duas palavras para designar o que no português só tem uma, significa que os falantes de inglês dão mais importância para diferenciar céu religioso de céu físico? Não acho que seja assim. Para incluir ainda mais argumentos contra essa tese de determinismo linguístico, pensemos no fato de que toda língua empresta palavras de outras línguas.