Resolvendo o quebra-cabeças da procrastinação
Se você está lendo este livro, provavelmente é porque está procrastinando algo na vida. O livro é fruto de pesquisas na área da psicologia e cada capítulo tem fundamentos bem sólidos. O autor escreve muito sobre psicologia no site Psychology Today e também grava muitos podcasts. O livro apresenta as mesmas ideias que o autor já escreve no blog e grava nos podcasts, mas organizados e condensados para fácil leitura. O livro é curto porque menos é mais.
Muitos dos conceitos discutidos neste livro têm relação com transtornos de personalidade e mesmo outros transtornos. A procrastinação em si pode ser parte de personalidades diversas, até mesmo de paranoias e delírios. Se você pesquisar por transtornos como o obsessivo compulsivo, o TDAH, o comportamento passivo agressivo e mesmo a personalidade narcisista, muita coisa desse livro tem intersecção com diversos tipos de transtornos. Em se tratando de dissonância cognitiva, todos os transtornos de personalidade apresentam dissonância cognitiva.
Grupo de pesquisa sobre procrastinação: http://www.procrastination.ca
O que é procrastinação? Por que isto importa?
O autor faz uma diferenciação entre a procrastinação e os atrasos que não são procrastinação. Aquilo que você conscientemente decide não fazer ou fazer mais tarde, isso é procrastinação. Aquilo que está fora do seu controle, como por exemplo uma doença ou um acidente não é procrastinação. Todas as pessoas precisam ter prioridades e algumas coisas são mais importantes do que outras. Quando aquilo que é importante é deixado para depois quando não deveria, temos a procrastinação. Existe um lado psicológico por trás da decisão de deixar para depois e é isso que precisa ser identificado.
O pesquisador Joseph Ferrari at DePaul levantou dados mostrando que até 20% da população procrastina muito e isso é um hábito crônico. Hábitos são difíceis de mudar porque as pessoas fazem sempre. É difícil parar de fazer. É preciso desenvolver estratégias para agir e uma delas é começar identificando aquilo que é procrastinação e aquilo que não é. O autor instrui a fazer uma lista de tarefas e associá-las com emoções e sentimentos. Não precisa descrever em detalhes, poucas palavras bastam.
A procrastinação é mesmo um problema? Quais são os custos de procrastinar?
O autor foi numa conferência cujo título era "Viver bem e morrer bem: Novas fronteiras da psicologia positiva, terapia e cuidado espiritual". Um psicólogo notou dois tipos de arrependimento que as pessoas têm quando perdem alguém querido: arrependimentos de ter feito e de não ter feito algo. O autor ficou curioso pelas motivações que estão por trás da pessoa se sentir arrependida por não ter feito. O psicólogo foi perguntando sobre a natureza do arrependimento por omissão:
- Coisas que as pessoas gostariam muito de terem feito, mas não o fizeram?
- Possibilidades generalizadas sobre o que elas poderiam ter feito?
- Normas culturais sobre o que elas acham que deveriam ter feito, o que teria sido bom ter feito?
- Expectativas internalizadas a respeito do que a pessoa amada gostaria que elas tivessem feito?
O psicólogo em questão disse que todos os quatro eram visíveis na prática clínica, mas que o primeiro era especialmente problemático.
As pesquisas indicam que há uma associação clara entre procrastinar, conquistar menos na vida, emoções negativas e mais problemas de saúde. Conquistar menos na vida é uma consequência direta do atraso, uma vez que você tem menos tempo para realizar a tarefa. Piers Steel estudou a procrastinação e a conclusão é óbvia: procrastinar nunca ajuda.
A procrastinação esta associada com emoções negativas e parece haver um contrassenso. Se estamos adiando algo, a emoção negativa não está no fato de fazer aquilo que parece desagradável? Em teoria adiar posterga o desconforto associado com fazer aquilo. Mas o fato de adiar traz a sensação de culpa e os sentimentos são diversos. O alívio de não fazer é momentâneo e não duradouro. Uma pesquisa feita por Fuschia Sirois mostra que adiar traz prejuízos à saúde, como por exemplo adiar o exercício físico. Além do estresse causado pelo adiamento já ser danoso por si só. Isso pode tomar uma vida inteira e a vida pode acabar sendo mais curta por causa de hábitos ruins que nos recusamos a mudar.
A moral da história é que procrastinar é algo que nós mesmos fazemos e isso traz prejuízos à própria vida. A longo prazo isso se traduz numa vida infeliz. O autor quer que você veja o alto custo da procrastinação. Um exemplo drástico que ele dá é com relação à saúde. É fácil saber os benefícios de uma vida mais saudável. Mas às vezes podemos entender isso e ao mesmo tempo não mudar os hábitos ruins. Se o corpo padecer de uma doença, aí sim os hábitos saudáveis se tornam algo muito mais concreto e visível na vida. Se a doença for grave, pode ser muito tarde para chegarmos a esta conclusão.
O que é a coisa mais importante que precisamos saber sobre a procrastinação?
O trabalho de Roy Baumeister e Diane Tice mostra que a procrastinação é uma forma de fracasso de autorregularão. Podemos ter a intenção de fazer, mas fracassamos na tentativa de modular o próprio comportamento para atingir aquele objetivo. Um problema parecido é o vício em bebidas, jogos de azar, comer demais, gastar demais, etc. O ponto central é que não conseguimos lidar com a dor ou o fracasso e aderimos a um prazer imediato, comer ou beber por exemplo. Num caso mais grave pode haver consumo de drogas lícitas como estabilizadores do humor ou antidepressivos por exemplo. Inconscientemente queremos fugir das emoções negativas. Emoções como tristeza, raiva, culpa, arrependimento, ressentimento, humor deprimido, ansiedade. No procrastinador crônico a busca por pequenos prazeres, alívios momentâneos, acaba tomando prioridade na fila de prioridades.
O ponto central é reconhecer as emoções em primeiro lugar. Se você não reconhece a emoção associada a fazer algo, o problema começa por aí. O autor instrui a reconhecer a emoção negativa e a encará-la, não fugir dela. Se a emoção negativa for o medo por exemplo, podemos tomar a decisão consciente de não se concentrar no medo, mas em outra emoção. Por exemplo, podemos nos concentrar em alguma habilidade que nós temos, ou algo positivo e diminuir o tamanho da emoção negativa que nos impede de fazer uma tarefa. Deixar para amanhã é exatamente aí que deixamos nos levar pela emoção negativa!
Porque não vamos fazer amanhã
Um dos leitores do blog do Psychology Today mandou uma frase que está numa placa num açougue: "Hoje você paga, amanhã é de graça". Percebeu a pegadinha? Se você não pagar hoje, não tem de graça no dia de amanhã. Muitas pessoas pulavam o dia de hoje, esperando que amanhã não pagariam nada. Ou seja, não entendiam a condicional imposta.
Muitas pesquisas, incluindo as feitas por Dan Gilbert e Tim Wilson, mostram que as pessoas são ruins em previsão de futuro. Mais especificamente, somos maus previsores de estados emocionais. Temos um viés cognitivo muito forte quando tentamos fazer previsões relativas a eventos positivos ou negativos. Por exemplo: ao ganhar na loteria a previsão é de que a felicidade é maior após ganhar. Momentaneamente pode ser que sim, mas anos depois e a felicidade não é maior segundo os estudos feitos. No caso de acidentes graves é previsível que a pessoa estaria mais triste anos no futuro, mas não é isso que se verifica.
A explicação para esse viés está nos conceitos de Focalismo e Presentismo. Focalismo é uma tendência a subestimar o impacto que outros eventos terão nos seus pensamentos e sentimentos no futuro. Presentismo é julgar o futuro através das informações que se tem no presente. Juntando ambos temos a tendência de projetar no futuro aquilo que temos hoje, o que implica que estamos tentando predizer o futuro através das sensações atuais ou passadas. Um exemplo bem simples é fazer compras com fome, a tendência é comprar mais do que o necessário. Com a fome no momento da compra estamos inconscientemente projetando mais fome no futuro, o que não podemos predizer com exatidão.
Quando decidimos fazer algo, naquele momento estamos tomados por um sentimento positivo. Há uma armadilha escondida nisso. A motivação positiva se dá no momento em que a tarefa pretendida ainda não foi feita. Ou seja, a gratificação se refere a algo futuro. A ação de fazer é futura e só vem depois da decisão no presente. O erro está neste fato de presumir que sentindo-se bem por ter tomado a decisão agora, quando a tarefa for executada no futuro a sensação será a mesma. Será mesmo? Se eu decido hoje que amanhã vou correr ou começar uma dieta, farei mesmo?
Viagem no tempo: a ideia deste exercício mental é tentar trazer para o presente uma imagem futura. Tentar ver uma imagem clara daquilo que se deseja para o futuro, com o máximo de realismo e viabilidade que se puder ter.
Espere estar errado e lide com isso: isso tem a ver com estoicismo. Você já espera pelo pior e aprende a compensar. Mudar o viés cognitivo da mente humana quando fazemos previsões baseadas em emoções é difícil. Previsões de tempo e de economia erram o tempo inteiro e mesmo assim a sociedade anda porque são erros contornáveis. Esta estratégia se desdobra em duas:
Método 1: quando formos tomados pela sensação de que não vamos fazer hoje, precisamos parar e pensar "Minha previsão está errada. É altamente improvável que eu vá fazer amanhã. Não preciso sentir vontade de fazer para fazer". Atletas treinam mesmo que não sintam vontade. Sentir vontade de fazer não é pré-requisito e nem mesmo suficiente para fazer o que tem que ser feito.
Método 2: quando temos um objetivo de começar amanhã, o sentimento positivo e otimista de agora não irá se repetir amanhã. O segredo é que você não precisa desse sentimento otimista para começar a fazer agora o que você tem que fazer. Psicólogos sociais mostram que as atitudes acompanham os comportamentos e não o inverso, os comportamentos seguirem as atitudes.