Minha jornada (parcial) para ser um designer de níveis

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img2go prompt: uma estrada de pedras, com curvas e montanhas, que represente uma jornada pessoal. Hora do dia é o pôr-do-sol. Coloque cerejeiras na beira da estrada. Não quero ver: um caminho reto. As árvores não devem encobrir o horizonte.


Fui eu que traduzi o vídeo do Thiago Klafke. Foi por vontade mesmo e porque me identifiquei no vídeo. Muita coisa fazia sentido e me espelhei nele. Não teve motivação de dinheiro ou reputação.

Eu já participei de uma comunidade pequena que não existe mais. Algumas coisas lá me deixaram desconfortável e eu saí. Porém, esse desconforto não sumia e eu fiquei obcecado. Algo me fez procurar por narcisismo. Eu queria "matar" uma ou duas pessoas lá daquela comunidade. A busca por narcisismo me levou até o transtorno de personalidade narcisista. Eu não sei o que deu gatilho, mas aconteceu. Não haviam narcisistas lá, mas traços de narcisismo. Além de outras coisas que me eram familiares. Foi daí que eu aprendi sobre os transtornos de personalidade. A partir dos transtornos de personalidade eu comecei a notar padrões na minha vida. Muitas coisas poderiam ser explicadas por transtornos de personalidade ou assuntos relacionados. Não, não tenho um transtorno de personalidade.

Encontrei canais extremamente bons sobre psicologia, narcisismo, neurociências, idiomas, morar fora do país de origem. Enquanto eu aprendia sobre narcisismo comecei a ver que muitas das minhas crenças estavam erradas e em vários sentidos. Uma infinidade de conceitos equivocados. Eu tinha uma maneira de pensar sobre muitas coisas toda distorcida. O cerne do narcisismo é o ego e isso se aplica à mim. Eu comecei a perceber nos comentários de pessoas que passaram por relacionamentos tóxicos que muitas coisas me pareciam familiares. Era tipo "P***! Acho que tenho os mesmos traços dessas pessoas que caíram nessas armadilhas". Aprendi uma lição: pessoas com egos gigantes (ou que pecam na humildade) são mais susceptíveis a serem cegas e caírem em armadilhas, tais como esquemas de pirâmide ou casamentos venenosos por exemplo. Outra lição: o perfeccionismo pode estar ligado ao medo de errar, mas também à uma máscara da arrogância. A arrogância de não aceitar falhas ou fracassos, especialmente em si mesmo.

Uma coisa que aprendi é como somos ignorantes quando se trata de transtornos mentais. Um princípio chave muito importante que aprendi: um transtorno mental não é controlado por força de vontade. Um transtorno de personalidade não é o que define a pessoa. O seu nome não é "depressão", "psicopata", "TDAH", qualquer que seja o transtorno. É impossível controlar o que sentimos. Isto se aplica à muitos narcisistas que tomaram a decisão consciente de não serem danosos. Se você procurar por todos os transtornos, ser maléfico ou bondoso é uma escolha. A depressão por exemplo. Antes de aprender sobre o narcisismo eu achava que a depressão poderia ser curada ou melhorada por meio de pensamentos positivos. Não é bem assim. A depressão não é uma escolha, mas pessoas depressivas podem tanto fazer escolhas ruins quanto boas. A parte difícil do transtorno de personalidade narcisista é que a pessoa está escolhendo ser bondosa aqui e maléfica ali e isso não é completamente consciente. Existem processos inconscientes por trás. A chave para tratar praticamente todos os transtornos mentais é se tornar ciente de que processos são esses.

Quando o Thiago discute sobre entender padrões e não seguir os passos dele exatamente. Isso é algo que aprendi com física e matemática. Aprenda a teoria e as regras, não os próprios exemplos porque não é assim que se aprende a resolver problemas. O mesmo vale para programação. Se você não vai além de copiar e colar você nunca aprende a criar as suas próprias soluções. O que é a matemática e a física? Fundamentalmente são ciências que estudam padrões, regras que regem como as coisas funcionam. Indo mais longe eu diria que a psicologia é mais ou menos a mesma coisa. É uma ciência que estuda padrões, padrões na mente. Padrões sobre como as pessoas agem e pensam. O que são diagnósticos? Todos os diagnósticos de todas as doenças são um certo conjunto de padrões.

Tudo isso é estranho porque eu estava tentando fugir de design de níveis por muito tempo. Tempo este que inclui a minha participação nos mesmos fóruns que o Thiago estava. Eu nunca achei que essa seria a minha carreira. Talvez fosse medo de admitir. Eu tinha uma ideia de que um diploma na área das ciências aplicadas seria uma base para começar uma carreira, uma das quais era desenvolvimento de jogos num futuro distante. Porém, a graduação em ciências aplicadas foi um fracasso. A verdade é: este é um caminho. Um dentre muitos. Depois de desistir da faculdade eu pensei sozinho "É um potencial desperdiçado aprender assuntos de ciências que são muito difíceis e que provavelmente não irei usar. Se eu quiser aprender cálculo e física, a faculdade não é o único meio para aprender isso."

Eu passei anos, bem mais do que os esperados 5 para concluir a graduação. Notas baixas. Pressão. Aí é que está. Ao aprender sobre narcisismo e transtornos de personalidade, percebi que de alguma forma, uma linha muito tênue conectava muitos pontos na minha vida. Explico. Agora eu me lembro de pessoas do passado e penso "Esta aqui era um psicopata?", "Essa outra estava sofrendo e isso tinha relação com depressão?", "Nossa! Eu odiava aquela lá mas não sabia que...", "Oh. Graças a deus tive aquele professor de artes", "Esta pessoa próxima a mim é borderline (limítrofe)? Porque se for, isso explicaria muita coisa". Agora que paro para pensar, será que eu tive um impacto inesperado na vida de alguém? Thiago diz que a vida pode ser dura e jogar coisas em você. Eu tive uma convivência com uma pessoa que se tornou bem sucedida na mesma área de ciências aplicadas que eu queria. Ele me disse que por minha causa se tornou um professor melhor. Eu era desafiador para ele. Pensando nas palavras do Thiago ao contrário: Quem sabe eu fui uma pedra jogada na cabeça de alguém? haha.

A faculdade tem um impacto importante na auto-estima de todo mundo. Quão frequente é para um estudante na escola entrar numa universidade de ponta para se sentir abaixo da média? Uma coisa muito comum de acontecer e eu entrei numa universidade de ponta, apesar de que eu não era um dos melhores na escola. Não sou um artista ou designer (ainda não), mas suspeito que o mesmo sentimento é vivenciado nas empresas de desenvolvimento de jogos. Eu vi em primeira pessoa como alguns colegas se sentiam intimidados por professores com seus títulos, doutorados e prêmios. Eu testemunhei bem de perto colegas com medo do próprio futuro porque não tinham certeza do seu próprio sucesso acadêmico e de suas próprias notas. Sabia que os índices de evasão nos bacharelados de matemática, física, química e afins é muito alto?

Quando o Thiago fala sobre ser impaciente e perguntar por atalhos. Eu fiz isso na faculdade. Não exatamente igual, mas o meu comportamento era parecido ao dele. Eu perguntava "Quantos créditos por semestre é o máximo que dá?", "Como aprender cálculo?" Como melhorar as minhas notas?", "Quantas horas estudar por dia?", "Como consigo uma bolsa de pesquisa?", "Posso frequentar aulas do último ano da faculdade?". Vê? Na faculdade você começa perdido a menos que já tenha cursado uma antes e existem dois tipos de veteranos. Um é aquele que quer ajudar. O outro é o que ignora o calouro e não se importa. É uma descrição rasa e crua (as pessoas não são assim preto e branco, é apenas para dar uma ideia). Havia momentos em que eu estava desesperado por respostas, respostas que fossem certas e que alguém me indicaria o caminho certo. A verdade é: você precisa conhecer a si mesmo e os seus próprios limites. Somente você pode sentir o que sente e isso condiz com o que o Thiago diz sobre encontrar a sua própria voz e descobrir qual o seu objetivo ou missão na vida. Alguns professores são honestos em dizer "Não estude além do seu limite e siga o seu ritmo. Não tente imitar os outros e seguir tudo que te disserem, incluindo os próprios professores. Não tente correr mais rápido do que a turma e evite se punir se você ficar para trás dos outros".

Sobre a curva positiva. Eu não passei no vestibular numa tentativa. Foram muitas e muitos anos. Mas a curva positiva ocorreu sim. O meu desempenho subiu ao longo dos anos. A universidade em que estava tinha um vestibular de duas fases. A primeira era uma prova de múltipla escolha de 5 horas. Se atingir a nota mínima de corte você passa e a nota mínima depende da concorrência daquele ano. A segunda fase eram três dias com questões discursivas. 4 horas por dia. Por muitos anos a fórmula que usaram foi fazer a primeira fase valer 50% da nota final, o que era absurdo dado que você está comparando uma prova de 5 horas com a segunda fase inteira com o seu total de 12 horas. A fórmula era injusta. No ano em que passei alguém genial decidiu que a primeira fase não iria mais valer nada na nota final. A decisão foi tomada no ano anterior ao vestibular, para evitar confusão na interpretação. Foi também o ano em que comecei a entender que a razão da minha nota ser baixa era a ansiedade.

Apenas um porém: o fato da curva positiva ter ocorrido não necessariamente significa que a vida projetar-se-á para voos mais altos. Não é tão simples. Eu disse que reprovei várias vezes na faculdade e desisti. O próprio Thiago entrou na Blizzard e não ascendeu até o cargo de diretor ou mais alto. Ele saiu de lá e a Blizzard passou por uma crise também.

Quando o Thiago fala sobre não tomar uma porta fechada como uma ofensa pessoal. Isso me lembra de algumas experiências que tive na faculdade. Eu tive um colega que terminou o mesmo bacharelado que eu não consegui e continuou na caminhada dele até o mestrado. No meio do mestrado tem um chamado "Exame de Qualificação". Ele me disse que um dos professores foi muito crítico nesse exame. Num determinado momento esse colega me disse que se sentiu ofendido, como se o professor quisesse desmoralizá-lo de todo o trabalho duro que teve. No final ele entendeu as críticas eram direcionadas para o trabalho, não para a pessoa. A ciência é pedante e por uma razão. A ciência é rigorosa, rígida e exigente. É assim porque se trata de dar fundamentos que são duradouros. Eu não estava neste exame de qualificação, mas estava num de outro colega. Naquele dia um professor disse "Tente ter fundamentos melhores em modelos físicos e nas equações" (Não lembro exatamente das palavras). Eu senti os calafrios quando o professor disse aquilo. Depois do fim do exame, ela estava chorando muito. Em tempo, ela foi aprovada.

Me imagino numa situação parecida. O Thiago disse que o seu mentor na Ubisoft, Fernando, disse que o seu trabalho não estava satisfazendo o nível que eles queriam. É tão fácil tomar isso como uma ofensa pessoal. Algumas pessoas podem se sentir pressionadas por isso de maneira positiva ou negativa. Depende de muitos fatores. Veja como o ego está presente em todas as pessoas independentemente de um transtorno. Entender como você se sente sob pressão e sob alvo de críticas é um caminho para evoluir, crescer. Este é um ponto que eu diria que o Thiago está acima de mim, porque é uma coisa que preciso melhorar. Tudo isso volta na palavra "humildade". Faltar com humildade atrapalha e muito a habilidade de aprender. Isto é algo que aprendi estudando o narcisismo.

Quando penso sobre desenvolvimento de jogos o mercado pode ser muito rigoroso com o que funciona e o que não. A comunidade de jogadores pode ser brutal e muitas vezes é até pior do que o Thiago disse sobre os comentários recebidos nos fóruns. Desenvolver um jogo pode não depender de parâmetros tão rígidos quanto os que temos nas ciências, mas em última instância, é sobre sucesso na vida. Tenho uma crença pessoal de que paixão, trabalho duro, dedicação, se aplicam a qualquer coisa na vida. Não faço ideia de como uma entrevista de emprego é ou quanta pressão existe no ambiente de desenvolvimento de jogos. O caminho da academia também pode ser brutal e já li muitos artigos sobre estudantes que chegaram no doutorado para se depararem com portas fechadas, falta de oportunidades. Não muito diferente do caminho do desenvolvimento de jogos. Acho interessante como a minha trajetória me levou a descobertas semelhantes às do Thiago, embora a trajetória dele seja totalmente diferente. Você vê, ele seguiu um caminho não relacionado com ciências e tanto ele quanto eu chegamos nas mesmas conclusões sobre a vida. Interessante, não?

No meu site eu dei tempo para ler e comentar as 20 lições que Mark Rosewater deu sobre 20 anos de criação de cartas de magic. Muitas das lições se relacionam muito bem com ego, narcisismo e psicologia. Mark discute aprender com os próprios erros e isso me soa estranhamente familiar. Algumas pessoas aprendem com relacionamentos tóxicos e crescem, enquanto outras continuam a repetir os mesmos erros. Quanto a mim, não posso afirmar que tentar fugir o máximo possível de design de níveis ou até a evasão da faculdade foram erros. Depende do ponto de vista. Uma outra lição aprendida com os erros na faculdade: você não precisa esperar para aprender. Em outras palavras, você não precisa esperar para que alguém te ensine algo. Exemplo: Cálculo 3 tem um pré-requisito de cálculo 2, mas eu reprovei cálculo 2 várias vezes. Num determinado ponto eu pensei sozinho "Por quê estou esperando aprovação em cálculo 2? A biblioteca é aberta e livre. Qualquer um pode ir lá, abrir um livro e ler." Alguns professores são especialistas em áreas que só vão entrar na graduação no último ano. De novo, perguntei "Por quê preciso esperar pelo último ano, frequentar aquela maldita aula daquele assunto, para finalmente ter contato com aquele professor? A sala dele está lá e qualquer um pode entrar em contato com ele(a), se assim desejar. Por quê preciso estar paralisado por essa vergonha de ser um calouro?". Você não precisa esperar para alguma coisa acontecer para fazer algo se não existe uma ordem preferencial para as coisas que você quer.

Acho que se não fosse pelo que aprendi sobre narcisismo, ego, transtornos de personalidade, processos cognitivos, etc. Eu teria caído numa armadilha bem grande ou sofrido com estresse pós-traumático, esgotamento ou depressão. Porque muitas coisas começaram a fazer sentido e tem relação até com o meu fracasso em aprender programação antes. Além dos fracassos em cálculo e física na faculdade. Tem relação com como eu tive que admitir que não estava pronto para uma carreira em design de níveis e não apenas isso, mas quase qualquer coisa na verdade. Para ser sincero, ninguém está pronto no sentido de saber tudo de antemão. A vida existe para ser vivida e viver significa um processo de fracassos, sucessos e aprendizado. Todas essas coisas relacionadas com narcisismo e transtornos não são sobre desenvolvimento ou design de jogos. Mas, em última instância, design de jogos se relaciona com ego e deve haver milhares de histórias de por aí de desenvolvedores de jogos que sofrerem com trauma, estresse e o que mais puder ser. Pelo menos agora eu estou mais alerta quanto a isso. Pode ser que você não esteja sofrendo com depressão ou alguma coisa, mas algum colega de trabalho está e estar ciente disso melhora a vida. A partir do reconhecimento das suas próprias limitações você pode desenvolver habilidades melhores, caso alguém esteja pedindo por ajuda.

Uma crença que eu tinha: primeiro você precisa aprender um idioma antes de se mudar para um país que fala aquele idioma. Não é verdade. A vida não é uma linha reta e frequentemente não existe uma sequência de eventos certa. Quantas pessoas se mudam para outro país sem saber o idioma primeiro? Milhões e pode ser porque o seu pai ou você mesmo conseguiu um novo emprego, por causa da guerra, uma crise política, pobreza ou até mesmo porque você decidiu se arriscar. Ter expectativas demais, presumir demais, esperar que tudo dê certo o tempo todo ou que tudo dê errado, se agarrar à padrões exageradamente altos ou baixos. Tudo isso pode ser sintoma de algum transtorno. No caso dos transtornos de personalidade em geral isso é bem verdade.

Eu posso ter aprendido a ser mais humilde com toda esta leitura sobre narcisismo. Eu estava pensando "O que aconteceria se eu precisasse de mais dinheiro do que o que consigo com design de níveis?". No passado eu não aceitaria essa ideia, mas agora eu mudei para "Se for necessário trabalhar numa cozinha, por quê rejeitar? Aceitaria com prazer". Eu ainda quero aprender mais física e matemática mesmo depois de desistir do bacharelado anterior. Poderia eu ser bom em dar aulas particulares se a vida me trouxer isto? Por quê não? Se o medo me disser para não fazê-lo, então preciso superar o medo, certo? Isto pode ter relação com o que vi na faculdade: estudantes de pós-graduação precisando vender bolos, chocolates, oferecendo aulas particulares, para sobreviver. Uma vez assisti uma entrevista do canal Asian Boss com um desertor da Coréia do Norte (Chul-eun Lee) explicando como algumas coisas lá não são erradas por si só. Ele estava explicando que a sociedade sul-coreana também está cheia de crenças distorcidas e que ele queria trabalhar em qualquer coisa para ganhar experiência de vida, sem se importar com reputação ou dinheiro. Eu fiquei admirado "Que incrível! Eu adoraria me sentar com ele em algum lugar e conversar sobre qualquer coisa".

Thiago Klafke comentou como os seus melhores trabalhos foram feitos por amor e não por dinheiro. Também penso assim. Eu pratiquei mais inglês e aprendi melhor me dedicando a escrever um site de design de níveis, incluindo toda a pesquisa sobre saúde mental que me fizeram ler e ouvir muito. Uma das minhas maiores fraquezas na escola era ler livros de literatura. Pode parecer estranho, mas eu tinha notas altas em redação porque eu lia jornais e sites de notícias. Eu sinto que melhor no inglês por causa da obsessão por pesquisar certos assuntos. Isso ainda teve o efeito de me fazer ver tudo sob uma nova óptica, o que inclui relacionamentos e as próprias emoções. Eu acredito fortemente que a habilidade de escrever dê retorno no futuro. Tive mais de um professor na faculdade dizendo para toda a turma como era uma vergonha que estudantes de ciências aplicadas não sabiam escrever direito. Por exemplo, meteorologistas que eram excelentes em cálculo e física mas mal sabiam escrever. É até irônico pensar em meteorologista errando nomes de estados e cidades.

Tudo isso me fez aprender mais sobre o preconceito em si. Assim, tem frases que pensamos que são positivas para uma pessoa depressiva, mas não são. Na mente delas, elas pensam "Você não entende como me sinto!" e é verdade: elas estão certas. Digamos que uma pessoa seja hiperativa e inquieta, podemos pensar "é TDAH". Espere aí! Existem pessoas com TDAH que podem ser mais concentradas e calmas do que pessoas sem TDAH! Esta outra pessoa é cruel, má. Deve ser um psicopata. Não necessariamente. Se você procurar pela descrição da personalidade antissocial, ser mau ou malvado não é um critério de diagnóstico. Eu li um pouco sobre psiquiatria forense e, a respeito de ser mau e psicopatas, não posso ir muito fundo. Exceto dizer que as pessoas são muito mais complexas do que sair afirmando que um certo transtorno é o que faz a pessoa ser um criminoso desprezível ou vice-versa. Tudo isso se aplica a desenvolvimento de jogos? Eu acredito que sim. Digo, quão frequente é julgarmos baseado-se em estereótipos? Mesmo que 90% das garotas gostem de um certo tipo de jogo. Não é 100%. A próprias estatísticas podem ser enviesadas e todo livro de estatística inclue pelo menos um exemplo de viés. Eu já me peguei fazendo julgamentos enviesados de bases de jogadores e de jogos. Eu mesmo poderia criar o design de um nível e poderia muito bem estar me baseando em premissas, pré-conceitos, que no fim se revelam errados. Esta é inclusive uma das lições mais importantes que aprendi com Mark Rosewater. Não podemos ter uma visão estreita ou até uma mente fechada. Precisamos ser abertos para novas perspectivas.

Eu ia insultar uma certa pessoa, mas depois do vídeo do Thiago pensei melhor e desisti. Aquela pessoa tem uma jornada particular e não estarei nela. Não sou um "previsor de vidas" e não faço ideia de como a jornada daquela pessoa será. Aquela pessoa está seguindo um caminho por si mesma, não eu. Aquela pessoa tinha traços narcisistas até piores do que a comunidade inteira que mencionei anteriormente. Porém, o narcisismo era apenas uma peça do quebra-cabeças porque haviam outras coisas, comorbidades. Aquela pessoa cruzou o meu caminho muitos anos depois daquela comunidade que mencionei fechar. Uma grande coincidência é o fato de que um dos objetivos de vida daquela pessoa era igual a um dos que eu tenho. Entender como a mente de um narcisista funciona é um caminho para não tomar toda ofensa como um ataque pessoal. Ou toda porta fechada como uma ofensa pessoal para seguir o exemplo do Thiago.

Toda essa pesquisa combinada com o ódio que eu tinha contra mais de uma pessoa traz uma outra lição: quando você odeia algo com muita intensidade. Tem algo de você refletido naquilo que você odeia. O seu ódio pode ter o alvo errado. O ódio pode ser infundado. O ódio pode ser preconceito. Qualquer que seja o caso, ódio significa algo. Uma mensagem implícita. Você vê (copiando uma idiossincrasia do Mark Rosewater), num certo ponto da vida eu lembro de odiar design de níveis porque isso me tirava o foco de estudar para o vestibular! Não é uma grande ironia do destino? Não tem um ditado que diz que amor e ódio são duas faces da mesma moeda? De alguma forma a vida me trouxe este ensinamento da maneira mais surpreendente possível!

No começo do vídeo o Thiago conta esta tendência de evitar as emoções negativas e a escuridão. É extremamente parecido com o que Mark Rosewater conta sobre aprender com os próprios erros. Eu tive um professor de cálculo que me disse que para aprender matemática você tem que errar. Então, toda esta jornada me ensinou que eu tinha uma crença que era "Os erros devem ser evitados a todo custo!". Por quê? Porque eu tinha uma outra crença que era "Porque podemos prevê-los". A verdade é: as emoções negativas associadas com os erros não podem ser controladas. Porém, o que é possível fazer, é ter atitude, decidir o que fazer, depois que o erro acontece. Você controla esta decisão. Sabe o que é irônico aqui? Eu cursava meteorologia e é uma ciência relacionada com prever o tempo! Há toda uma área de pesquisa dedicada a estudar o caos e através de teoremas muito avançados provamos que alguns sistemas não podem ter os seus estados futuros preditos com total acurácia. Isto explica porque os meteorologistas não conseguem acertar a previsão do tempo sempre.

(tradução livre: Ao mesmo tempo em que estou agradecido por terem lançado esta carta, "Adentrar o Infinito" não seria uma carta que não seria segura lançar qualquer que fosse o custo de mana? Resp: O maior risco que Magic poderia assumir é nunca assumir um risco.)

Mark Rosewater tem uma lição que é: evolução está atrelada a assumir riscos. Não assumir riscos é um risco em si mesmo! É assim que ele explica como o magic mudou ao longo das décadas. Como esta lição se liga com a minha crença mencionada anteriormente? Quando você tenta evitar cometer erros a todo custo. Isto é um erro em si mesmo! Ou, adotando a mesmas palavras que ele: O maior erro que alguém poderia cometer é nunca cometer nenhum erro! No vídeo, Thiago discute o conhecimento dos próprios limites e sobre ir mais longe. Já li muitos artigos sobre atletas de sucesso e o auto-conhecimento é sempre uma chave em todos eles.

Thiago conta que as pessoas precisam de mentores e posso garantir que tudo que eu disse nos parágrafos anteriores teve mentores no meio. Professores, doutores, clínicos, pais, amigos, inimigos, pessoas aleatórias. Todos contribuíram de alguma forma. Thiago está incluso aí. Foi e é um processo cumulativo.

Referências (inglês)

Referências (português)

  • 10 regras que mudaram a minha vida - Susane Ribeiro (Tenho certeza que tem mais vídeos que usei, mas não lembro exatamente quais.)
  • O motivo de fazer ITA - Susane Ribeiro
  • Nos outros artigos que escrevi eu cito muitos cientistas, psicólogos e canais diversos. Tem muitas fontes que não lembro exatamente de onde eu tirei uma lição ou ensinamento.