As maiores mentiras que já ouvi durante a minha carreira
A Dr. Ana Beatriz Barbosa é psiquiatra e famosa. Só que tem muito psicólogo e outros médicos criticando besteiras que ela propaga. Ela tem muitas informações úteis sobre muita coisa, mas com muitos livros plagiados comecei a desconfiar. Ainda mais que ela parou com a carreira de clínica médica e começou a seguir a carreira de influenciadora digital e escritora. O livro "Mentes pergiosas: o psicopata mora ao lado" faz essa associação de crimes e psicopatia e lista casos famosos como a Suzane Richtofen e o Roger Abdelmassih. O livro defende a tese que psicopata nasceu com o cérebro diferente. O problema é que ela afirma que o estudo dos brasileiros que fizeram a ressonância magnética do cérebro dos psicopatas prova que é por causa da alteração no sistema límbico que todo psicopata é incapaz de amar, de sentir culpado e que tem prazer em enganar. Essa prova não é uma prova. É um estudo, mas que não prova que todo psicopata tem a mesma origem. Ela ainda exagera em usar de exemplo de comportamento de psicopata enganar para pagar meia entrada ou entrar de graça por exemplo. O livro coincidentemente é quase igual em título e capa a "The sociopath next door", em inglês, da autora Martha Stout.
Eu cheguei a seguir a Cássia Rodrigues, uma psicanalista famosa e que tem um curso de formação de psicanálise com o próprio nome. Mas ela também defende essa tese mal fundamentada de que todo câncer tem origem emocional. Que tem relação deve ter, mas não do jeito que a maioria pensa. Outro médico que defende isso é o húngaro que mudou para o Canadá, o Gabor Maté. Ele defende que traumas causam TDAH, vício em drogas e doenças autoimunes. Ele tem livros publicados que vendem milhões, mas é criticado e faça o favor de procurar quem critica e por quais motivos. Pense no seguinte: doença autoimune, por definição é um problema do sistema imunológico que ataca o próprio corpo. Se você juntar isso com a psicologia pode ter a ideia de que a mente da pessoa é capaz de, inconscientemente, atacar o próprio corpo. Só que pergunte: a doença autoimune foi causada pelo psicológico da pessoa ou foi o contrário, o psicológico que mudou depois da doença se manifestar? É por isso que dizer que câncer tem fundo emocional não é bem assim que funciona. Tem muitas pessoas que dizem que problemas emocionais causam sim câncer e a evidência é puramente constatação de senso comum. Pergunte: se um câncer afeta o intestino, invariavelmente vai afetar a digestão e o metabolismo. Isso vai afetar o cérebro e provocar mudanças ali.
O Renato Cariani já criticou um médico falando besteira sobre emagrecer. Um médico que foi criticar o Renato Cariani sobre como emagrecer certo. O Renato Cariani não é uma unanimidade, mas tem muito conteúdo útil.
O Sam Vaknin tem um canal especializado em narcisismo. Só que ele mesmo é diagnosticado como transtorno de personalidade antissocial e narcisista. Apesar de ter muita informação correta, ele abusa da exposição de si mesmo e ainda propôs uma terapia absurda de que narcisista se trata com choque, fazendo-o sofrer num ambiente controlado. De onde ele tirou isso? Eu já o vi num podcast ou entrevista e ele não parava de fazer piadinhas e querer mais atenção do que o outro. O outro era o Richard Grannon que também tem um canal sobre narcisismo. Mas eu também não sigo esse último.
A Dr. Ramani tem milhões de seguidores e trata sobre narcisismo. Só que muitas pessoas criticam a abordagem dela que propaga um excesso de vitimização e um exagero na demonização de todos os narcisistas. Alguns posts até dizem que ela seria uma narcisista e manipuladora. Achei alguns artigos dizendo que ela dá diagnósticos errados, que fica se adorando na frente do espelho e que as consultas com ela custam uma fortuna. Quanto disso é verdade não sei.
Eu cheguei a seguir a Dr. Tracey Marks, uma psiquiatra americana. Os vídeos dela são bem produzidos e ela se apresenta muito bem. Mas parei porque tem um vídeo que ela defende essa tese do "narcisismo saudável". No começo eu concordei, mas depois não concordei mais.
Assisti alguns vídeos da Kati Morton, mas o número de seguidores não quer dizer muita coisa. Ela grava vídeos sobre todas as áreas da saúde mental. Como alguém estuda tudo ao mesmo tempo? Essa é a crítica e ela já se envolveu em polêmicas por fazer diagnósticos indevidos e parecer se importar mais com a fama do que com a ética profissional.
Dr. Todd Grande. Tem bastante informação útil, mas ele é mais midiático e recebe críticas de psiquiatras por falar de coisas que não seriam competência dele. O que faz ele atingir um público maior é a quantidade de vídeos de comentando grandes casos famosos, especulando sobre quais transtornos mentais estariam presentes num crime de grande repercussão.
Então, por muito tempo eu achava que popularidade era sinônimo de qualidade. Mas não é bem assim. Cuidado! Esses especialistas acima têm coisas úteis, mas não pegue como uma fonte incontestável e inquestionável. Uma auto-crítica aqui: muitos psicólogos e médicos que gravam canais e vídeos podem ser teatrais na maneira de apresentar o seu conteúdo. Isso pode ser manipulação? Pode e geralmente é. Mas concordando com as palavras do Ricardo Ventura que diz que nem toda manipulação é mal-intencionada. Cuidado com falsas primeiras impressões! O simples fato de o apresentador do conteúdo ser dramático na sua apresentação não representa carácter! Pense em apresentadores de programas de TV. Existem muitos e muitos jornalistas também. Alguns podem se envolver em polêmicas e mesmo assim não são pessoas de má índole.
Dois exemplos: O Marcius Melhem foi acusado de ser um assediador por um grupo de mulheres e como ele era ator e trabalhou como humorista, não era muito difícil de imaginar que as histórias de assédio eram verdadeiras. Ele mesmo deu entrevistas dizendo que pelo contexto do ambiente nos estúdios era perfeitamente factível acontecer algo mais erotizado ou sexualizado. Ele era diretor do núcleo de humor e existiam denúncias de que ex-diretores da Globo cometiam assédio e abuso. Mas depois ele conseguiu mostrar que o grupo de mulheres que o acusavam eram movidas à vingança por motivos profissionais e pessoais. O Marcius Melhem é inocente e um santo? Inocente ele mostrou que é, mas santo já é um julgamento de carácter que você precisaria trabalhar e viver perto dele para saber.
A Taryana Rocha é uma psicanalista que não é formada em psicologia e tem algumas características dramáticas na sua maneira de se expressar. Ela é filha de mãe narcisista abusiva e eu fiz essa conexão mental de ter traços narcisistas, incluindo aí um relato dela mesma de que buscava validação sem perceber na academia fazendo musculação e consumindo suplementos. Agora isso invalida o conhecimento que ela tem? Eu li algumas postagens por aí de pessoas dizendo para não seguir a Taryana porque ela parecia muito enviesada e nunca entrava em detalhes no relacionamento com a mãe. Primeiro que ela não precisa falar tudo sobre a mãe para todo mundo saber. Segundo que invariavelmente ela tem heranças genéticas e comportamentais da mãe, mas ela estudou para superar o abuso e os traumas. Pode não ser uma unanimidade, mas charlatã não é. Eu já vi em algum vídeo da Dr. Ramani alguém comentando que procurou um especialista em narcisismo com doutorado por causa de um relacionamento abusivo. Se frustrou porque não conseguiu a ajuda que esperava conseguir. Ou seja, ter um doutorado também não garante que é a melhor pessoa para tratar de traumas advindos de um relacionamento abusivo com um narcisista por exemplo.
Mais um exemplo de viés: A Dr. Ana Beatriz Barbosa fala de pessoas borderline como se todas elas fossem intensas, cheias de amor, expressivas e por vezes dramáticas. Ela sempre pinta borderline como se fossem grandes artistas, grandes bem feitores e as pessoas com mais amor para dar do mundo. Ela comenta casos de atores ou celebridades borderline e diz que ter características borderline é até vantajoso para uma carreira artística como por exemplo a Amy Winehouse. Ela chega a dizer que grandes atores e atrizes tem coisas em comum com um borderline, como conseguir viver um personagem de novela com uma interpretação muito acima da média. Num programa de entrevista da TV Cultura ela chegou a dizer que o famoso assassino em série Francisco de Assis Pereira, que foi chamado de maníaco do parque pela mídia, era o recordista de receber cartas românticas. Ela diz que boa parte destas cartas pareciam vir de mulheres borderline. Pergunta: Essas mulheres borderline sabem que estão querendo casar com um assassino em série? Sabem sim. A Ana Beatriz diz que essas mulheres costumam ser atraídas por psicopatas e vice-versa porque aquele cara nunca as abandonaria. Um dos sintomas do borderline é o medo do abandono. Essa explicação dela é muito estereotipada porque ela leva aquela frase do amor cego e doentio como a grande explicação para borderline ser apaixonado por psicopata. Antes de pensar no diagnóstico do borderline e do psicopata, pense é nas características e nos comportamentos, não fique alimentando viés do jeito que a Ana Beatriz fica divulgando.
Eu escrevi neste site muitos artigos onde a referência é o Mark Rosewater. O próprio Mark se declara uma pessoa expressiva que não reprime emoções, que simplesmente mostra o que sente e ele dá muitos exemplos de vida nos artigos dele. Aí vem a pergunta: Ele teve mãe borderline ou ele tem traços borderline? Por algum tempo eu achava que sim e por causa do que a Ana Beatriz diz. Mas hoje vejo que ser artista não tem nada a ver com ser borderline. Toda pessoa borderline é extrovertida e com veia artística? Não para as duas perguntas. Existem sim pessoas borderline sem veia artística e que são introvertidos. Também existem borderlines violentos ou com comorbidade de muitos traços narcisistas. Assim como borderline pode ter intersecção com vários outros transtornos de personalidade. O viés de você achar que toda pessoa emotiva e reativa necessariamente tem traços borderline é exatamente o mesmo que faria você acreditar que qualquer pessoa que varia muito de humor entre positivo e negativo é um bipolar. Não é assim que diagnósticos são feitos.
Eu não sigo o Eslan Delanogare. Mas ele tem participações em podcasts por aí em que ele defende a tese de que pessoas criativas e transtornos mentais são associados. Ele diz por exemplo que Hollywood é um paraíso de esquizofrênicos e bipolares, porque lá tem muita gente maluca e artista. Só que cuidado com este estereótipo! Você ter um estereótipo de que todo artista é louco e vice-versa é o mesmo que acreditar que todo criminoso cruel é psicopata e vice-versa.