O ego é seu inimigo: Difference between revisions
No edit summary |
|||
(21 intermediate revisions by the same user not shown) | |||
Line 1: | Line 1: | ||
O livro é bom para ler e pensar, mas não espere profundas discussões filosóficas ou psicológicas. O que o autor fez foi contar histórias de sucesso e fracasso e o que o ego tinha a ver com tudo. É como um livro que relata na prática o que o ego faz. É um livro pequeno e fácil de ler. Tem três partes: aspirações, sucesso e fracasso. Cada capítulo conta uma história do ego fazendo seu estrago no caso de um imperador, um general, algum empresário famoso. No caso das histórias bem-sucedidas o livro trata de como o ego não se tornou um empecilho e a virtude da humildade. Mas se você procura algo sobre emoções, psiquismo e relações humanas esse livro não tem nada sobre esses assuntos. O fato dele ter escolhido de exemplo muitos políticos acaba mostrando também um certo viés no livro. | |||
{| | |||
|- | |||
|__TOC__ ||[[file:ego_capa.jpg|500px]]</div> | |||
|} | |||
== Prólogo doloroso == | == Prólogo doloroso == | ||
Line 11: | Line 14: | ||
Li umas coisas sobre transtorno de personalidade e uma das explicações é que a pessoa desenvolveu o transtorno como forma de adaptação. Se for olhar, um psicopata simplesmente não se importa com ninguém e isso vem associado a não se importar com o que os outros fazem. Megalomania e senso de superioridade, de certa forma, são defesas contra fracassos. Delírios e alucinações também podem ser interpretados como uma defesa contra a realidade hostil. Aí que em casos extremos é impossível desfazer essa defesa e você não consegue tratamento de jeito nenhum. A fundação dessas personalidades muito extremas é forte e até demais. | Li umas coisas sobre transtorno de personalidade e uma das explicações é que a pessoa desenvolveu o transtorno como forma de adaptação. Se for olhar, um psicopata simplesmente não se importa com ninguém e isso vem associado a não se importar com o que os outros fazem. Megalomania e senso de superioridade, de certa forma, são defesas contra fracassos. Delírios e alucinações também podem ser interpretados como uma defesa contra a realidade hostil. Aí que em casos extremos é impossível desfazer essa defesa e você não consegue tratamento de jeito nenhum. A fundação dessas personalidades muito extremas é forte e até demais. | ||
Se pensar no inverso também existe rigidez na forma de inferiorizarão, vitimização ou mesmo acreditar em poderes sobrenaturais. Quando a pessoa tem isso muito enraizado é difícil mudar. Se a pessoa vive normalmente com crenças absurdas, não tem muito o que fazer se a vida dela não tem grandes problemas. | Se pensar no inverso também existe rigidez na forma de inferiorizarão, vitimização ou mesmo acreditar em poderes sobrenaturais. Quando a pessoa tem isso muito enraizado é difícil mudar. Se a pessoa vive normalmente com crenças absurdas, não tem muito o que fazer se a vida dela não tem grandes problemas. Talvez até valha o questionamento: o que é considerado como crença absurda? Absurda para quem? Em que contexto? | ||
= Aspirações = | = Aspirações = | ||
Line 24: | Line 27: | ||
== Falar, falar falar == | == Falar, falar falar == | ||
A ideia geral do capítulo é falar menos e produzir mais. | |||
Eu já devo ter lido em várias reportagens sobre atletas de alta performance a mesma coisa: nunca cante vitória antes da hora. Eu também já percebi como blog custa muito pra manter. O problema maior não é o dinheiro, mas publicar sempre. Parece que tem pessoas que estão tão preocupadas com publicar sobre alguma coisa que esquecem de fazer. Em fóruns de criação de jogos eu já vi e passei por isso. Você cria um tópico e contar o progresso e atualizar acaba sendo tão trabalhoso que você perde muito tempo com isso. | Eu já devo ter lido em várias reportagens sobre atletas de alta performance a mesma coisa: nunca cante vitória antes da hora. Eu também já percebi como blog custa muito pra manter. O problema maior não é o dinheiro, mas publicar sempre. Parece que tem pessoas que estão tão preocupadas com publicar sobre alguma coisa que esquecem de fazer. Em fóruns de criação de jogos eu já vi e passei por isso. Você cria um tópico e contar o progresso e atualizar acaba sendo tão trabalhoso que você perde muito tempo com isso. | ||
Line 32: | Line 37: | ||
== Ser ou fazer? == | == Ser ou fazer? == | ||
A ideia é que o meio pode corromper a sua alma. Aí é que entra a ideia das aparências. Ser aquilo ou fazer aquilo? Vale a pena o preço? Um exercício que John Boyd fazia era escrever as palavras DEVER, HONRA e PÁTRIA. Depois riscá-las e escrever ORGULHO, PODER E GANÂNCIA. Ou seja, virtudes podem ser deturpadas e se transformarem em defeitos. Essa transformação passa pelo ego e acontece em toda parte. | |||
Muita coisa que o Mark Rosewater diz sobre design é sobre ego e uma das coisas é querer provar que você pode. Algumas cartas foram feitas pensando assim e deram errado. Uma coisa no desenvolvimento de jogos é querer fazer algo para satisfazer a si mesmo, o que acaba invariavelmente deixando o público do jogo em segundo plano. | Muita coisa que o Mark Rosewater diz sobre design é sobre ego e uma das coisas é querer provar que você pode. Algumas cartas foram feitas pensando assim e deram errado. Uma coisa no desenvolvimento de jogos é querer fazer algo para satisfazer a si mesmo, o que acaba invariavelmente deixando o público do jogo em segundo plano. | ||
Line 40: | Line 47: | ||
== Torne-se um aprendiz == | == Torne-se um aprendiz == | ||
Resumidamente, o capítulo diz que não podemos ter a presunção de já sabermos tudo. Sempre há algo a mais para aprender. Sempre há alguma coisa nova para descobrir. Isso invariavelmente esta atrelado à capacidade de ouvir críticas e receber tanto elogios quanto negativas. O ego se protege negando as críticas e rejeitando as opiniões contrárias. Ser humilde é necessário para aprender. | |||
Os transtornos de personalidade têm uma falha de autocrítica. Pesquise pelos conceitos de egosintônico e egodistônico. A pessoa tem uma falha na autopercepção. Se perceber as próprias falhas fosse imediato, o próprio transtorno seria resolvido. Na verdade, qualquer transtorno deixaria de existir se a capacidade de se autocorrigir fosse inata a qualquer um. Pra isso que existem tantos médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, conselheiros, etc. Tem um limite no quanto uma pessoa consegue ver de si mesma. Dependendo de como o ego se defende a pessoa pode ser rígida a tal ponto que mudar é impossível. | Os transtornos de personalidade têm uma falha de autocrítica. Pesquise pelos conceitos de egosintônico e egodistônico. A pessoa tem uma falha na autopercepção. Se perceber as próprias falhas fosse imediato, o próprio transtorno seria resolvido. Na verdade, qualquer transtorno deixaria de existir se a capacidade de se autocorrigir fosse inata a qualquer um. Pra isso que existem tantos médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, conselheiros, etc. Tem um limite no quanto uma pessoa consegue ver de si mesma. Dependendo de como o ego se defende a pessoa pode ser rígida a tal ponto que mudar é impossível. | ||
Line 46: | Line 55: | ||
== Não seja apaixonado == | == Não seja apaixonado == | ||
O capítulo todo se resume a criticar tudo que fazemos e decidimos movidos pela emoção, no caso a paixão. Isso é um problema nos esportes e especialmente na política. Políticos que tomam decisões por razões de seguirem as emoções tomam decisões erradas ou pelo menos questionáveis. Quando se toma decisões movidas pela razão as coisas são melhores. | |||
Assisti algumas entrevistas do canal Investigação criminal e 99.99% dos crimes são cometidos por razões de emoção. O que não deve ser surpresa pra ninguém. Transtornos mentais causam crimes? Em alguns casos sim, mas é um percentual pequeno segundo os dados mais confiáveis que se tem. Uma das pessoas que dizem isso é o Dr. Guido Palomba e outros especialistas forenses. O percentual dos crimes que tem relação com transtornos mentais, poucos a pessoa perdeu a consciência de si, a grande maioria mantém a consciência mesmo com o transtorno. | Assisti algumas entrevistas do canal Investigação criminal e 99.99% dos crimes são cometidos por razões de emoção. O que não deve ser surpresa pra ninguém. Transtornos mentais causam crimes? Em alguns casos sim, mas é um percentual pequeno segundo os dados mais confiáveis que se tem. Uma das pessoas que dizem isso é o Dr. Guido Palomba e outros especialistas forenses. O percentual dos crimes que tem relação com transtornos mentais, poucos a pessoa perdeu a consciência de si, a grande maioria mantém a consciência mesmo com o transtorno. | ||
Line 65: | Line 76: | ||
A descrição da personalidade narcisista é de alguém que se recusa a estar abaixo de outra pessoa. O(a) narcisista precisa estar acima, sempre. Se isso esta associado com ostentação ou não, não sei. A descrição da personalidade passivo agressiva é semelhante. Diz que é alguém que se recusa a cumprir ordens. A descrição da contradependência é alguém que, como diz o nome, não quer depender dos outros. Mas isso é em relação a relacionamentos afetivos. Independência e isolamento não são a mesma coisa em termos de comportamento humano. | A descrição da personalidade narcisista é de alguém que se recusa a estar abaixo de outra pessoa. O(a) narcisista precisa estar acima, sempre. Se isso esta associado com ostentação ou não, não sei. A descrição da personalidade passivo agressiva é semelhante. Diz que é alguém que se recusa a cumprir ordens. A descrição da contradependência é alguém que, como diz o nome, não quer depender dos outros. Mas isso é em relação a relacionamentos afetivos. Independência e isolamento não são a mesma coisa em termos de comportamento humano. | ||
Fazer um trabalho ''"invisível"'' tem várias vertentes. Alguns professores já me falaram que o trabalho de quem cria modelos ou que faz testes práticos é muito importante. | Fazer um trabalho ''"invisível"'' tem várias vertentes. Alguns professores já me falaram que o trabalho de quem cria modelos ou que faz testes práticos é muito importante. Está na base de várias coisas que são criadas. Mas ninguém quer fazer porque é um trabalho que não rende fama ou reconhecimento. Geralmente são trabalhos chatos, manuais e repetitivos. Similar a isso, a profissão de professor é uma que isso acontece. Dependendo do país e da cultura um professor é muito ou pouco valorizado. O ponto que o autor do livro quer chegar é que se formos arrogantes, esnobes ou preconceituosos, não poderemos começar por baixo para depois crescer. O ego não quer se sujeitar a isso porque sempre acha que merece mais e melhor. Mesmo depois de chegar no topo o ego continua sendo um perigo, pois pode ser o que nos derruba. | ||
== Se contenha == | == Se contenha == | ||
Line 72: | Line 83: | ||
== Saia da sua própria cabeça == | == Saia da sua própria cabeça == | ||
Todo mundo é suceptível a cair nas armadilhas da ambição e sonhos. Perder a noção da realidade e ficar dentro de uma fábula que só existe na sua cabeça. Até um certo ponto é saudável. Mas quando toma conta da pessoa vira um problema. | |||
Eu assisti um vídeo de um canal de transtorno borderline e narcisista e o especialista (Frank Yeomans) disse que uma maneira de explicar as ilusões e fantasias de um narcisista é a de que a realidade é agressiva. Para se defender a mente do narcisista cria um filtro da realidade que favorece a si mesmo o tempo inteiro. Seria uma explicação bem parecida com pessoas paranoides. Nesse caso a pessoa tem um filtro de que existem ameaças ou que o mundo é uma ameaça e daí vem uma barreira mental de proteção contra essa ameaça. Não cheguei a ver sobre isso, mas já vi alguma tese por aí de que grandes líderes megalomaníacos podem misturar traços de psicopata, narcisista e paranoia numa mistura que explicaria guerras com massacres de milhares ou milhões de pessoas. | Eu assisti um vídeo de um canal de transtorno borderline e narcisista e o especialista (Frank Yeomans) disse que uma maneira de explicar as ilusões e fantasias de um narcisista é a de que a realidade é agressiva. Para se defender a mente do narcisista cria um filtro da realidade que favorece a si mesmo o tempo inteiro. Seria uma explicação bem parecida com pessoas paranoides. Nesse caso a pessoa tem um filtro de que existem ameaças ou que o mundo é uma ameaça e daí vem uma barreira mental de proteção contra essa ameaça. Não cheguei a ver sobre isso, mas já vi alguma tese por aí de que grandes líderes megalomaníacos podem misturar traços de psicopata, narcisista e paranoia numa mistura que explicaria guerras com massacres de milhares ou milhões de pessoas. | ||
Line 111: | Line 124: | ||
Num vídeo de análise do Ricardo Ventura, do canal ''"não minta pra mim”'', o Ricardo disse que as redes sociais estão cheias de pessoas buscando a perfeição das outras. É uma coisa que o Pedro Calabrez também fala sobre. Todo mundo põe numa rede social aquilo que é mais interessante e não põe o que não quer. Daí você só vê fotos bonitas, lugares perfeitos e tudo que parecer ser uma vida de glamour. Mas é verdade? Ou aquilo é ilusão? Pior que isso realmente tem um peso grande porque tem muita gente mesmo que acredita em tudo que vê e pode até ser um infeliz por aí que se cobra por uma coisa que não é verdade. | Num vídeo de análise do Ricardo Ventura, do canal ''"não minta pra mim”'', o Ricardo disse que as redes sociais estão cheias de pessoas buscando a perfeição das outras. É uma coisa que o Pedro Calabrez também fala sobre. Todo mundo põe numa rede social aquilo que é mais interessante e não põe o que não quer. Daí você só vê fotos bonitas, lugares perfeitos e tudo que parecer ser uma vida de glamour. Mas é verdade? Ou aquilo é ilusão? Pior que isso realmente tem um peso grande porque tem muita gente mesmo que acredita em tudo que vê e pode até ser um infeliz por aí que se cobra por uma coisa que não é verdade. | ||
Uma coisa que eu li em alguns relatos é que a personalidade narcisista não admite concorrência. Não admite que alguém seja melhor. É uma ofensa mortal não ser o(a) melhor. Dentre as reações possíveis de um narcisista tem humilhar, difamar, inversão de culpa, projeção. São pessoas com um egoísmo muito maior do que a média. É doentio. No caso de psicopata mais perverso pode até incluir matar mesmo quem estiver no meio do caminho rumo ao poder ou dinheiro. | Uma coisa que eu li em alguns relatos é que a personalidade narcisista não admite concorrência. Não admite que alguém seja melhor. É uma ofensa mortal não ser o(a) melhor. Dentre as reações possíveis de um narcisista tem humilhar, difamar, inversão de culpa, projeção. São pessoas com um egoísmo muito maior do que a média. É doentio. No caso de psicopata mais perverso pode até incluir matar mesmo quem estiver no meio do caminho rumo ao poder ou dinheiro. Todo mundo que não aceita concorrência necessariamente é perverso ou narcisista? Não, é apenas uma característica e você pra fazer um diagnóstico precisa olhar o contexto, o histórico e a linha do tempo. | ||
= Sucesso = | |||
Quem é fã do Tony Stark deve saber que o personagem é inspirado no Howard Hughes. | |||
Se você pesquisar a personalidade narcisista vai achar uns 95% de histórias de abuso, relacionamentos tóxicos, desgraças e traumas. Mas é preciso separar o que é o transtorno de personalidade narcisista do abuso e do mau caratismo. Algumas coisas como se sentir importante, se sentir o centro das atenções, a busca pela validação e o aplauso. Tudo isso não necessariamente é patológico e tóxico porque depende do grau e do contexto. | |||
Eu dei uma lida sobre o Steve Jobs e dizem que ele tinha todas as características da personalidade narcisista. Ele era um gênio e um bilionário. Criou o império da Apple. Mas tinha um lado obscuro da personalidade dele que exibida todas as coisas ruins da personalidade narcisista. Desdém, arrogância, humilhações, xingamentos, despreza sentimentos dos outros, sentimento de superioridade, etc. Só consigo imaginar que ele teve suporte de outras pessoas na carreira, porque se dependesse dessas características ruins todas ele teria falido faz muito tempo e morrido pobre. | |||
Uma coisa que eu li sobre a personalidade narcisista é que não necessariamente são pessoas bem-sucedidas ou malsucedidas. Os dois extremos são possíveis. Já li que psicopatas também podem ser bem-sucedidos. Não necessariamente é um criminoso que vai preso e nunca mais volta se for um caso grave. Pode muito bem ser alguém que passa despercebido por todos e faz sucesso, porque tem a habilidade de esconder muito bem as coisas negativas de um psicopata. Eu listei 3 livros de autobiografias de psicopatas na minha lista de livros para ler. Um deles é o James Fallon, que se declarava um psicopata pró-sociedade. Agora cuidado com declarações de psicopatas que se dizem pró-sociedade porque pode ser manipulação e mentira. | |||
== Sempre continue estudando == | |||
Do que eu li dos transtornos de personalidade, todos eles têm em comum uma pessoa inflexível. Mas é inflexível tipo mil vezes mais do que uma pessoa rígida ou teimosa. É uma cabeça fechada num grau extremo mesmo. Daí que uma das coisas que acontece é a pessoa não aprender com os erros. Na cabeça da pessoa assim com frequência o erro é seu ou do mundo, mas nunca dela. No livro da Ana Beatriz Barbosa sobre psicopatas ela diz que um psicopata se orgulha do que faz e por mais que seja errado, na cabeça do psicopata é o mundo que está errado. Tanto que seria natural esperar que punição sirva de lição para um psicopata, mas não funciona. Na cabeça de um a punição é uma premiação. Como isso acontece no cérebro não faço ideia. | |||
Eu assisti umas entrevistas de criminalistas falando de psicopata e a Rosângela Monteiro disse que uma falha dos psicopatas é a megalomania. O psicopata se sente tão forte e tão acima de tudo, que acaba cometendo crimes com erros que levam à sua posterior prisão. Já vi uns comentários falando que esses erros podem até serem propositais, pra ser preso de propósito. Mas não sei o que dizer sobre isso. O que posso afirmar é o seguinte: se você planeja um crime, qualquer que seja, você se preocupa com dar certo e conseguir o que quer. Ninguém planeja um crime pensando em dar errado ou consegue prever tudo que poderia dar errado porque é simplesmente impossível prever tudo. Querer prever tudo que poderia dar errado inclusive é uma característica de pessoas exageradamente perfeccionistas ou exageradamente ansiosas. | |||
O Mark Rosewater tem um microblog de respostas e uma vez alguém perguntou se uma carta que fazia o jogador comprar todo o deck de uma vez não era um risco e um tipo de carta que poderia quebrar o jogo por causa desse efeito muito forte. A resposta dele foi ''“não assumir riscos é pior do que não assumir risco nenhum”''. Ele disse que gosta dos erros por causa do aprendizado. Numa coluna que ele escreveu ele disse que explorar novos terrenos em cada set traz desafios e é inevitável que novos erros sejam cometidos. Uma coisa que eu concordo com ele é que tem tanta carta que deu errado em Magic que o jogo já teria falido se não fosse a capacidade deles de se adaptar às cartas e aos jogadores. Uma carta errada não pode ser retirada do mercado mais e nem corrigida porque a impressão já foi. No máximo banida de campeonatos. Mas o curioso é que a mesma carta pode ser desbanida depois dependendo de outras cartas que são feitas. | |||
Eu comecei um site de level design e depois de adaptar todas as lições do Mark Rosewater para level design conclui que é impossível saber tudo sobre level design. É muita coisa. Todas as áreas e qualquer graduação tem isso. É impossível para uma pessoa só saber tudo sobre uma coisa só. Nenhuma escola ensina tudo sobre um assunto. É impraticável ter uma grade que tenha tudo. Alguma coisa tem que ser priorizada. | |||
== Não conte uma história para si mesmo == | |||
Uma das coisas que eu li sobre a personalidade narcisista é isso: pessoas que criam uma fantasia, uma ilusão, a respeito de si mesmo. Tem um vazio, um sofrimento gigantesco no fundo de um narcisista. Pra lidar com isso a pessoa cria uma história de sucesso pra si mesma. Isso é um perigo no caso de psicopatas. Muitos inventam uma história completamente falsa exatamente pra enganar e conseguir o que querem. | |||
Sobre a personalidade passivo agressiva tem um cinismo associado que é semelhante a um narcisista. Sempre que algo dá errado a pessoa responde ''"eu já sabia que ia dar errado"''. Mas se sabia por que fez? Ou por que não avisou? Todo mundo já deve ter dito algo ou visto alguém dizer essa frase ''"Eu já sabia"'' (tem [https://www.youtube.com/watch?v=3dnodYhDLIw vídeo disso no canal Arata Academy]). Eu já vi um caso assim muito extremo. Uma pessoa que respondia ''"eu já sabia"'' pra tudo mesmo. Um grupo de pessoas participava de um processo seletivo e depois esse processo era cancelado por alguma razão. A pessoa respondia ''"eu já sabia que ia ser perda de tempo isso daí, vocês perderam tempo e dinheiro nisso daí"''. Uma pessoa respondeu ''"Que comentário estranho. As pessoas foram reembolsadas então do que você falando de ser inútil? Achei que você fosse incentivar as pessoas, ajudar, no lugar de ficar fazendo esses comentários negativos"''. | |||
Eu já passei por coisas como querer fazer levels grandiosos. Não adianta nada querer fazer um level grandioso e montar um plano pra isso se você não consegue fazer um level pequeno primeiro. Um level grandioso nada mais é do muitos levels pequenos combinados. Algo parecido na faculdade quando tem aqueles calouros que querem ganhar o próximo Nobel de física, mas tiram nota baixa numa prova. A dificuldade de uma prova de cálculo é muito menor do que os problemas enfrentados por quem ganha um Nobel de física. Aquelas histórias de que um físico famoso se formou cedo, pulou séries e era o primeiro da turma escondem outras coisas. É muito romantizado acreditar que gênios precoces não tiveram dificuldade nenhuma pra chegar lá. | |||
Essa questão do planejamento eu vi muitas reportagens sobre empresas de sucesso ou aprovação no vestibular. Em geral as reportagens gostam de fazer isso, contar a história por trás do sucesso. Mas quando você tenta aplicar aquela história em você mesmo, geralmente dá errado. Dá errado porque cada caso teve problemas particulares que não são os mesmos que você tem. Não tem uma fórmula mágica para o sucesso. Dietas rápidas e milagrosas estão nesse barco da facilidade. Isso é um prato cheio para golpistas e charlatões que prometem curas milagrosas, receitas para o sucesso e todo tipo de guru. | |||
== O que é importante para você? == | |||
O ego não quer fazer escolhas para perder. O ego quer ganhar tudo, sempre. Não quer fazer concessões e esse é o problema. Querer abraçar tudo é impossível. Você precisa fazer escolhas e muitas vezes recusar coisas. O ego não quer recusar ofertas irrecusáveis, mas você precisa resistir à tentação. | |||
Isso é uma coisa que li sobre pessoas narcisistas. Elas não aceitam que os outros tenham. O outro ser feliz parece que ofende um narcisista tão profundamente que ele(a) sente que precisa prejudicar os outros. Isso pode acontecer mesmo com qualquer um, mas no caso do narcisismo patológico chega num nível doentio. Um nível de paranoia mesmo. A pessoa realmente sente que todo mundo é um concorrente na vida. Tem vários artigos e vídeos por aí dedicados ao tema de mães narcisistas e todos descrevem uma relação doentia mesmo. Uma mãe que literalmente faz de tudo contra a filha. É importante reforçar que pessoas ciumentas e/ou invejosas não necessariamente são caso de narcisista, pode ser outra coisa. | |||
O Pedro Calabrez tem um vídeo tratando das redes sociais e como ficar buscando o que os outros tem só leva a frustração e infelicidade. Quem garante que os outros tem tudo aquilo que aparece na rede social? Pode ser uma mentira, uma máscara, uma ilusão e muita gente acredita em tudo. Quem garante que a pessoa é feliz por ter aquilo? Eu li sobre a depressão e existe um preconceito de que depressão é coisa de rico. Não é. Depressão ataca ricos e pobres por igual. | |||
Tem um vídeo do Pedro Calabrez sobre dizer não. Vale para muita coisa. Dieta por exemplo. Comprar agora ou economizar primeiro? Pagar à vista ou parcelado? | |||
No vestibular o maior inimigo não é o número de concorrentes. O maior inimigo é o psicológico. O professor que corrige as questões e a redação só vê um número de inscrição e mais nada. Quem avalia as provas não sabe se você sabe aquela matéria ou decorou. Não sabe se você é pobre ou rico. Não sabe se você estudou pouco ou muito. O que o corretor vê lá é o que esta escrito no espaço das respostas, mais nada. | |||
Já devo ter lido várias reportagens e relatos de gente que foi fazer esse ou aquele curso na faculdade porque alguém disse pra fazer. Porque o pai queria. Porque a mãe queria. Aí é outra coisa que eu cheguei a ler, projetar sonhos irrealizados no filho por exemplo. Pode dar certo, mas pode dar errado também. Em algum lugar eu lembro de ter visto que muitos pais ficam comparando filho de um com filho de outro, como se isso provasse alguma coisa. | |||
Isso me lembra o filme do Titanic um pouco. Curiosamente parecia que a alta sociedade no filme era retratada como uma classe orgulhosa, arrogante e poderosa. Mas infeliz por dentro. Enquanto isso as classes baixas eram mais felizes apesar da pobreza. Devem ter vários artigos por aí vendo a correlação entre felicidade e dinheiro. | |||
== Arrogância, controle e paranoia == | |||
O tema central do capítulo é aquela máxima ''“O poder corrompe”''. O sentimento de merecer ou de ter direito vem do fato de que você teve que superar certas barreiras para chegar lá. Você sente que é especial de alguma forma, que lutou e fez por merecer. Os obstáculos que você passou seriam a prova das suas qualidades. O controle é a sensação de que você comanda tudo ao seu alcance. Uma sensação de que todas as suas decisões são fruto de sabedoria e que você pode controlar os resultados. A paranoia vem da sensação de que aqueles que pensam diferente, que discordam de você, estão sempre errados. | |||
Sobre os transtornos de personalidade tem uma definição por aí que combina as características de um psicopata com narcisista e paranoia. Seriam o caso de líderes megalomaníacos que provocam massacres e guerras como o caso do Hitler. No caso dos narcisistas tem uma subcategoria que é a dos narcisistas ocultos ou encobertos, que ao contrário de um narcisista extrovertido e aberto, é um narcisista que se esconde atrás de uma aparente fragilidade e falsa modéstia. São pessoas que aprenderam a usar a compaixão dos outros pra manipular. É perigoso porque é mais difícil de perceber a manipulação. | |||
Sobre a personalidade obsessivo compulsiva, não sei porque são pessoas que tem uma vida inteira ditada por regras rígidas e inflexíveis. Métodos, horários, esquemas, uma necessidade de controle fora do normal. | |||
Eu já devo ter visto isso em várias comunidades por aí. Um usuário sobe ao cargo de administrador e as pessoas começam a reclamar que o admin é egoísta, egocêntrico, que a comunidade esta indo pelo ralo. Várias brigas de clans em jogos surgem desse mesmo modo. Tudo gira em torno de ego. | |||
Uma vez encontrei alguém que tinha essas características: sensação de ter poder, direito, merecer mais, controlar do próprio jeito e um delírio de que ou você era amigo ou inimigo. Pessoa mais egocêntrica que já vi. Não era narcisista de fato, mas parecia em muitas coisas. Sempre se gabando de coisas sem muito valor, enfatizando que sofreu mais, enfatizando que lutou mais do que todo mundo, enfatizando que era diferente de todo mundo. Se você concordava era tratado como amigo. Senão, era chamado de opositor, concorrente ou traidor da comunidade. Ficava numa verdadeira fantasia de que seria um representante excepcional e agradecendo por um apoio que sequer existia. Não era narcisista porque aqueles comportamentos extremos de abuso, manipulação, desvalorização dos outros, etc não eram presentes. | |||
== Administre a si mesmo == | |||
Um bom líder é responsável consigo mesmo e sabe o que ele deve fazer. Requer a humildade de aceitar que há pessoas melhores para uma certa função. A pessoa faz alguma coisa melhor do que você e se você tentar controlá-la ou entrar nos detalhes que seriam de responsabilidade dela, vai dar problema. | |||
Tenho a impressão de que empresas ou países que tem um líder com uma personalidade disfuncional. Que seja narcisista, psicopata ou outra coisa. Caso tenha um suporte de alguém ou algum grupo que saiba administrar as coisas, acaba compensando. Até que ponto não sei dizer. Se a pessoa em questão não for um megalomaníaco sedento por poder ou numa paranoia de não confiar em ninguém deve haver uma forma de minimizar os problemas. | |||
Um dos traços da personalidade obsessivo compulsiva que eu li são pessoas que não são boas em delegar nada. Assumem tudo por si mesmas. Além de terem uma preocupação excessiva com minúcias, também se preocupam se os outros fazem igual a elas mesmas. O extremo oposto são as pessoas que não assumem nada de nada, sempre jogam tudo pra cima dos outros e eu também já vi isso acontecer numa comunidade. | |||
Eu joguei o Bioshok Infinite e o jogo passou por um desenvolvimento problemático. Um dos fatores que saíram nas notícias é que dizem que o Kevin Levine era perfeccionista e muito ruim em delegar funções. Eu não saberia dizer se havia um transtorno nesse caso e quantos casos pelo mundo isso não acontece? | |||
== Cuidado com a doença do eu == | |||
O ponto central é que por o eu acima de tudo e todos vai cedo ou tarde levar à ruína. O narcisismo dominando as suas ações significa que você fica muito preocupado com coisas que não deveria. Perde tempo com exibições, com manutenção da imagem e não dá atenção ao fazer o trabalho que tem que ser feito. | |||
Eu não sei fazer diagnóstico, mas pessoas egocêntricas tem em todo lugar e apenas uma pequena parte delas realmente tem algum transtorno. Tem que ser um caso de egocentrismo extremo pra ser um transtorno. No caso da personalidade antissocial por exemplo, cooperação não existe. São pessoas dominadas pelo senso do eu primeiro acima de tudo. Assisti umas entrevistas de psiquiatria forense e criminalistas. Você já viu uma quadrilha de psicopatas? Não existe, porque se tiver um psicopata só tem um no grupo. | |||
Toda pesquisa sobre personalidade narcisista retorna a imagem do narciso se admirando num reflexo na água. Resume bem o grande problema dessas pessoas. | |||
Uma vez li em algum fórum um cara que passou em engenharia na federal, mas ainda queria passar no ITA. Por que o ITA era considerado acima da federal. Depois de meses o cara admitiu que ele só queria o ITA por causa do ego. Tem um vídeo da [https://www.youtube.com/watch?v=XgHv3448E-Y| Susane Ribeiro] que se formou no ITA. Ela dizia que no cursinho e no colégio com preparação para o ITA as pessoas tinham vergonha de admitir que era difícil estudar e resolver exercícios. Que existia uma norma entre os alunos que era de sempre se mostrar sabe tudo, como se toda matéria fosse óbvia e fácil. De onde vem isso não sei. Mas é uma vaidade totalmente sem sentido. | |||
== Medite na imensidão == | |||
Esse capítulo lida com uma questão meio filosófica e meio espiritual. A questão de você ser um ponto no meio do universo. O ego funciona como uma barreira que impede de sentir a imensidão do universo. O ego quer ser especial e maior do que o universo. Algumas coisas são naturais como a vaidade, ego, paciência, poder, egoísmo, etc. Todos os sentimentos e emoções são os mesmos desde milhares de anos atrás. Os gregos já sabiam disso. Os egípcios já sabiam disso. Pessoas são pessoas desde milhares de anos e continuarão sendo por mais um tempo indeterminado. | |||
Eu já li uma parte do livro ''“O poder do Agora”'' e a ideia do livro é mais ou menos a mesma. A mente costuma ficar muito atrelada a tempo passado e futuro e daí surgem diversos problemas. Focar no tempo presente é o ideal. Histórias de meditação transcendental, alguns tipos de traumas e experiências de quase morte quase sempre lidam com esses questionamentos de vida. Questionar o que fazer, pra onde ir, o que eu sou e ressignificar a própria vida. | |||
A descrição dos transtornos de personalidade passa por essas questões de certa forma. Psicopata seria incapaz de se sentir conectado ao universo e parte de um todo, já que o ego do psicopata não permite criar conexão com nada além dele mesmo. Pessoas com uma percepção toda distorcida da realidade também seriam incapazes de ver a essência das coisas já que estariam presas numa realidade fabricada pela própria mente. A descrição geral costuma ser de pessoas presas dentro da própria mente e quebrar isso muitas vezes é impossível. | |||
Eu li uma página do ''"World of level design"'' e o autor lá diz q uma coisa que acontece com level design é você travar, ficar num bloqueio. É o que eu li que aconteceu com o projeto do Alan Wake. O jogo atrasou por causa desse bloqueio criativo. A ironia é que a história do próprio jogo é sobre um escritor que sofre de um bloqueio criativo. Eu também já sofri disso em vários mapas. Não tem uma resposta pronta, mas em comum se você se afasta do problema e vê uma perspectiva diferente de outro ponto, costuma ajudar. O Mark Rosewater diz que a cada set e tenta começar de uma nova perspectiva, como forma de favorecer a criatividade. | |||
A vida costuma trazer tantos problemas e obstáculos que as pessoas acabam perdendo a noção de si mesmas, perdem a essência das coisas. | |||
== Mantenha-se sóbrio == | |||
No mundo do design de jogos isso é bem verdade. Tem alguns designers que são desconhecidos, mas muito bons. Para estes a fama é o de menos. Mas tem o outro extremo, daqueles que buscam a fama e o sucesso. Na verdade, isso vale para qualquer área. Até mesmo em questões de meio ambiente e proteção dos direitos humanos tem os figurões que saem em todos os jornais e Tvs e aqueles desconhecidos que ninguém nunca ouviu falar. Até o prêmio Nobel já admitiu que a escolha de um Nobel da paz pode ser política. Dando o prêmio não por mérito, mas por outras razões. | |||
Vários professores já me falaram que no meio científico, muitas vezes um artigo é preterido por questões políticas. Não deveria acontecer, mas às vezes a amizade com um editor de uma revista científica acaba privilegiando um artigo em detrimento de outro. Esse tipo de politicagem acaba atrapalhando empresas, negócios e empresas de jogos também tem isso. | |||
Esse é o tipo de coisa que não tem resposta pronta. Razão x emoção. Razão pura não funciona em N situações. Emoção pura não funciona em N outras situações. A história de que todo psicopata é frio e calculista e não tem emoções é um mito. O meio termo perfeito entre razão e emoção também não deve existir. | |||
== Para o que comumente vem depois, o ego é o seu inimigo == | |||
Eu já devo ter lido várias histórias de celebridades que chegaram no topo, ganharam muito dinheiro mas caíram em depressão. Deve ser daí o mito de que depressão é coisa de rico. Além de que o tratamento da depressão custa dinheiro. Com certeza não é o dinheiro que provoca a depressão, mas outras coisas associadas ao dinheiro. | |||
Não lembro onde eu li, mas era um brasileiro famoso que disse que o maior medo dele no oceano não era uma tempestade. Mas uma calmaria. O oceano calmo dava mais medo do que o oceano numa tempestade com ondas de 20 metros. Faz sentido. Um dos problemas enfrentados pela navegação quando não haviam motores e os barcos eram movidos pelo vento era justamente a falta de vento. Sem vento o barco não tem mais propulsão, exceto pelas correntes oceânicas. | |||
Eu lembro da série ''"Heroes"'' que fez muito sucesso no início. Mas depois foi caindo em popularidade e a cada nova temporada a audiência caía mais ainda. Devem ter várias histórias por aí de pessoas ou empresas que uma vez que chegam no auge, desabam por diversas razões e uma delas é o ego. | |||
Uma coisa que eu li sobre narcisistas em geral é que são pessoas que não aceitam o sucesso dos outros. Mas isso chega num nível tão doentio que a pessoa é capaz de fazer uma campanha difamatória secreta para derrubar quem passou na frente. O pior disso é que não é como acontece na TV com escândalos saindo na primeira página. É muito mais dissimulado e envolve fofoca, chantagens, ameaças, insinuações, plantar um clima ruim que vai crescendo aos poucos até tomar proporções muito maiores. Isso também pode ser ao contrário, uma pessoa de sucesso que apresenta uma história impecável. Mas cuidado! Histórias impecáveis com certeza estão escondendo algo. Se por acaso aquele sucesso esconde uma pessoa altamente narcisista, maligna, que fez muitas coisas questionáveis pra chegar lá? | |||
= Fracasso = | |||
Este capítulo usa de exemplo Catherine Graham, a mulher que assumiu o comando do Washington Post. Não li a história dela. Mas suspeito que a diferença na história dela é questão de moral aprendida na infância. Alguns valores muito fortes que foram determinantes na condução do Washington Post. O autor simplifica demais o sucesso de Katherine porque ele não diz nada sobre o processo que a levou até lá. As experiências passadas desde a infância e o que ela aprendeu desde então é que fizeram a diferença. | |||
Eu li sobre a personalidade passivo agressiva. Já existiu essa personalidade na classificação oficial, mas ao longo dos anos sumiu. Eu já a vi na prática e tem todas as características de uma personalidade rígida e inflexível. São pessoas com uma agressividade que só se manifesta indiretamente por meio de ironias, piadas de humor negro, criar complicações ou empecilhos para os outros, recusa imensa em fazer o que os outros precisam ou querem. Uma pessoa negativista que expressa isso por meio de ações e fala. Parece depressão, mas geralmente não é. Uma característica marcante é uma vitimização constante, sempre no sentido de que você merecia mais, merecia melhor, que o mundo ou o meio estão contra você. Essencialmente é uma pessoa egoísta e egocêntrica, que aponta o dedo pra todo mundo e tudo, mas que não tem outras coisas que fariam dela um narcisista ou um psicopata. Um exemplo é quando os outros dependem de você ou precisam de você, mas você não faz, não responde, não dá satisfação e não explica nada. Ou você faz, mas faz errado, diferente do esperado e ainda por cima é deliberado e se justifica. O que dá uma leve impressão da pessoa ser fria como um psicopata. | |||
Histórias de superação, acidentes, doenças, costumam lidar com o insucesso e não há uma maneira ideal para todos os casos. Cada caso é um caso com suas particularidades. No caso específico de psicopatas criminosos por exemplo, não há como mudar a mente. Ser preso não é motivo de vergonha por exemplo. Há histórias de médicos famosos, com uma carreira profissional bem estabelecida, mas que escondiam um lado criminoso sombrio. Essas pessoas não se culpam por nada. Perder a carreira não é motivo para desespero, questionamentos ou reflexões. O que eu vejo pessoalmente é que alguns tipos de personalidade são tão inflexíveis que não há força externa que consiga fazer uma mudança naquela mente. Se a pessoa nega reflexões. Rejeita o contrário. Essa defesa mental é simplesmente inviolável. Isso também costuma acontecer com paranoias, delírios ou um negativismo extremo. | |||
Uma coisa que eu sou contra é a métrica das notas de prova. É muito fácil julgar A com nota 9 como sendo superior a B com nota 4. Médias também mentem. Duas médias podem ser iguais, mas os dados completos podem ser bem diferentes com notas altas e baixas distribuídas de formas bem diferentes. Essa inclusive é umas razões para o ENEM ter aquela fórmula do TRI. Porque as questões valerem 1 ou 0 é uma maneira simplificada demais para avaliar conhecimento numa prova. Por outro lado, o sistema perfeito e justo de ranqueamento não existe. | |||
Também concordo com o livro quanto a currículos perfeitos. Antes eu até achava mesmo que um currículo perfeito com notas altas era superior a um currículo cheio de notas baixas. Mas isso é só parte da história. É como pegar duas pessoas e uma tem o dobro do QI da outra. Quem é melhor? Melhor em que sentido? Um exemplo numérico: A tem as notas 2, 5, 7 e 9. Nesta ordem. B tem as notas 9, 7, 5, 2. Nesta ordem. C tem as notas 7, 9, 2, 5. Nesta ordem. As médias de A, B e C são iguais. Mas o que a ordem das notas diz? Não muita coisa além de pressupostos. Só se sabe que a história por trás de cada ordem de nota é diferente das demais. Quem estuda estatística sabe dessas coisas, que muitas vezes os dados não parecem o que são. Ou os dados têm mais além do que aparências. | |||
== Tempo aproveitado ou desperdiçado? == | |||
Esse termo vem do autor Robert Greene, que escreveu vários livros famosos. Basicamente o tempo morto é tempo gasto com coisas não produtivas. Que sejam vinganças, planejamentos de futuro que nunca acontecerão, fazendo alguma coisa inútil que não se ganha nada ou se deixando afundar nas próprias emoções. O tempo vivo seria o produtivo. | |||
O que eu li sobre os transtornos de personalidade diz muito sobre isso. Uma grande parte do tempo é gasta com preocupações que estão fora do seu controle. Por exemplo pessoas que vivem num medo constante de que uma conspiração está por vir. O medo constante de ser traído. Uma fuga para uma realidade alternativa, um universo que só existe na mente, onde as coisas funcionam como você quer. Casos clássicos de TOC incluem preocupações com coisas repetitivas, checagens, rituais ou outros comportamentos que a pessoa não consegue parar de fazer. Mesmo a depressão pode acontecer esse tipo de mecanismo na mente. | |||
A explicação disso é complicada, eu não sei explicar como isso acontece. Mas num vídeo do Alan Mocellim sobre relacionamentos abusivos ele fala sobre metacognição. A capacidade da mente de reavaliar as próprias convicções, comportamentos e percepções. O grande problema de muitos transtornos, incluindo os de personalidade, é que essa capacidade é reduzida ou perdida. No caso de um transtorno muito sério por exemplo. Se você questiona a pessoa o questionamento é interpretado como ofensa ou ataque. O que torna esses casos muito difíceis de lidar. | |||
Em algum lugar eu li sobre isso ou foi alguém que me disse. As duas coisas talvez. Não lembro mais. Mas a mente não pode ser obrigada a ficar no tempo vivo o tempo inteiro. A obsessão por trabalho também acaba sendo um problema. Um problema que o autor cita no capítulo é que às vezes você faz coisas que dão a sensação de estar vivo, mas na prática são tempo morto. Por exemplo um estudo científico sem aplicação nenhuma e sem objetivo. Se não tem aplicação e nem finalidade, pra que serve? É o ego querendo provar a si mesmo que você pode fazer algo? Ou quem sabe provar para os outros que você faz algo? É uma fuga de outra obrigação? Um adento aqui: pesquisa científica não necessariamente envolve aplicações práticas. | |||
Por exemplo o caso do John Wiles que resolveu o último teorema de Fermat. Ele ficava o dia inteiro estudando matemática? Não. Ele tinha lazer e momentos de descanso. Uma professora me disse uma vez que dormir é importante e muitas vezes é dormindo que se resolve um problema de matemática. Não, não é literal de resolver o problema durante o sono. Mas não dormir e trabalho em excesso prejudicam. | |||
== O esforço é o bastante == | |||
O capítulo é sobre se esforçar e não ser reconhecido por isso. Você atinge resultados, mas é punido, desprezado, ignorado, etc. O ponto é: você controla o que você faz, mas não controla o que os outros pensam. A questão é que o ego quer ser prestigiado e se não for, a reação pode ser de remorso, vingança ou simplesmente o abandono do que deveria ser feito. | |||
Eu já tive momentos que você tira 5, não é o bastante. Você tira 7, insuficiente. Você tira 9 e ainda se cobra porque faltou 1 pra chegar no 10. Isso que eu acho injusto no caso de medicina. Você tira, digamos 79 de 100 e isso seria suficiente ou até a maior nota em qualquer outro curso. Mas em medicina não, o último lugar aprovado tinha 81 de 100. Agora o interessante da mente é que quem não garante que até o primeiro colocado em medicina não pode se achar inferior? Quem garante que o primeiro colocado se sente ou se acha superior? Nas competições esportivas muitas vezes a estratégia conta mais para a vitória. Em vários esportes, se você se cobrar pela quebra do recorde, acaba perdendo por causa disso. Alguns tipos de prova tem pontuação negativa para questões com resposta errada. A ideia é que é melhor não chutar do que correr o risco de perder pontos. O importante é a nota máxima ou o suficiente para ser aprovado? | |||
Eu já li um pouco sobre TOC e alguns casos isso é clássico. A pessoa conta alguma coisa, limpa ou organiza alguma coisa. Mas o TOC tem um mecanismo na mente que a pessoa não para. Limpa e não basta uma vez, tem que ser duas. Tem que ser 10 vezes. Como isso funciona não sei. Tem explicações neurológicas e também emocionais. Também depende de fatores externos, como por exemplo um contexto que exija perfeição ou que premie a perfeição. | |||
O autor fala sobre como o ego adora se comparar com os outros. Mas essa discussão é bem mais profunda e complicada. Uma pessoa que se sinta inferior ou incapaz o tempo inteiro não é normal e provavelmente é algum tipo de transtorno mental, não apenas um problema de ego. O autor não diz muita coisa sobre desenvolver a resiliência e isso vai além de pensar no próprio ego. | |||
== Momentos clube da luta == | |||
O título do capítulo é por causa do personagem do filme. O personagem tem todos os pertences e casa destruídos por uma explosão que foi ele mesmo que fez sem saber. Melhor dizendo, uma personalidade diferente dentro dele mesmo. O tema do capítulo é que cedo ou tarde todos caem. Quando isto acontece o ego quer buscar culpados, quer reagir e nos faz ter reações impensadas. O ego quer se proteger e daí vem as reações impensadas. A saída é saber lidar com a realidade porque não há outro caminho. | |||
Uma coisa que eu li sobre os transtornos de personalidade é que a pessoa pode até saber que é um transtorno, mas se vai ou não mudar não depende de ninguém. Só ela mesma pode fazer isso. O problema é que tem casos extremos, como psicopata por exemplo, que não existe sofrimento. Não há razão nenhuma pra pessoa mudar. Aí também tem um preconceito com a depressão. A pessoa depressiva pode até querer mudar, mas não consegue e o problema não é a falta de vontade. | |||
Parece um paradoxo, mas eu assisti os vídeos do Alan Mocellim sobre relacionamentos abusivos. Tem um elemento em comum. Muitas vezes a pessoa foi atrás desses vídeos ou livros sobre isso pra tentar entender a pessoa abusiva. O que acontece é a pessoa entender mais sobre si mesma. É uma coisa que vi um psicanalista, Cássia Rodrigues, comentando. Relacionamento abusivo só existe porque as pessoas envolvidas se encaixam como chave e fechadura. Parando pra pensar, é verdade. Não teria como ser diferente. | |||
No livro ''"O lado bom do lado ruim"'' do psiquiatra Daniel Martins de Barros ele faz uma inversão de perspectiva. As emoções boas, elas podem ser negativas? E as ruins, podem valer de algo? A resposta é sim para as duas perguntas. Emoções negativas tem utilidade e valor. As positivas também têm seus lados negativos. No fundo tem até uma justificativa evolutiva para isso e já vi em algum lugar, acho que com o Pedro Calabrez, que um dos problemas é que o cérebro ainda não é totalmente adaptado a muita coisa que acontece no mundo. Daí surgem problemas. | |||
== Estabeleça limites == | |||
A ideia aqui é que o ego fora de controle leva à ruína. Pode levar até à morte. Se não levar à morte de si mesmo, leva à morte de pessoas em volta. Ou mata exatamente aquilo que damos valor. A questão é saber ver os limites do ego. Saber quando abandonar e não continuar numa espiral descendente que vá até o inferno. A pior decisão que o ego faz as pessoas tomarem numa crise é afundar ainda mais. Negar todo mundo, negar a realidade e comprar uma briga que não vai levar a lugar algum, exceto afundar ainda mais. O ego custa a assumir qualquer responsabilidade. | |||
A discussão desse capítulo me lembra de todo tipo de supervilão de qualquer história de super-heróis. Todos tem um ego tão grande que se recusam a ver erro em si mesmo. Aquela frase “Se eu não posso, ninguém mais pode” acontece o tempo todo. Aquele supervilão que busca a imortalidade existe mesmo na vida real. Tem milhares de exemplos de pessoas obcecadas por poder, fortuna ou mesmo viver para sempre. | |||
Uma coisa que eu li sobre a personalidade narcisista é que existe um risco de suicídio. Na descrição dessa personalidade parece absurdo pensar em suicídio. Mas quando chega num ponto em que a ilusão não se sustenta mais, a pessoa entra numa crise tão violenta que o risco de suicídio é altíssimo. Uma vez li um relato de uma mulher falando que saiu de um relacionamento abusivo com um narcisista. Ela disse que tinha toda vontade do mundo de falar ''“Vá pro inferno”'', mas ela disse ''“Eu te mandaria pro inferno, mas a sua vida já é tão ruim que você já está no inferno”''. Faz sentido. | |||
A Ana Beatriz Barbosa escreveu um livro sobre psicopatas e diz que muitos gostam de entrar na justiça. Por exemplo: ela disse que não comenta sobre políticos corruptos a menos que o caso já esteja julgado. Senão ela corre o risco de ser processada. É uma coisa que eu aprendi em algum momento. Se um caso vai parar na justiça, pode ser que o lado errado da história ganhe porque conseguiu argumentar melhor. Fica a pergunta: Vale a pena abandonar tudo em nome disso ou daquilo? Pelo que entendi, se for um psicopata, ele(a) já não dava valor ao que está abandonando em primeiro lugar. Qualquer pessoa pode reavaliar se aquilo tinha tanto valor quanto ela pensava que tinha. | |||
== Mantenha seus próprios padrões == | |||
A ideia do capítulo é que se você tiver critérios para você mesmo sobre o quanto você deveria ganhar, o quão bom você é, o quão longe você quer ir. O efeito disso é que você para de se comparar com o resto do mundo. Você assume uma postura mais humilde por esta mais atento às suas próprias qualidades e defeitos. | |||
Esse capítulo é meio contraditório. Uma coisa que eu li sobre a personalidade evitativa ou esquiva é que são pessoas que podem ter um grau de cobrança sobre si mesmas tão elevado, mas tão elevado, que uma das consequências é a pessoa literalmente evitar ou se esquivar de coisas que ela julga como difíceis ou complicadas. Não é a mesma coisa que uma fobia por exemplo. São pessoas que podem viver presas dentro de critérios tão exigentes com elas mesmas que elas evitam situações que julgam serem de risco. Não é uma paranoia também. Pelo que entendi são pessoas cautelosas, mas uma cautela que domina tudo que a pessoa faz e de maneira exagerada. É mais ou menos uma pessoa que catastrofiza muito e isso é crônico. | |||
Várias reportagens sobre transtornos alimentares têm a ver com esse excesso de cobrança da sociedade. A pessoa busca um padrão de beleza em que ela precisa se adequar ao que a sociedade espera. Aí eu vejo dois extremos. Um é um egoísmo de não querer se adequar de jeito nenhum por razões diversas e que tem a ver com você mesmo. O outro extremo é não ter identidade própria e buscar padrões externos o tempo inteiro. | |||
Uma coisa que eu li sobre vestibular e atletas é que a melhor métrica é sempre você mesmo. Superar a você mesmo, não os outros. O Mark Rosewater também fala sobre isso em Magic. Mas aí vem uma outra lição dele que é o ponto em que ficar buscando mais e melhor perde o sentido. Aí entra perfeccionismo exagerado e vaidade. Uma busca por ser melhor quando não tem mais sentido e pode até trazer prejuízos. | |||
== Sempre ame == | |||
A ideia do capítulo é que o ego não aceita ser contrariado. Se o ego se sentir acusado ou atacado a tendência é querer reagir. O capítulo conta a história William Randolph Hearst, que ficou tão obcecado por neutralizar o filme ''“Cidadão Kane”'' de Orson Welles, que fez uma das maiores campanhas difamatórias da história para acabar com Welles. Conseguiu o que queria, mas o tiro saiu pela culatra porque tempos depois o filme foi reconhecido como uma das maiores obras já criadas. Ironicamente, Willian Randolph ajudou com a divulgação do filme de tanto que ele surtou que o filme era um retrato de si e negativo. Orson Welles por sua vez nunca sentiu ódio do magnata. Pelo contrário, era um admirador. A solução é valorizar amor, perdão e não deixar o ego tomar conta de tudo. | |||
O Alan Mocellim grava vários vídeos sobre relacionamentos abusivos. Um deles é sobre porque a pessoa ama quem fez tanto mal. Parece absurdo, mas acontece e é real. O nome técnico é vínculo traumático. Muitas vezes quem passa por isso, depois de terminar ainda fica muito tempo com a cabeça pensando naquela pessoa abusiva. O Pedro Calabrez também gravou um vídeo sobre isso, ficar preso a pequenas migalhas. O Ricardo Ventura também fala sobre isso. Tem alguma similaridade com a síndrome de Estocolmo pelo visto, mas é outra coisa. Toda vez que sai uma notícia sobre um relacionamento abusivo com brigas e ameaças é fácil falar ''“Larga. Vai embora.”'', mas a situação é mais complexa do que isso. Começa pelo fato de que todo relacionamento abusivo começou bem e parecia que ia dar certo. Nunca começou com brigas e ameaças. | |||
Uma coisa que o Alan Mocellim alerta é como as pessoas são inocentes. Relacionamento tóxico e abusivo não adianta ficar preso a uma utopia de que o amor é a salvação. Quando se trata de personalidades tóxicas não adianta ficar numa ilusão de que o amor vai salvar aquela pessoa. Não vai. Só vai levar você a afundar ainda mais numa falsa esperança de que você pode mudar aquela pessoa. Não vai mudar. Esse é um problema de transtornos de personalidade, a pessoa tem uma mente tão rígida e inflexível que em alguns casos o tratamento é inútil. | |||
O Pedro Calabrez tem um vídeo discutindo o perdão. Existem projetos dedicados a isto como ''"The Forgiveness Project"'' e o conceito de justiça restaurativa. Normalmente a mídia só discute a justiça punitiva. Mas essa discussão é complicada e vai muito além de questão de ego. O que o livro discute é que no caso do Hearst por exemplo, a energia gasta para destruir o filme ''"Cidadão Kane"'' poderia ter sido gasta com outras coisas. É verdade, mas quando se junta paranoia e poder isso com certeza tem algum tipo de transtorno mental associado que vai muito além de simples ego. | |||
Esse conceito de amar sempre pode muito bem ser usado contra você. No caso de relacionamento abusivo tem uma ameaça clássica que é ''"Se você for embora eu me mato"''. Seitas religiosas ou mesmo empresas podem obrigar alguém a permanecer lá dentro com alguma ameaça parecida. Eu já vi uma chantagem parecida numa comunidade por aí que era assim ''"Se você for embora pode ter certeza que a sua comunidade não vai dar certo. Ninguém liga, ninguém quer saber. São vocês que estragam tudo, não eu. Eu tenho certeza que vocês vão voltar."'' Comportamento típico de quem não aceita perder, não aceita ser o lado errado e se julga acima dos outros. | |||
Opinião pessoal aqui: o perdão não é uma obrigação. O perdão também não é uma aceitação de que você concorda com o que aconteceu. O perdão não é esquecimento. Na bíblia existe a frase ''"Ame os seus inimigos"'', mas acho que muitas vezes o problema é a interpretação que se faz disso. Você amaria quem tentou te matar? Perdoar não significa o mesmo que amar. | |||
== Para tudo que vem depois, o ego é o seu inimigo == | |||
A conclusão do livro é que o ego cega e não deixa você aprender. | |||
Os transtornos de personalidade tem uma questão de ego no fundo. Todos eles. Lendo sobre isso encontrei os termos egosintônico e egodistônico. No caso dos transtornos de personalidade existe uma inversão na mente e o que é certo ou errado é trocado na mente da pessoa. Vice-versa. Daí serem de tratamento difícil ou impossível. O Pedro Calabrez tem um vídeo e até um curso discutindo a dificuldade de mudar comportamentos. A dificuldade esta em mudar crenças e valores. Se a pessoa aprendeu errado é muito difícil desfazer isso. Se a pessoa sempre acreditou no errado, como fazer? Começa que para a pessoa ela nunca acreditou que estivesse errada em primeiro lugar. | |||
Em física e matemática geralmente você aprende mais com os erros. Porque você precisa entender o conceito e como o resultado calculado foi errado. Os exercícios mais difíceis costumam ser exatamente aqueles que são contraintuitivos. É por isso que leis de newton num referencial não inercial costuma ser tão difícil. Porque engana o tempo todo. Os conceitos da relatividade e da termodinâmica também costumam ser difíceis porque vão contra a intuição. A matemática também é difícil quando lida com infinito ou mais do que 3 dimensões. Para algumas pessoas o difícil é fácil, mas aí entra outra discussão além do ego. | |||
Grande parte da segurança em aviões, carros, submarinos, usinas nucleares e outras coisas evoluiu graças a tragédias. É estudando os acidentes e como eles acontecem que se melhora a segurança. Existe na aviação um problema que é a falsa noção de que você pode violar algumas normas rígidas sem sofrer nada. Se isso é repetido muitas vezes, em algum momento acontece um acidente. É por isso que o treinamento dos pilotos, técnicos, construção das aeronaves, manutenção, controle de tráfego aéreo, tem muitas normas, regras e não se pode assumir que um pequeno detalhe não tem importância porque tem. | |||
Esse também é um jeito de explicar por que tanto professor de matemática e física costuma ser duro ou rígido e até demais. Mas aí entram outras questões porque reprovar numa prova de matemática ou física é completamente diferente de um acidente aéreo. |
Latest revision as of 03:49, 8 March 2025
O livro é bom para ler e pensar, mas não espere profundas discussões filosóficas ou psicológicas. O que o autor fez foi contar histórias de sucesso e fracasso e o que o ego tinha a ver com tudo. É como um livro que relata na prática o que o ego faz. É um livro pequeno e fácil de ler. Tem três partes: aspirações, sucesso e fracasso. Cada capítulo conta uma história do ego fazendo seu estrago no caso de um imperador, um general, algum empresário famoso. No caso das histórias bem-sucedidas o livro trata de como o ego não se tornou um empecilho e a virtude da humildade. Mas se você procura algo sobre emoções, psiquismo e relações humanas esse livro não tem nada sobre esses assuntos. O fato dele ter escolhido de exemplo muitos políticos acaba mostrando também um certo viés no livro.
![]() |
Prólogo doloroso
A história do Chris Gardner contada no filme “A procura da felicidade” pode ser romantizada demais. Enfatiza atos de heroísmo. Lutar contra tudo e contra todos. Dormir em banheiros. Até que um dia a sorte chega. Adento: isso é mais uma interpretação pessoal, porque depende das suas crenças. Isso é o que algumas igrejas fazem com aquelas correntes de energia e aquele monte de gente passando num caminho de sal com os pastores com as mãos para cima, supostamente mandando energias positivas do além. O que vejo como mais importante é como o Chris lidava com tudo aquilo e as decisões que ele toma.
Se o Mark Rosewater fosse inflexível a ponto de negar a opinião de todo mundo ele não estaria no Magic, já teria caído faz tempo. Uma das coisas que ele faz é reavaliar as decisões feitas todo ano dando um discurso na empresa. Ele valoriza muito as lições que cada erro traz. Cartas erradas servem de lições e com milhares de cartas feitas são muitas lições.
Li umas coisas sobre transtorno de personalidade e uma das explicações é que a pessoa desenvolveu o transtorno como forma de adaptação. Se for olhar, um psicopata simplesmente não se importa com ninguém e isso vem associado a não se importar com o que os outros fazem. Megalomania e senso de superioridade, de certa forma, são defesas contra fracassos. Delírios e alucinações também podem ser interpretados como uma defesa contra a realidade hostil. Aí que em casos extremos é impossível desfazer essa defesa e você não consegue tratamento de jeito nenhum. A fundação dessas personalidades muito extremas é forte e até demais.
Se pensar no inverso também existe rigidez na forma de inferiorizarão, vitimização ou mesmo acreditar em poderes sobrenaturais. Quando a pessoa tem isso muito enraizado é difícil mudar. Se a pessoa vive normalmente com crenças absurdas, não tem muito o que fazer se a vida dela não tem grandes problemas. Talvez até valha o questionamento: o que é considerado como crença absurda? Absurda para quem? Em que contexto?
Aspirações
A ideia geral dessa parte do livro é a de que as motivações de sucesso, conquistas e vida de uma pessoa precisam estar fundamentadas em princípios que não sejam egoístas. Todo mundo pode ser ou é ambicioso em algum momento. Todo mundo almeja alguma conquista ou objetivo. O problema é quando os valores que a pessoa segue são mais egoístas, egocêntricos, dependem da validação de terceiros, depende de obtenção de poder e fama. O ego quer tudo isso. A sociedade estimula tudo isso. O oposto é valorizar o autocontrole, a ética e a moral.
Pessoas cheias de si, autocentradas e que buscam o tempo todo a validação e o reconhecimento costumam se perder no próprio ego. O ego se torna um obstáculo contra si mesmo. Pessoas assim são tão auto absorvidas que perdem o contato com a realidade e podem até desenvolver delírios e paranoias. O autor quer que você pare de acreditar no mito do gênio que nasceu superdotado, seguro de si mesmo e que obtém sucesso por causa de uma força maior do destino. Também quer que você pare de acreditar no mito do artista que sofre, chora e se sacrifica em prol do próprio trabalho.
Do que eu li sobre personalidade narcisista, uma das grandes falhas dessa personalidade é o teste de realidade. A pessoa vive numa ilusão mental de conquistas e desejos que precisam o tempo todo de validação. Daí por exemplo tem aquela pessoa que precisa ser rodeada de aplausos, como se a vida dependesse só disso. Ou aquela que fica o tempo inteiro numa espécie de fábula de ser líder, chefe e nunca é ou nunca chega lá. Outra coisa comum nessa personalidade é sentir que você nasceu para aquilo e mesmo que você faça coisas erradas ou não tenha resultados bons, continua numa ilusão permanente de achar que aquilo tudo é para você. Se alguém te diz o contrário, você minimiza ou desmerece. As opiniões dos outros não valem de nada.
O livro cita exemplos da história da Guerra Civil americana, Napoleão Bonaparte, Shakespere e Isocrates. Mas não discute nada sobre filosofia ou psicologia. Não fala nada sobre cognição ou treinamento de habilidades. O Van Gogh é um dos mais famosos pintores e todos sabem que ele sofria de algum transtorno mental sério. Mas se ele era bom por ter um transtorno ou não é outra história. A história do Chris Gardner é de vencer obstáculos, mas cuidado com a interpretação do sacrifício e da penúria. Tem uma cena no filme que o Chris não bebe água para não perder tempo indo ao banheiro. Isso num curto prazo vai dar problemas sérios de saúde mesmo e sacrifício assim pode ser um tiro contra si mesmo.
Falar, falar falar
A ideia geral do capítulo é falar menos e produzir mais.
Eu já devo ter lido em várias reportagens sobre atletas de alta performance a mesma coisa: nunca cante vitória antes da hora. Eu também já percebi como blog custa muito pra manter. O problema maior não é o dinheiro, mas publicar sempre. Parece que tem pessoas que estão tão preocupadas com publicar sobre alguma coisa que esquecem de fazer. Em fóruns de criação de jogos eu já vi e passei por isso. Você cria um tópico e contar o progresso e atualizar acaba sendo tão trabalhoso que você perde muito tempo com isso.
Já devo ter lido em alguma reportagem sobre vestibular de alguns casos de pessoas que estavam bem nos simulados e até foram bem na prova. Mas como a concorrência era alta, não passaram. Devo ter lido isso em alguma entrevista do Etapa de alguém que admitiu que não passou em medicina por culpa do ego. Foi bem na prova, mas não tanto quanto precisava.
Uma das coisas que eu li sobre a personalidade narcisista é que são pessoas que adoram falar de si mesmas. Não param de se auto engrandecer e exaltar a si próprias. No caso de um narcisista negativista é falar de si como se todo azar ou desgraça do mundo fosse com si mesmo. Como se a vida dependesse disso. Todo mundo que é assim é um caso de transtorno de personalidade narcisista? Nem sempre. Pode ser apenas um traço.
Ser ou fazer?
A ideia é que o meio pode corromper a sua alma. Aí é que entra a ideia das aparências. Ser aquilo ou fazer aquilo? Vale a pena o preço? Um exercício que John Boyd fazia era escrever as palavras DEVER, HONRA e PÁTRIA. Depois riscá-las e escrever ORGULHO, PODER E GANÂNCIA. Ou seja, virtudes podem ser deturpadas e se transformarem em defeitos. Essa transformação passa pelo ego e acontece em toda parte.
Muita coisa que o Mark Rosewater diz sobre design é sobre ego e uma das coisas é querer provar que você pode. Algumas cartas foram feitas pensando assim e deram errado. Uma coisa no desenvolvimento de jogos é querer fazer algo para satisfazer a si mesmo, o que acaba invariavelmente deixando o público do jogo em segundo plano.
No meio acadêmico existe a frase “Publique ou morra”. Onde o que é valorizado é a publicação de artigos e quanto mais ou quanto maior o impacto, melhor. Isso sacrificando a sua saúde, amizades, família e o que mais for necessário. Estudantes também podem passar por isso quando notas e currículo assumem tanta importância que todo o resto, vida, relações sociais, saúde, acabam sendo sacrificados por causa disso.
Os fins justificam os meios. Essa é uma boa definição para um líder megalomaníaco ou alguém perverso e mau. Um psicopata por exemplo. Fazer tudo que estiver ao seu alcance para obter poder. Pessoas assim não medem as consequências dos próprios atos e isso só acontece porque não existe questionamento moral em primeiro lugar. Não importa a pátria, a honra ou o dever. O que vale é o poder, o quanto você ganha e o orgulho por aquilo que você fez independentemente de ser questionável ou antiético. A pessoa pode ser assim desde sempre ou se tornar assim por causa de forças externas. (Isso tem variações dependendo da cultura. Não são conceitos absolutos)
Torne-se um aprendiz
Resumidamente, o capítulo diz que não podemos ter a presunção de já sabermos tudo. Sempre há algo a mais para aprender. Sempre há alguma coisa nova para descobrir. Isso invariavelmente esta atrelado à capacidade de ouvir críticas e receber tanto elogios quanto negativas. O ego se protege negando as críticas e rejeitando as opiniões contrárias. Ser humilde é necessário para aprender.
Os transtornos de personalidade têm uma falha de autocrítica. Pesquise pelos conceitos de egosintônico e egodistônico. A pessoa tem uma falha na autopercepção. Se perceber as próprias falhas fosse imediato, o próprio transtorno seria resolvido. Na verdade, qualquer transtorno deixaria de existir se a capacidade de se autocorrigir fosse inata a qualquer um. Pra isso que existem tantos médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, conselheiros, etc. Tem um limite no quanto uma pessoa consegue ver de si mesma. Dependendo de como o ego se defende a pessoa pode ser rígida a tal ponto que mudar é impossível.
Eu já devo ter lido alguma reportagem sobre vestibular falando que uma das reações que acontecem é o candidato pôr a culpa na prova. Estudou e fez a prova, mas faltou pouco ou muito pra passar e a reação inicial é culpar a prova. Em alguma medida toda prova é injusta. Mas também xingar a prova não leva a lugar nenhum. O sistema de seleção justo para todo mundo e ideal não existe. Achar que você sabe mas não sabe, isso já deve ter acontecido com todo mundo pelo menos uma vez na vida.
Não seja apaixonado
O capítulo todo se resume a criticar tudo que fazemos e decidimos movidos pela emoção, no caso a paixão. Isso é um problema nos esportes e especialmente na política. Políticos que tomam decisões por razões de seguirem as emoções tomam decisões erradas ou pelo menos questionáveis. Quando se toma decisões movidas pela razão as coisas são melhores.
Assisti algumas entrevistas do canal Investigação criminal e 99.99% dos crimes são cometidos por razões de emoção. O que não deve ser surpresa pra ninguém. Transtornos mentais causam crimes? Em alguns casos sim, mas é um percentual pequeno segundo os dados mais confiáveis que se tem. Uma das pessoas que dizem isso é o Dr. Guido Palomba e outros especialistas forenses. O percentual dos crimes que tem relação com transtornos mentais, poucos a pessoa perdeu a consciência de si, a grande maioria mantém a consciência mesmo com o transtorno.
Todos os transtornos de personalidade tem relação com emocional. Se pesquisar pela definição das emoções mais básicas como medo, ódio, felicidade, tristeza, etc. Nos transtornos de personalidade elas são confundidas umas com as outras. Esse é um problema. Fica difícil diferenciar. A própria percepção da pessoa é alterada e o que ela vê como paixão, pode ser outra coisa pra todo mundo em volta. Uma pessoa desprovida de emoções é impossível. Levar todas ou algumas emoções a um extremo, é aí que começam os transtornos como paranoias de perseguição por exemplo. Tem uma relação com o apego também.
Acompanhando o Pedro Calabrez e o Ricardo Ventura e ambos têm uma opinião sobre seitas, organizações obscuras, fórmulas de sucesso e curas milagrosas. Ou a pessoa está em desespero completo e acredita em qualquer coisa. Ou a pessoa tem tanta fé e/ou tanta paixão por aquele assunto que cai fácil em qualquer cilada ou golpe. Nos dois casos o problema é o mesmo, emoção demais.
Se pensar nos discursos do Hitler dá pra notar que ele põe muita paixão nas ideias dele. Muita força com discursos de impacto.
Siga a estratégia do quadro branco
Este capítulo e o anterior versam sobre humildade e aprendizado. Essa estratégia de começar pequeno e ir crescendo também pode ser usada por pessoas malignas. Tem caso de relacionamento abusivo que começa com uma pessoa que se mostra frágil e inofensiva, mas depois se mostra arrogante e prepotente. Vários tipos de golpes funcionam assim. A pessoa que dá o golpe faz ofertas irrecusáveis ou conta uma história falsa de que ela é carente ou necessitada e muita gente acredita. Todo tipo de assassino em série ganha a confiança primeiro antes de agir. É sempre assim. Tem vários livros sobre a arte de seduzir e manipular, tanto no bom sentido quanto no mal sentido.
Tem dois canais famosos: o "Não minta pra mim" e o "Metaforando" dedicados a descobrir mentiras. Tem muitas controvérsias se são ciência ou não, mas o fato é que existem técnicas de manipulação e sedução que são inatas ao comportamento humano e não são novas. Milhares de anos atrás já existiam. O que é possível dizer é que não tem uma técnica só, são muitas formas diferentes e não tem a fórmula mágica que pega qualquer mentira. Tem muita semelhança com relacionamento abusivo e uma regra é: relacionamento abusivo nunca começa abusivo. Começa como se fosse perfeito e é esse o problema. Demora até o abuso começar e nunca começa de maneira óbvia. Quando a esmola é demais, o santo desconfia.
Ainda sobre isso, o Alan Mocellim alerta sobre a inocência. O problema do relacionamento abusivo é que os primeiros abusos não parecem abusos. Se a pessoa demora a acreditar ou simplesmente vive uma ilusão de não querer acreditar que aquilo é abuso, o problema vai escalando cada vez mais. Imagino que o mesmo acontece numa empresa. Assédio, chantagens, exploração e humilhações valem a pena por uma promoção? Você abandonaria os seus valores em troca de um cargo? No meio artístico tem histórias de abuso assim com celebridades que passaram por maus bocados enquanto alguém se aproveitava da fama alheia.
A descrição da personalidade narcisista é de alguém que se recusa a estar abaixo de outra pessoa. O(a) narcisista precisa estar acima, sempre. Se isso esta associado com ostentação ou não, não sei. A descrição da personalidade passivo agressiva é semelhante. Diz que é alguém que se recusa a cumprir ordens. A descrição da contradependência é alguém que, como diz o nome, não quer depender dos outros. Mas isso é em relação a relacionamentos afetivos. Independência e isolamento não são a mesma coisa em termos de comportamento humano.
Fazer um trabalho "invisível" tem várias vertentes. Alguns professores já me falaram que o trabalho de quem cria modelos ou que faz testes práticos é muito importante. Está na base de várias coisas que são criadas. Mas ninguém quer fazer porque é um trabalho que não rende fama ou reconhecimento. Geralmente são trabalhos chatos, manuais e repetitivos. Similar a isso, a profissão de professor é uma que isso acontece. Dependendo do país e da cultura um professor é muito ou pouco valorizado. O ponto que o autor do livro quer chegar é que se formos arrogantes, esnobes ou preconceituosos, não poderemos começar por baixo para depois crescer. O ego não quer se sujeitar a isso porque sempre acha que merece mais e melhor. Mesmo depois de chegar no topo o ego continua sendo um perigo, pois pode ser o que nos derruba.
Se contenha
Eu já tinha lido sobre soberba e presunção em várias coisas sobre atletas de alto rendimento. O preparo psicológico pesa muito e até mais do que o físico. Também não é muito diferente de professores de cursinho dizendo que o estado mental influencia na hora do vestibular. Coisas que eu li sobre transtornos de personalidade também são parecidas. O autocontrole é uma falha nesses casos. Por ex: borderline tem um problema com as emoções muito grave. Psicopatas também e aqueles casos de assassinos em série a pessoa tem o impulso de matar totalmente fora de controle.
Saia da sua própria cabeça
Todo mundo é suceptível a cair nas armadilhas da ambição e sonhos. Perder a noção da realidade e ficar dentro de uma fábula que só existe na sua cabeça. Até um certo ponto é saudável. Mas quando toma conta da pessoa vira um problema.
Eu assisti um vídeo de um canal de transtorno borderline e narcisista e o especialista (Frank Yeomans) disse que uma maneira de explicar as ilusões e fantasias de um narcisista é a de que a realidade é agressiva. Para se defender a mente do narcisista cria um filtro da realidade que favorece a si mesmo o tempo inteiro. Seria uma explicação bem parecida com pessoas paranoides. Nesse caso a pessoa tem um filtro de que existem ameaças ou que o mundo é uma ameaça e daí vem uma barreira mental de proteção contra essa ameaça. Não cheguei a ver sobre isso, mas já vi alguma tese por aí de que grandes líderes megalomaníacos podem misturar traços de psicopata, narcisista e paranoia numa mistura que explicaria guerras com massacres de milhares ou milhões de pessoas.
Já vi alguns especialistas comentando a esquizofrenia e, por alguma razão, o esquizofrênico criou uma fantasia na cabeça e daí você tem casos de mania de perseguição por ex. A pessoa realmente acredita que tem uma câmera onde não tem nada, que um vizinho esta tramando contra, que um parente esta querendo matá-lo(a), etc. É curioso que enquanto um esquizofrênico teria muito muito medo de estar sendo perseguido por ex, um narcisista pode ter um senso de importância tão inflado que ele(a) pode achar que todo mundo dá importância pra ele(a). É como se um narcisista se sentisse num desfile eterno.
Uma vez eu lembro de ter visto numa comunidade de jogos um cara falar que a empresa fez o jogo, que ele jogava, mal-feito. Até aí tudo bem. Mas a justificativa dele era que a empresa fez o jogo errado de propósito porque odeia jogadores como ele. Tipo que???? Nunca vi tamanho egocentrismo. Por que diabos uma empresa faria um jogo pensando em prejudicar uma certa classe de jogadores??? Não faz sentido nenhum. Isso é uma das coisas mais comuns do mundo. Criticar empresas, pessoas, produtos ou serviços baseados em comparações com você mesmo. Mas a régua tem uma escala que só vale para você.
O perigo do orgulho precoce
A ideia básica é a de que o orgulho cega. Te deixa distante da realidade. Você para de aprender e passa a acreditar que é muito mais do que é na verdade. Ele cita uma frase do Genghis Khan “Se você não pode engolir o seu orgulho, então você não pode liderar”.
Somos ensinados a nos defender de críticas negativas, de desencorajamento. Mas não somos ensinados a tomar cuidado com elogios excessivos. O caminho para vencer um excesso de confiança e um egocentrismo é o autoconhecimento.
Eu vi isso muito com relação a faculdade. Mesmo lá fora nas Ivy league da vida. Você tem um currículo invejável e notas altíssimas. Passa na seleção. Mas lá dentro toma pau nas provas. Ué? Você não era um aluno brilhante na escola? O que aconteceu? Eu já devo ter passado por muitas situações de achar que isso ou aquilo era simples quando não era. Uns 99% das pessoas devem ter passado por isso em algum momento.
Quase todo relato de um narcisista dá conta que são pessoas com um vazio imenso que precisa eternamente de gratificações, validação. Caso contrário morre. Ao mesmo tempo são pessoas que desprezam qualquer crítica feita e essa é uma das razões para o tratamento ser difícil ou impossível. Os outros transtornos de personalidade também podem apresentar essa mesma resistência. Mas nem todo mundo que é resistente é um caso de transtorno.
Uma coisa que eu vi que é um padrão em relacionamento tóxico é que você junta uma pessoa que tem autoestima baixíssima com outra extremamente orgulhosa e cheia de si. Casa bem um com o outro. Porque um lado é desesperado por elogios, por menor que seja. O outro é tóxico e manipula, engana, com muita facilidade.
O Pedro Calabrez tem um vídeo falando de humildade e quem é humilde de verdade não se gaba de ser humilde. Eu já vi isso acontecer, alguém que se gaba de ser humilde e não faz isso ou aquilo. Mas eu reparei que isso era uma arrogância meio invertida, disfarçada de humildade. Porque como assim você se gaba de não fazer nada dos que os outros fazem e isso é uma qualidade? Pode até ser, mas teria que ser um ponto fora da curva extraordinário.
Trabalho, trabalho, trabalho
A ideia geral do capítulo é a de que ter ideias é uma coisa, fazer acontecer é outra e aí que mora o problema. É difícil de fazer dar certo.
Isso é o que eu mais vejo em comunidade de desenvolvimento de jogos. Alguém tem uma ideia de fazer um jogo e já sai chamando gente. Mas o jogo nunca fica pronto, quanto mais chega a começar o desenvolvimento. Ter ideia de jogo é fácil. Todo mundo tem ideias. O problema é fazer o jogo. Em alguma comunidade dessas eu lembro de uma discussão com uma pessoa que disse que o jogo, por mais simples que seja, dá um trabalho descomunal pra fazer. Uma vez essa pessoa estava numa empresa e alguém contratado disse que faria o projeto em questão de um mês. Nunca fez.
Já vi uma ideia megalomaníaca de um cara por aí que jurava de pés juntos que ele iria fazer um mmorpg revolucionário sozinho e com hardware insuficiente. O pessoal deu risada, trolou, mas o cara ficou um tempo nesse delírio. O cara queria provar para o mundo inteiro que todos estavam errados, que era possível um jogo gigantesco, complexo e tudo com base naquela ideia de que um engine pronto faz tudo pra você. Pior ainda era o delírio de que o jogo não custava um centavo pra fazer, não seria pago e seria autossustentável com base em “eu moro em casa com minha mãe” (é sério????). Passado uns 5 anos ele admitiu que desistiu e nunca mais voltou.
Eu li um pouco sobre transtorno de personalidade obsessivo compulsivo e um dos sinais são pessoas que transformam o trabalho numa obsessão. A pessoa vive em função de trabalhar. Isso é comum, mas a diferença do transtorno é que a pessoa tem uma inflexibilidade tamanha que ela segue métodos rígidos e por mais que ela perca tempo ou seja um método muito complicado, ela continua fixada naquilo. Por que disso não sei. Mas são pessoas de convivência difícil por terem uma verdadeira obsessão por controle de tudo. São pessoas metódicas demais. Isso pode indicar que são pessoas que não confiam no trabalho dos outros. No fundo disso com certeza tem alguma questão de ego lá.
Eu li um pouco sobre perfeccionismo e obsessão. Pode ser uma maneira de lidar com o medo do fracasso. Tem dois extremos. Um é refazer e nunca parar de refazer ou de recomeçar. O outro é nem começar em primeiro lugar. Perfeccionismo invariavelmente vem acompanhado de autocentramento. Uma coisa que eu já percebi é que isso pode se manifestar na forma de uma pessoa que critica demais imperfeições ou pequenos detalhes em tudo quanto é coisa ou tudo que os outros fazem.
Para tudo aquilo que vem depois, o ego é o inimigo
A ideia central do capítulo é para tomar cuidado com ambição e ego. É muito tentador fazer o pacto com o diabo para ganhar o que você quer, mas em troca vender a alma. Um exemplo de pacto com o diabo são os atletas que usam de trapaça para ganhar.
Num vídeo de análise do Ricardo Ventura, do canal "não minta pra mim”, o Ricardo disse que as redes sociais estão cheias de pessoas buscando a perfeição das outras. É uma coisa que o Pedro Calabrez também fala sobre. Todo mundo põe numa rede social aquilo que é mais interessante e não põe o que não quer. Daí você só vê fotos bonitas, lugares perfeitos e tudo que parecer ser uma vida de glamour. Mas é verdade? Ou aquilo é ilusão? Pior que isso realmente tem um peso grande porque tem muita gente mesmo que acredita em tudo que vê e pode até ser um infeliz por aí que se cobra por uma coisa que não é verdade.
Uma coisa que eu li em alguns relatos é que a personalidade narcisista não admite concorrência. Não admite que alguém seja melhor. É uma ofensa mortal não ser o(a) melhor. Dentre as reações possíveis de um narcisista tem humilhar, difamar, inversão de culpa, projeção. São pessoas com um egoísmo muito maior do que a média. É doentio. No caso de psicopata mais perverso pode até incluir matar mesmo quem estiver no meio do caminho rumo ao poder ou dinheiro. Todo mundo que não aceita concorrência necessariamente é perverso ou narcisista? Não, é apenas uma característica e você pra fazer um diagnóstico precisa olhar o contexto, o histórico e a linha do tempo.
Sucesso
Quem é fã do Tony Stark deve saber que o personagem é inspirado no Howard Hughes.
Se você pesquisar a personalidade narcisista vai achar uns 95% de histórias de abuso, relacionamentos tóxicos, desgraças e traumas. Mas é preciso separar o que é o transtorno de personalidade narcisista do abuso e do mau caratismo. Algumas coisas como se sentir importante, se sentir o centro das atenções, a busca pela validação e o aplauso. Tudo isso não necessariamente é patológico e tóxico porque depende do grau e do contexto.
Eu dei uma lida sobre o Steve Jobs e dizem que ele tinha todas as características da personalidade narcisista. Ele era um gênio e um bilionário. Criou o império da Apple. Mas tinha um lado obscuro da personalidade dele que exibida todas as coisas ruins da personalidade narcisista. Desdém, arrogância, humilhações, xingamentos, despreza sentimentos dos outros, sentimento de superioridade, etc. Só consigo imaginar que ele teve suporte de outras pessoas na carreira, porque se dependesse dessas características ruins todas ele teria falido faz muito tempo e morrido pobre.
Uma coisa que eu li sobre a personalidade narcisista é que não necessariamente são pessoas bem-sucedidas ou malsucedidas. Os dois extremos são possíveis. Já li que psicopatas também podem ser bem-sucedidos. Não necessariamente é um criminoso que vai preso e nunca mais volta se for um caso grave. Pode muito bem ser alguém que passa despercebido por todos e faz sucesso, porque tem a habilidade de esconder muito bem as coisas negativas de um psicopata. Eu listei 3 livros de autobiografias de psicopatas na minha lista de livros para ler. Um deles é o James Fallon, que se declarava um psicopata pró-sociedade. Agora cuidado com declarações de psicopatas que se dizem pró-sociedade porque pode ser manipulação e mentira.
Sempre continue estudando
Do que eu li dos transtornos de personalidade, todos eles têm em comum uma pessoa inflexível. Mas é inflexível tipo mil vezes mais do que uma pessoa rígida ou teimosa. É uma cabeça fechada num grau extremo mesmo. Daí que uma das coisas que acontece é a pessoa não aprender com os erros. Na cabeça da pessoa assim com frequência o erro é seu ou do mundo, mas nunca dela. No livro da Ana Beatriz Barbosa sobre psicopatas ela diz que um psicopata se orgulha do que faz e por mais que seja errado, na cabeça do psicopata é o mundo que está errado. Tanto que seria natural esperar que punição sirva de lição para um psicopata, mas não funciona. Na cabeça de um a punição é uma premiação. Como isso acontece no cérebro não faço ideia.
Eu assisti umas entrevistas de criminalistas falando de psicopata e a Rosângela Monteiro disse que uma falha dos psicopatas é a megalomania. O psicopata se sente tão forte e tão acima de tudo, que acaba cometendo crimes com erros que levam à sua posterior prisão. Já vi uns comentários falando que esses erros podem até serem propositais, pra ser preso de propósito. Mas não sei o que dizer sobre isso. O que posso afirmar é o seguinte: se você planeja um crime, qualquer que seja, você se preocupa com dar certo e conseguir o que quer. Ninguém planeja um crime pensando em dar errado ou consegue prever tudo que poderia dar errado porque é simplesmente impossível prever tudo. Querer prever tudo que poderia dar errado inclusive é uma característica de pessoas exageradamente perfeccionistas ou exageradamente ansiosas.
O Mark Rosewater tem um microblog de respostas e uma vez alguém perguntou se uma carta que fazia o jogador comprar todo o deck de uma vez não era um risco e um tipo de carta que poderia quebrar o jogo por causa desse efeito muito forte. A resposta dele foi “não assumir riscos é pior do que não assumir risco nenhum”. Ele disse que gosta dos erros por causa do aprendizado. Numa coluna que ele escreveu ele disse que explorar novos terrenos em cada set traz desafios e é inevitável que novos erros sejam cometidos. Uma coisa que eu concordo com ele é que tem tanta carta que deu errado em Magic que o jogo já teria falido se não fosse a capacidade deles de se adaptar às cartas e aos jogadores. Uma carta errada não pode ser retirada do mercado mais e nem corrigida porque a impressão já foi. No máximo banida de campeonatos. Mas o curioso é que a mesma carta pode ser desbanida depois dependendo de outras cartas que são feitas.
Eu comecei um site de level design e depois de adaptar todas as lições do Mark Rosewater para level design conclui que é impossível saber tudo sobre level design. É muita coisa. Todas as áreas e qualquer graduação tem isso. É impossível para uma pessoa só saber tudo sobre uma coisa só. Nenhuma escola ensina tudo sobre um assunto. É impraticável ter uma grade que tenha tudo. Alguma coisa tem que ser priorizada.
Não conte uma história para si mesmo
Uma das coisas que eu li sobre a personalidade narcisista é isso: pessoas que criam uma fantasia, uma ilusão, a respeito de si mesmo. Tem um vazio, um sofrimento gigantesco no fundo de um narcisista. Pra lidar com isso a pessoa cria uma história de sucesso pra si mesma. Isso é um perigo no caso de psicopatas. Muitos inventam uma história completamente falsa exatamente pra enganar e conseguir o que querem.
Sobre a personalidade passivo agressiva tem um cinismo associado que é semelhante a um narcisista. Sempre que algo dá errado a pessoa responde "eu já sabia que ia dar errado". Mas se sabia por que fez? Ou por que não avisou? Todo mundo já deve ter dito algo ou visto alguém dizer essa frase "Eu já sabia" (tem vídeo disso no canal Arata Academy). Eu já vi um caso assim muito extremo. Uma pessoa que respondia "eu já sabia" pra tudo mesmo. Um grupo de pessoas participava de um processo seletivo e depois esse processo era cancelado por alguma razão. A pessoa respondia "eu já sabia que ia ser perda de tempo isso daí, vocês perderam tempo e dinheiro nisso daí". Uma pessoa respondeu "Que comentário estranho. As pessoas foram reembolsadas então do que você falando de ser inútil? Achei que você fosse incentivar as pessoas, ajudar, no lugar de ficar fazendo esses comentários negativos".
Eu já passei por coisas como querer fazer levels grandiosos. Não adianta nada querer fazer um level grandioso e montar um plano pra isso se você não consegue fazer um level pequeno primeiro. Um level grandioso nada mais é do muitos levels pequenos combinados. Algo parecido na faculdade quando tem aqueles calouros que querem ganhar o próximo Nobel de física, mas tiram nota baixa numa prova. A dificuldade de uma prova de cálculo é muito menor do que os problemas enfrentados por quem ganha um Nobel de física. Aquelas histórias de que um físico famoso se formou cedo, pulou séries e era o primeiro da turma escondem outras coisas. É muito romantizado acreditar que gênios precoces não tiveram dificuldade nenhuma pra chegar lá.
Essa questão do planejamento eu vi muitas reportagens sobre empresas de sucesso ou aprovação no vestibular. Em geral as reportagens gostam de fazer isso, contar a história por trás do sucesso. Mas quando você tenta aplicar aquela história em você mesmo, geralmente dá errado. Dá errado porque cada caso teve problemas particulares que não são os mesmos que você tem. Não tem uma fórmula mágica para o sucesso. Dietas rápidas e milagrosas estão nesse barco da facilidade. Isso é um prato cheio para golpistas e charlatões que prometem curas milagrosas, receitas para o sucesso e todo tipo de guru.
O que é importante para você?
O ego não quer fazer escolhas para perder. O ego quer ganhar tudo, sempre. Não quer fazer concessões e esse é o problema. Querer abraçar tudo é impossível. Você precisa fazer escolhas e muitas vezes recusar coisas. O ego não quer recusar ofertas irrecusáveis, mas você precisa resistir à tentação.
Isso é uma coisa que li sobre pessoas narcisistas. Elas não aceitam que os outros tenham. O outro ser feliz parece que ofende um narcisista tão profundamente que ele(a) sente que precisa prejudicar os outros. Isso pode acontecer mesmo com qualquer um, mas no caso do narcisismo patológico chega num nível doentio. Um nível de paranoia mesmo. A pessoa realmente sente que todo mundo é um concorrente na vida. Tem vários artigos e vídeos por aí dedicados ao tema de mães narcisistas e todos descrevem uma relação doentia mesmo. Uma mãe que literalmente faz de tudo contra a filha. É importante reforçar que pessoas ciumentas e/ou invejosas não necessariamente são caso de narcisista, pode ser outra coisa.
O Pedro Calabrez tem um vídeo tratando das redes sociais e como ficar buscando o que os outros tem só leva a frustração e infelicidade. Quem garante que os outros tem tudo aquilo que aparece na rede social? Pode ser uma mentira, uma máscara, uma ilusão e muita gente acredita em tudo. Quem garante que a pessoa é feliz por ter aquilo? Eu li sobre a depressão e existe um preconceito de que depressão é coisa de rico. Não é. Depressão ataca ricos e pobres por igual.
Tem um vídeo do Pedro Calabrez sobre dizer não. Vale para muita coisa. Dieta por exemplo. Comprar agora ou economizar primeiro? Pagar à vista ou parcelado?
No vestibular o maior inimigo não é o número de concorrentes. O maior inimigo é o psicológico. O professor que corrige as questões e a redação só vê um número de inscrição e mais nada. Quem avalia as provas não sabe se você sabe aquela matéria ou decorou. Não sabe se você é pobre ou rico. Não sabe se você estudou pouco ou muito. O que o corretor vê lá é o que esta escrito no espaço das respostas, mais nada.
Já devo ter lido várias reportagens e relatos de gente que foi fazer esse ou aquele curso na faculdade porque alguém disse pra fazer. Porque o pai queria. Porque a mãe queria. Aí é outra coisa que eu cheguei a ler, projetar sonhos irrealizados no filho por exemplo. Pode dar certo, mas pode dar errado também. Em algum lugar eu lembro de ter visto que muitos pais ficam comparando filho de um com filho de outro, como se isso provasse alguma coisa.
Isso me lembra o filme do Titanic um pouco. Curiosamente parecia que a alta sociedade no filme era retratada como uma classe orgulhosa, arrogante e poderosa. Mas infeliz por dentro. Enquanto isso as classes baixas eram mais felizes apesar da pobreza. Devem ter vários artigos por aí vendo a correlação entre felicidade e dinheiro.
Arrogância, controle e paranoia
O tema central do capítulo é aquela máxima “O poder corrompe”. O sentimento de merecer ou de ter direito vem do fato de que você teve que superar certas barreiras para chegar lá. Você sente que é especial de alguma forma, que lutou e fez por merecer. Os obstáculos que você passou seriam a prova das suas qualidades. O controle é a sensação de que você comanda tudo ao seu alcance. Uma sensação de que todas as suas decisões são fruto de sabedoria e que você pode controlar os resultados. A paranoia vem da sensação de que aqueles que pensam diferente, que discordam de você, estão sempre errados.
Sobre os transtornos de personalidade tem uma definição por aí que combina as características de um psicopata com narcisista e paranoia. Seriam o caso de líderes megalomaníacos que provocam massacres e guerras como o caso do Hitler. No caso dos narcisistas tem uma subcategoria que é a dos narcisistas ocultos ou encobertos, que ao contrário de um narcisista extrovertido e aberto, é um narcisista que se esconde atrás de uma aparente fragilidade e falsa modéstia. São pessoas que aprenderam a usar a compaixão dos outros pra manipular. É perigoso porque é mais difícil de perceber a manipulação.
Sobre a personalidade obsessivo compulsiva, não sei porque são pessoas que tem uma vida inteira ditada por regras rígidas e inflexíveis. Métodos, horários, esquemas, uma necessidade de controle fora do normal.
Eu já devo ter visto isso em várias comunidades por aí. Um usuário sobe ao cargo de administrador e as pessoas começam a reclamar que o admin é egoísta, egocêntrico, que a comunidade esta indo pelo ralo. Várias brigas de clans em jogos surgem desse mesmo modo. Tudo gira em torno de ego.
Uma vez encontrei alguém que tinha essas características: sensação de ter poder, direito, merecer mais, controlar do próprio jeito e um delírio de que ou você era amigo ou inimigo. Pessoa mais egocêntrica que já vi. Não era narcisista de fato, mas parecia em muitas coisas. Sempre se gabando de coisas sem muito valor, enfatizando que sofreu mais, enfatizando que lutou mais do que todo mundo, enfatizando que era diferente de todo mundo. Se você concordava era tratado como amigo. Senão, era chamado de opositor, concorrente ou traidor da comunidade. Ficava numa verdadeira fantasia de que seria um representante excepcional e agradecendo por um apoio que sequer existia. Não era narcisista porque aqueles comportamentos extremos de abuso, manipulação, desvalorização dos outros, etc não eram presentes.
Administre a si mesmo
Um bom líder é responsável consigo mesmo e sabe o que ele deve fazer. Requer a humildade de aceitar que há pessoas melhores para uma certa função. A pessoa faz alguma coisa melhor do que você e se você tentar controlá-la ou entrar nos detalhes que seriam de responsabilidade dela, vai dar problema.
Tenho a impressão de que empresas ou países que tem um líder com uma personalidade disfuncional. Que seja narcisista, psicopata ou outra coisa. Caso tenha um suporte de alguém ou algum grupo que saiba administrar as coisas, acaba compensando. Até que ponto não sei dizer. Se a pessoa em questão não for um megalomaníaco sedento por poder ou numa paranoia de não confiar em ninguém deve haver uma forma de minimizar os problemas.
Um dos traços da personalidade obsessivo compulsiva que eu li são pessoas que não são boas em delegar nada. Assumem tudo por si mesmas. Além de terem uma preocupação excessiva com minúcias, também se preocupam se os outros fazem igual a elas mesmas. O extremo oposto são as pessoas que não assumem nada de nada, sempre jogam tudo pra cima dos outros e eu também já vi isso acontecer numa comunidade.
Eu joguei o Bioshok Infinite e o jogo passou por um desenvolvimento problemático. Um dos fatores que saíram nas notícias é que dizem que o Kevin Levine era perfeccionista e muito ruim em delegar funções. Eu não saberia dizer se havia um transtorno nesse caso e quantos casos pelo mundo isso não acontece?
Cuidado com a doença do eu
O ponto central é que por o eu acima de tudo e todos vai cedo ou tarde levar à ruína. O narcisismo dominando as suas ações significa que você fica muito preocupado com coisas que não deveria. Perde tempo com exibições, com manutenção da imagem e não dá atenção ao fazer o trabalho que tem que ser feito.
Eu não sei fazer diagnóstico, mas pessoas egocêntricas tem em todo lugar e apenas uma pequena parte delas realmente tem algum transtorno. Tem que ser um caso de egocentrismo extremo pra ser um transtorno. No caso da personalidade antissocial por exemplo, cooperação não existe. São pessoas dominadas pelo senso do eu primeiro acima de tudo. Assisti umas entrevistas de psiquiatria forense e criminalistas. Você já viu uma quadrilha de psicopatas? Não existe, porque se tiver um psicopata só tem um no grupo.
Toda pesquisa sobre personalidade narcisista retorna a imagem do narciso se admirando num reflexo na água. Resume bem o grande problema dessas pessoas.
Uma vez li em algum fórum um cara que passou em engenharia na federal, mas ainda queria passar no ITA. Por que o ITA era considerado acima da federal. Depois de meses o cara admitiu que ele só queria o ITA por causa do ego. Tem um vídeo da Susane Ribeiro que se formou no ITA. Ela dizia que no cursinho e no colégio com preparação para o ITA as pessoas tinham vergonha de admitir que era difícil estudar e resolver exercícios. Que existia uma norma entre os alunos que era de sempre se mostrar sabe tudo, como se toda matéria fosse óbvia e fácil. De onde vem isso não sei. Mas é uma vaidade totalmente sem sentido.
Medite na imensidão
Esse capítulo lida com uma questão meio filosófica e meio espiritual. A questão de você ser um ponto no meio do universo. O ego funciona como uma barreira que impede de sentir a imensidão do universo. O ego quer ser especial e maior do que o universo. Algumas coisas são naturais como a vaidade, ego, paciência, poder, egoísmo, etc. Todos os sentimentos e emoções são os mesmos desde milhares de anos atrás. Os gregos já sabiam disso. Os egípcios já sabiam disso. Pessoas são pessoas desde milhares de anos e continuarão sendo por mais um tempo indeterminado.
Eu já li uma parte do livro “O poder do Agora” e a ideia do livro é mais ou menos a mesma. A mente costuma ficar muito atrelada a tempo passado e futuro e daí surgem diversos problemas. Focar no tempo presente é o ideal. Histórias de meditação transcendental, alguns tipos de traumas e experiências de quase morte quase sempre lidam com esses questionamentos de vida. Questionar o que fazer, pra onde ir, o que eu sou e ressignificar a própria vida.
A descrição dos transtornos de personalidade passa por essas questões de certa forma. Psicopata seria incapaz de se sentir conectado ao universo e parte de um todo, já que o ego do psicopata não permite criar conexão com nada além dele mesmo. Pessoas com uma percepção toda distorcida da realidade também seriam incapazes de ver a essência das coisas já que estariam presas numa realidade fabricada pela própria mente. A descrição geral costuma ser de pessoas presas dentro da própria mente e quebrar isso muitas vezes é impossível.
Eu li uma página do "World of level design" e o autor lá diz q uma coisa que acontece com level design é você travar, ficar num bloqueio. É o que eu li que aconteceu com o projeto do Alan Wake. O jogo atrasou por causa desse bloqueio criativo. A ironia é que a história do próprio jogo é sobre um escritor que sofre de um bloqueio criativo. Eu também já sofri disso em vários mapas. Não tem uma resposta pronta, mas em comum se você se afasta do problema e vê uma perspectiva diferente de outro ponto, costuma ajudar. O Mark Rosewater diz que a cada set e tenta começar de uma nova perspectiva, como forma de favorecer a criatividade.
A vida costuma trazer tantos problemas e obstáculos que as pessoas acabam perdendo a noção de si mesmas, perdem a essência das coisas.
Mantenha-se sóbrio
No mundo do design de jogos isso é bem verdade. Tem alguns designers que são desconhecidos, mas muito bons. Para estes a fama é o de menos. Mas tem o outro extremo, daqueles que buscam a fama e o sucesso. Na verdade, isso vale para qualquer área. Até mesmo em questões de meio ambiente e proteção dos direitos humanos tem os figurões que saem em todos os jornais e Tvs e aqueles desconhecidos que ninguém nunca ouviu falar. Até o prêmio Nobel já admitiu que a escolha de um Nobel da paz pode ser política. Dando o prêmio não por mérito, mas por outras razões.
Vários professores já me falaram que no meio científico, muitas vezes um artigo é preterido por questões políticas. Não deveria acontecer, mas às vezes a amizade com um editor de uma revista científica acaba privilegiando um artigo em detrimento de outro. Esse tipo de politicagem acaba atrapalhando empresas, negócios e empresas de jogos também tem isso.
Esse é o tipo de coisa que não tem resposta pronta. Razão x emoção. Razão pura não funciona em N situações. Emoção pura não funciona em N outras situações. A história de que todo psicopata é frio e calculista e não tem emoções é um mito. O meio termo perfeito entre razão e emoção também não deve existir.
Para o que comumente vem depois, o ego é o seu inimigo
Eu já devo ter lido várias histórias de celebridades que chegaram no topo, ganharam muito dinheiro mas caíram em depressão. Deve ser daí o mito de que depressão é coisa de rico. Além de que o tratamento da depressão custa dinheiro. Com certeza não é o dinheiro que provoca a depressão, mas outras coisas associadas ao dinheiro.
Não lembro onde eu li, mas era um brasileiro famoso que disse que o maior medo dele no oceano não era uma tempestade. Mas uma calmaria. O oceano calmo dava mais medo do que o oceano numa tempestade com ondas de 20 metros. Faz sentido. Um dos problemas enfrentados pela navegação quando não haviam motores e os barcos eram movidos pelo vento era justamente a falta de vento. Sem vento o barco não tem mais propulsão, exceto pelas correntes oceânicas.
Eu lembro da série "Heroes" que fez muito sucesso no início. Mas depois foi caindo em popularidade e a cada nova temporada a audiência caía mais ainda. Devem ter várias histórias por aí de pessoas ou empresas que uma vez que chegam no auge, desabam por diversas razões e uma delas é o ego.
Uma coisa que eu li sobre narcisistas em geral é que são pessoas que não aceitam o sucesso dos outros. Mas isso chega num nível tão doentio que a pessoa é capaz de fazer uma campanha difamatória secreta para derrubar quem passou na frente. O pior disso é que não é como acontece na TV com escândalos saindo na primeira página. É muito mais dissimulado e envolve fofoca, chantagens, ameaças, insinuações, plantar um clima ruim que vai crescendo aos poucos até tomar proporções muito maiores. Isso também pode ser ao contrário, uma pessoa de sucesso que apresenta uma história impecável. Mas cuidado! Histórias impecáveis com certeza estão escondendo algo. Se por acaso aquele sucesso esconde uma pessoa altamente narcisista, maligna, que fez muitas coisas questionáveis pra chegar lá?
Fracasso
Este capítulo usa de exemplo Catherine Graham, a mulher que assumiu o comando do Washington Post. Não li a história dela. Mas suspeito que a diferença na história dela é questão de moral aprendida na infância. Alguns valores muito fortes que foram determinantes na condução do Washington Post. O autor simplifica demais o sucesso de Katherine porque ele não diz nada sobre o processo que a levou até lá. As experiências passadas desde a infância e o que ela aprendeu desde então é que fizeram a diferença.
Eu li sobre a personalidade passivo agressiva. Já existiu essa personalidade na classificação oficial, mas ao longo dos anos sumiu. Eu já a vi na prática e tem todas as características de uma personalidade rígida e inflexível. São pessoas com uma agressividade que só se manifesta indiretamente por meio de ironias, piadas de humor negro, criar complicações ou empecilhos para os outros, recusa imensa em fazer o que os outros precisam ou querem. Uma pessoa negativista que expressa isso por meio de ações e fala. Parece depressão, mas geralmente não é. Uma característica marcante é uma vitimização constante, sempre no sentido de que você merecia mais, merecia melhor, que o mundo ou o meio estão contra você. Essencialmente é uma pessoa egoísta e egocêntrica, que aponta o dedo pra todo mundo e tudo, mas que não tem outras coisas que fariam dela um narcisista ou um psicopata. Um exemplo é quando os outros dependem de você ou precisam de você, mas você não faz, não responde, não dá satisfação e não explica nada. Ou você faz, mas faz errado, diferente do esperado e ainda por cima é deliberado e se justifica. O que dá uma leve impressão da pessoa ser fria como um psicopata.
Histórias de superação, acidentes, doenças, costumam lidar com o insucesso e não há uma maneira ideal para todos os casos. Cada caso é um caso com suas particularidades. No caso específico de psicopatas criminosos por exemplo, não há como mudar a mente. Ser preso não é motivo de vergonha por exemplo. Há histórias de médicos famosos, com uma carreira profissional bem estabelecida, mas que escondiam um lado criminoso sombrio. Essas pessoas não se culpam por nada. Perder a carreira não é motivo para desespero, questionamentos ou reflexões. O que eu vejo pessoalmente é que alguns tipos de personalidade são tão inflexíveis que não há força externa que consiga fazer uma mudança naquela mente. Se a pessoa nega reflexões. Rejeita o contrário. Essa defesa mental é simplesmente inviolável. Isso também costuma acontecer com paranoias, delírios ou um negativismo extremo.
Uma coisa que eu sou contra é a métrica das notas de prova. É muito fácil julgar A com nota 9 como sendo superior a B com nota 4. Médias também mentem. Duas médias podem ser iguais, mas os dados completos podem ser bem diferentes com notas altas e baixas distribuídas de formas bem diferentes. Essa inclusive é umas razões para o ENEM ter aquela fórmula do TRI. Porque as questões valerem 1 ou 0 é uma maneira simplificada demais para avaliar conhecimento numa prova. Por outro lado, o sistema perfeito e justo de ranqueamento não existe.
Também concordo com o livro quanto a currículos perfeitos. Antes eu até achava mesmo que um currículo perfeito com notas altas era superior a um currículo cheio de notas baixas. Mas isso é só parte da história. É como pegar duas pessoas e uma tem o dobro do QI da outra. Quem é melhor? Melhor em que sentido? Um exemplo numérico: A tem as notas 2, 5, 7 e 9. Nesta ordem. B tem as notas 9, 7, 5, 2. Nesta ordem. C tem as notas 7, 9, 2, 5. Nesta ordem. As médias de A, B e C são iguais. Mas o que a ordem das notas diz? Não muita coisa além de pressupostos. Só se sabe que a história por trás de cada ordem de nota é diferente das demais. Quem estuda estatística sabe dessas coisas, que muitas vezes os dados não parecem o que são. Ou os dados têm mais além do que aparências.
Tempo aproveitado ou desperdiçado?
Esse termo vem do autor Robert Greene, que escreveu vários livros famosos. Basicamente o tempo morto é tempo gasto com coisas não produtivas. Que sejam vinganças, planejamentos de futuro que nunca acontecerão, fazendo alguma coisa inútil que não se ganha nada ou se deixando afundar nas próprias emoções. O tempo vivo seria o produtivo.
O que eu li sobre os transtornos de personalidade diz muito sobre isso. Uma grande parte do tempo é gasta com preocupações que estão fora do seu controle. Por exemplo pessoas que vivem num medo constante de que uma conspiração está por vir. O medo constante de ser traído. Uma fuga para uma realidade alternativa, um universo que só existe na mente, onde as coisas funcionam como você quer. Casos clássicos de TOC incluem preocupações com coisas repetitivas, checagens, rituais ou outros comportamentos que a pessoa não consegue parar de fazer. Mesmo a depressão pode acontecer esse tipo de mecanismo na mente.
A explicação disso é complicada, eu não sei explicar como isso acontece. Mas num vídeo do Alan Mocellim sobre relacionamentos abusivos ele fala sobre metacognição. A capacidade da mente de reavaliar as próprias convicções, comportamentos e percepções. O grande problema de muitos transtornos, incluindo os de personalidade, é que essa capacidade é reduzida ou perdida. No caso de um transtorno muito sério por exemplo. Se você questiona a pessoa o questionamento é interpretado como ofensa ou ataque. O que torna esses casos muito difíceis de lidar.
Em algum lugar eu li sobre isso ou foi alguém que me disse. As duas coisas talvez. Não lembro mais. Mas a mente não pode ser obrigada a ficar no tempo vivo o tempo inteiro. A obsessão por trabalho também acaba sendo um problema. Um problema que o autor cita no capítulo é que às vezes você faz coisas que dão a sensação de estar vivo, mas na prática são tempo morto. Por exemplo um estudo científico sem aplicação nenhuma e sem objetivo. Se não tem aplicação e nem finalidade, pra que serve? É o ego querendo provar a si mesmo que você pode fazer algo? Ou quem sabe provar para os outros que você faz algo? É uma fuga de outra obrigação? Um adento aqui: pesquisa científica não necessariamente envolve aplicações práticas.
Por exemplo o caso do John Wiles que resolveu o último teorema de Fermat. Ele ficava o dia inteiro estudando matemática? Não. Ele tinha lazer e momentos de descanso. Uma professora me disse uma vez que dormir é importante e muitas vezes é dormindo que se resolve um problema de matemática. Não, não é literal de resolver o problema durante o sono. Mas não dormir e trabalho em excesso prejudicam.
O esforço é o bastante
O capítulo é sobre se esforçar e não ser reconhecido por isso. Você atinge resultados, mas é punido, desprezado, ignorado, etc. O ponto é: você controla o que você faz, mas não controla o que os outros pensam. A questão é que o ego quer ser prestigiado e se não for, a reação pode ser de remorso, vingança ou simplesmente o abandono do que deveria ser feito.
Eu já tive momentos que você tira 5, não é o bastante. Você tira 7, insuficiente. Você tira 9 e ainda se cobra porque faltou 1 pra chegar no 10. Isso que eu acho injusto no caso de medicina. Você tira, digamos 79 de 100 e isso seria suficiente ou até a maior nota em qualquer outro curso. Mas em medicina não, o último lugar aprovado tinha 81 de 100. Agora o interessante da mente é que quem não garante que até o primeiro colocado em medicina não pode se achar inferior? Quem garante que o primeiro colocado se sente ou se acha superior? Nas competições esportivas muitas vezes a estratégia conta mais para a vitória. Em vários esportes, se você se cobrar pela quebra do recorde, acaba perdendo por causa disso. Alguns tipos de prova tem pontuação negativa para questões com resposta errada. A ideia é que é melhor não chutar do que correr o risco de perder pontos. O importante é a nota máxima ou o suficiente para ser aprovado?
Eu já li um pouco sobre TOC e alguns casos isso é clássico. A pessoa conta alguma coisa, limpa ou organiza alguma coisa. Mas o TOC tem um mecanismo na mente que a pessoa não para. Limpa e não basta uma vez, tem que ser duas. Tem que ser 10 vezes. Como isso funciona não sei. Tem explicações neurológicas e também emocionais. Também depende de fatores externos, como por exemplo um contexto que exija perfeição ou que premie a perfeição.
O autor fala sobre como o ego adora se comparar com os outros. Mas essa discussão é bem mais profunda e complicada. Uma pessoa que se sinta inferior ou incapaz o tempo inteiro não é normal e provavelmente é algum tipo de transtorno mental, não apenas um problema de ego. O autor não diz muita coisa sobre desenvolver a resiliência e isso vai além de pensar no próprio ego.
Momentos clube da luta
O título do capítulo é por causa do personagem do filme. O personagem tem todos os pertences e casa destruídos por uma explosão que foi ele mesmo que fez sem saber. Melhor dizendo, uma personalidade diferente dentro dele mesmo. O tema do capítulo é que cedo ou tarde todos caem. Quando isto acontece o ego quer buscar culpados, quer reagir e nos faz ter reações impensadas. O ego quer se proteger e daí vem as reações impensadas. A saída é saber lidar com a realidade porque não há outro caminho.
Uma coisa que eu li sobre os transtornos de personalidade é que a pessoa pode até saber que é um transtorno, mas se vai ou não mudar não depende de ninguém. Só ela mesma pode fazer isso. O problema é que tem casos extremos, como psicopata por exemplo, que não existe sofrimento. Não há razão nenhuma pra pessoa mudar. Aí também tem um preconceito com a depressão. A pessoa depressiva pode até querer mudar, mas não consegue e o problema não é a falta de vontade.
Parece um paradoxo, mas eu assisti os vídeos do Alan Mocellim sobre relacionamentos abusivos. Tem um elemento em comum. Muitas vezes a pessoa foi atrás desses vídeos ou livros sobre isso pra tentar entender a pessoa abusiva. O que acontece é a pessoa entender mais sobre si mesma. É uma coisa que vi um psicanalista, Cássia Rodrigues, comentando. Relacionamento abusivo só existe porque as pessoas envolvidas se encaixam como chave e fechadura. Parando pra pensar, é verdade. Não teria como ser diferente.
No livro "O lado bom do lado ruim" do psiquiatra Daniel Martins de Barros ele faz uma inversão de perspectiva. As emoções boas, elas podem ser negativas? E as ruins, podem valer de algo? A resposta é sim para as duas perguntas. Emoções negativas tem utilidade e valor. As positivas também têm seus lados negativos. No fundo tem até uma justificativa evolutiva para isso e já vi em algum lugar, acho que com o Pedro Calabrez, que um dos problemas é que o cérebro ainda não é totalmente adaptado a muita coisa que acontece no mundo. Daí surgem problemas.
Estabeleça limites
A ideia aqui é que o ego fora de controle leva à ruína. Pode levar até à morte. Se não levar à morte de si mesmo, leva à morte de pessoas em volta. Ou mata exatamente aquilo que damos valor. A questão é saber ver os limites do ego. Saber quando abandonar e não continuar numa espiral descendente que vá até o inferno. A pior decisão que o ego faz as pessoas tomarem numa crise é afundar ainda mais. Negar todo mundo, negar a realidade e comprar uma briga que não vai levar a lugar algum, exceto afundar ainda mais. O ego custa a assumir qualquer responsabilidade.
A discussão desse capítulo me lembra de todo tipo de supervilão de qualquer história de super-heróis. Todos tem um ego tão grande que se recusam a ver erro em si mesmo. Aquela frase “Se eu não posso, ninguém mais pode” acontece o tempo todo. Aquele supervilão que busca a imortalidade existe mesmo na vida real. Tem milhares de exemplos de pessoas obcecadas por poder, fortuna ou mesmo viver para sempre.
Uma coisa que eu li sobre a personalidade narcisista é que existe um risco de suicídio. Na descrição dessa personalidade parece absurdo pensar em suicídio. Mas quando chega num ponto em que a ilusão não se sustenta mais, a pessoa entra numa crise tão violenta que o risco de suicídio é altíssimo. Uma vez li um relato de uma mulher falando que saiu de um relacionamento abusivo com um narcisista. Ela disse que tinha toda vontade do mundo de falar “Vá pro inferno”, mas ela disse “Eu te mandaria pro inferno, mas a sua vida já é tão ruim que você já está no inferno”. Faz sentido.
A Ana Beatriz Barbosa escreveu um livro sobre psicopatas e diz que muitos gostam de entrar na justiça. Por exemplo: ela disse que não comenta sobre políticos corruptos a menos que o caso já esteja julgado. Senão ela corre o risco de ser processada. É uma coisa que eu aprendi em algum momento. Se um caso vai parar na justiça, pode ser que o lado errado da história ganhe porque conseguiu argumentar melhor. Fica a pergunta: Vale a pena abandonar tudo em nome disso ou daquilo? Pelo que entendi, se for um psicopata, ele(a) já não dava valor ao que está abandonando em primeiro lugar. Qualquer pessoa pode reavaliar se aquilo tinha tanto valor quanto ela pensava que tinha.
Mantenha seus próprios padrões
A ideia do capítulo é que se você tiver critérios para você mesmo sobre o quanto você deveria ganhar, o quão bom você é, o quão longe você quer ir. O efeito disso é que você para de se comparar com o resto do mundo. Você assume uma postura mais humilde por esta mais atento às suas próprias qualidades e defeitos.
Esse capítulo é meio contraditório. Uma coisa que eu li sobre a personalidade evitativa ou esquiva é que são pessoas que podem ter um grau de cobrança sobre si mesmas tão elevado, mas tão elevado, que uma das consequências é a pessoa literalmente evitar ou se esquivar de coisas que ela julga como difíceis ou complicadas. Não é a mesma coisa que uma fobia por exemplo. São pessoas que podem viver presas dentro de critérios tão exigentes com elas mesmas que elas evitam situações que julgam serem de risco. Não é uma paranoia também. Pelo que entendi são pessoas cautelosas, mas uma cautela que domina tudo que a pessoa faz e de maneira exagerada. É mais ou menos uma pessoa que catastrofiza muito e isso é crônico.
Várias reportagens sobre transtornos alimentares têm a ver com esse excesso de cobrança da sociedade. A pessoa busca um padrão de beleza em que ela precisa se adequar ao que a sociedade espera. Aí eu vejo dois extremos. Um é um egoísmo de não querer se adequar de jeito nenhum por razões diversas e que tem a ver com você mesmo. O outro extremo é não ter identidade própria e buscar padrões externos o tempo inteiro.
Uma coisa que eu li sobre vestibular e atletas é que a melhor métrica é sempre você mesmo. Superar a você mesmo, não os outros. O Mark Rosewater também fala sobre isso em Magic. Mas aí vem uma outra lição dele que é o ponto em que ficar buscando mais e melhor perde o sentido. Aí entra perfeccionismo exagerado e vaidade. Uma busca por ser melhor quando não tem mais sentido e pode até trazer prejuízos.
Sempre ame
A ideia do capítulo é que o ego não aceita ser contrariado. Se o ego se sentir acusado ou atacado a tendência é querer reagir. O capítulo conta a história William Randolph Hearst, que ficou tão obcecado por neutralizar o filme “Cidadão Kane” de Orson Welles, que fez uma das maiores campanhas difamatórias da história para acabar com Welles. Conseguiu o que queria, mas o tiro saiu pela culatra porque tempos depois o filme foi reconhecido como uma das maiores obras já criadas. Ironicamente, Willian Randolph ajudou com a divulgação do filme de tanto que ele surtou que o filme era um retrato de si e negativo. Orson Welles por sua vez nunca sentiu ódio do magnata. Pelo contrário, era um admirador. A solução é valorizar amor, perdão e não deixar o ego tomar conta de tudo.
O Alan Mocellim grava vários vídeos sobre relacionamentos abusivos. Um deles é sobre porque a pessoa ama quem fez tanto mal. Parece absurdo, mas acontece e é real. O nome técnico é vínculo traumático. Muitas vezes quem passa por isso, depois de terminar ainda fica muito tempo com a cabeça pensando naquela pessoa abusiva. O Pedro Calabrez também gravou um vídeo sobre isso, ficar preso a pequenas migalhas. O Ricardo Ventura também fala sobre isso. Tem alguma similaridade com a síndrome de Estocolmo pelo visto, mas é outra coisa. Toda vez que sai uma notícia sobre um relacionamento abusivo com brigas e ameaças é fácil falar “Larga. Vai embora.”, mas a situação é mais complexa do que isso. Começa pelo fato de que todo relacionamento abusivo começou bem e parecia que ia dar certo. Nunca começou com brigas e ameaças.
Uma coisa que o Alan Mocellim alerta é como as pessoas são inocentes. Relacionamento tóxico e abusivo não adianta ficar preso a uma utopia de que o amor é a salvação. Quando se trata de personalidades tóxicas não adianta ficar numa ilusão de que o amor vai salvar aquela pessoa. Não vai. Só vai levar você a afundar ainda mais numa falsa esperança de que você pode mudar aquela pessoa. Não vai mudar. Esse é um problema de transtornos de personalidade, a pessoa tem uma mente tão rígida e inflexível que em alguns casos o tratamento é inútil.
O Pedro Calabrez tem um vídeo discutindo o perdão. Existem projetos dedicados a isto como "The Forgiveness Project" e o conceito de justiça restaurativa. Normalmente a mídia só discute a justiça punitiva. Mas essa discussão é complicada e vai muito além de questão de ego. O que o livro discute é que no caso do Hearst por exemplo, a energia gasta para destruir o filme "Cidadão Kane" poderia ter sido gasta com outras coisas. É verdade, mas quando se junta paranoia e poder isso com certeza tem algum tipo de transtorno mental associado que vai muito além de simples ego.
Esse conceito de amar sempre pode muito bem ser usado contra você. No caso de relacionamento abusivo tem uma ameaça clássica que é "Se você for embora eu me mato". Seitas religiosas ou mesmo empresas podem obrigar alguém a permanecer lá dentro com alguma ameaça parecida. Eu já vi uma chantagem parecida numa comunidade por aí que era assim "Se você for embora pode ter certeza que a sua comunidade não vai dar certo. Ninguém liga, ninguém quer saber. São vocês que estragam tudo, não eu. Eu tenho certeza que vocês vão voltar." Comportamento típico de quem não aceita perder, não aceita ser o lado errado e se julga acima dos outros.
Opinião pessoal aqui: o perdão não é uma obrigação. O perdão também não é uma aceitação de que você concorda com o que aconteceu. O perdão não é esquecimento. Na bíblia existe a frase "Ame os seus inimigos", mas acho que muitas vezes o problema é a interpretação que se faz disso. Você amaria quem tentou te matar? Perdoar não significa o mesmo que amar.
Para tudo que vem depois, o ego é o seu inimigo
A conclusão do livro é que o ego cega e não deixa você aprender.
Os transtornos de personalidade tem uma questão de ego no fundo. Todos eles. Lendo sobre isso encontrei os termos egosintônico e egodistônico. No caso dos transtornos de personalidade existe uma inversão na mente e o que é certo ou errado é trocado na mente da pessoa. Vice-versa. Daí serem de tratamento difícil ou impossível. O Pedro Calabrez tem um vídeo e até um curso discutindo a dificuldade de mudar comportamentos. A dificuldade esta em mudar crenças e valores. Se a pessoa aprendeu errado é muito difícil desfazer isso. Se a pessoa sempre acreditou no errado, como fazer? Começa que para a pessoa ela nunca acreditou que estivesse errada em primeiro lugar.
Em física e matemática geralmente você aprende mais com os erros. Porque você precisa entender o conceito e como o resultado calculado foi errado. Os exercícios mais difíceis costumam ser exatamente aqueles que são contraintuitivos. É por isso que leis de newton num referencial não inercial costuma ser tão difícil. Porque engana o tempo todo. Os conceitos da relatividade e da termodinâmica também costumam ser difíceis porque vão contra a intuição. A matemática também é difícil quando lida com infinito ou mais do que 3 dimensões. Para algumas pessoas o difícil é fácil, mas aí entra outra discussão além do ego.
Grande parte da segurança em aviões, carros, submarinos, usinas nucleares e outras coisas evoluiu graças a tragédias. É estudando os acidentes e como eles acontecem que se melhora a segurança. Existe na aviação um problema que é a falsa noção de que você pode violar algumas normas rígidas sem sofrer nada. Se isso é repetido muitas vezes, em algum momento acontece um acidente. É por isso que o treinamento dos pilotos, técnicos, construção das aeronaves, manutenção, controle de tráfego aéreo, tem muitas normas, regras e não se pode assumir que um pequeno detalhe não tem importância porque tem.
Esse também é um jeito de explicar por que tanto professor de matemática e física costuma ser duro ou rígido e até demais. Mas aí entram outras questões porque reprovar numa prova de matemática ou física é completamente diferente de um acidente aéreo.