Propriedades algébricas dos vetores

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Os oito axiomas aqui demonstrados permitem validar as operações algébricas com vetores. Cada um esta demonstrado com números reais, uma vez que os vetores estudados em geometria analítica e álgebra linear introdutória estão definidos para coordenadas reais. A validade de todas mostra que os vetores estudados em geometria analítica fazem parte de um espaço vetorial, embora a definição de um espaço vetorial seja normalmente postergada para o curso de álgebra linear.

M1. [math]\displaystyle{ a(b\overrightarrow{v}) = (ab)\overrightarrow{v} }[/math] (associativa multiplicativa)
M2. [math]\displaystyle{ a(\overrightarrow{v} + \overrightarrow{u}) = a\overrightarrow{v} + a\overrightarrow{u} }[/math] (distributiva por número real)
M3. [math]\displaystyle{ (a + b)\overrightarrow{v} = a\overrightarrow{v} + b\overrightarrow{v} }[/math] (distributiva por vetor)
M4. [math]\displaystyle{ 1\overrightarrow{v} = \overrightarrow{v} }[/math] (elemento neutro da multiplicação)
A1. [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} + \overrightarrow{u} = \overrightarrow{u} + \overrightarrow{v} }[/math] (comutativa)
A2. [math]\displaystyle{ (\overrightarrow{v} + \overrightarrow{u}) + \overrightarrow{w} = \overrightarrow{v} + (\overrightarrow{u} + \overrightarrow{w}) }[/math] (associativa)
A3. [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} + \overrightarrow{0} = \overrightarrow{v} }[/math] (elemento neutro da adição)
A4. [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} + (-\overrightarrow{v}) = \overrightarrow{0} }[/math] (elemento oposto)

As demonstrações a seguir já estão generalizadas para n dimensões. Com duas ou três dimensões é possível utilizar uma letra diferente para cada coordenada, mas com muitas coordenadas utiliza-se uma letra seguida de um índice inteiro.

A soma de vetores é definida somando-se os valores numéricos das coordenadas correspondentes. Se um vetor possui menos coordenadas do que o outro, as coordenadas faltantes são nulas. A multiplicação por escalar é definida multiplicando-se todas as coordenadas pelo escalar.

A ordem das demonstrações, com exceção de A3 e A4, é arbitrária.

Cuidado com a lógica circular 0 = 0! Numa demonstração, a tese é a de que a expressão da esquerda é igual a da direita, então deve-se trabalhar na expressão da esquerda ou da direita (ou ambas separadamente) e desenvolvê-la antes de se chegar no resultado final. Se o próprio resultado é escrito na igualdade já no início, cai-se numa lógica circular onde a hipótese é assumida como verdadeira e não há o que provar.


Prova de A4:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} \overrightarrow{v} + (-\overrightarrow{v}) = & \text{ } (x_1, x_2, \dots, x_n) + [-(x_1, x_2, \dots, x_n)] \\ = & \text{ } (x_1, x_2, \dots, x_n) + (-x_1, -x_2, \dots, -x_n) \\ = & \text{ } (x_1 - x_1, x_2 - x_2, \dots, x_n - x_n) \\ = & \text{ } (0, 0, \dots, 0) \\ = & \text{ } \overrightarrow{0} \end{align*} }[/math]

A soma de um número real com o seu oposto é igual ao elemento neutro da adição.

Atenção! O elemento oposto pode não ser necessariamente o vetor com sinal trocado. Em álgebra linear mostra-se que é possível definir conjuntos e operações de tal forma que o elemento oposto existe e não é o vetor multiplicado por -1.

Demonstração extra: mostre que, para cada vetor, existe apenas um elemento oposto correspondente.

[math]\displaystyle{ \begin{align*} \overrightarrow{v} + \overrightarrow{a} = & \text{ } \overrightarrow{0} \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) + (a_1, a_2, \dots, a_n) = & \text{ } (0, 0, \dots, 0) \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) = & \text{ } -(a_1, a_2, \dots, a_n) \\ \overrightarrow{v} = & \text{ } -\overrightarrow{a} \\ \\ \overrightarrow{v} + \overrightarrow{b} = & \text{ } \overrightarrow{0} \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) + (b_1, b_2, \dots, b_n) = & \text{ } (0, 0, \dots, 0) \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) = & \text{ } -(b_1, b_2, \dots, b_n) \\ \overrightarrow{v} = & \text{ } -\overrightarrow{b} \\ \\ \therefore -(a_1, a_2, \dots, a_n) = \text{ } -(b_1, b_2, \dots, b_n) = & \text{ } (v_1, v_2, \dots, v_n) \\ \overrightarrow{a} = \overrightarrow{b} = & \text{ } -\overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

Suponha que existam dois vetores, [math]\displaystyle{ \overrightarrow{a} \neq \overrightarrow{b} }[/math], tais que ambos sejam opostos ao vetor [math]\displaystyle{ \overrightarrow{v} }[/math]. Com as contas mostramos que ambos os vetores são iguais, o que prova que, para cada vetor, há apenas um oposto. Caso isto não fosse verdade, a lei de cancelamento não seria válida.


Prova de A3:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} \overrightarrow{v} + \overrightarrow{0} = & \text{ } (x_1, x_2, \dots, x_n) + (0, 0, \dots, 0) \\ = & \text{ } (x_1 + 0, x_2 + 0, \dots, x_n + 0) \\ = & \text{ } (x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } \overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

Somar um número real com zero é o mesmo que não somar nada. Em outras palavras, zero é o elemento tal que, somado, resulta no próprio vetor. Atenção! A4 precisa ser demonstrada antes de A3, pois primeiro mostra-se que existe um elemento neutro na adição para depois mostrar que um vetor mais o seu oposto é igual ao elemento neutro.

Atenção 2! Usualmente o elemento neutro é o zero, mas em álgebra linear são vistos espaços vetoriais com definições de operações onde o elemento neutro existe e não é o zero.

Demonstração extra: mostre que o elemento neutro da adição é único.

[math]\displaystyle{ \begin{align*} \overrightarrow{v} + \overrightarrow{a} = & \text{ } \overrightarrow{v} \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) + (a_1, a_2, \dots, a_n) = & \text{ } (v_1, v_2, \dots, v_n) \\ (v_1 - v_1, v_2 - v_2, \dots, v_n - v_n) = & (a_1, a_2, \dots, a_n) \\ (0, 0, \dots, 0) = & \text{ } (a_1, a_2, \dots, a_n) \\ \\ \overrightarrow{v} + \overrightarrow{b} = & \text{ } \overrightarrow{v} \\ (v_1, v_2, \dots, v_n) + (b_1, b_2, \dots, b_n) = & \text{ } (v_1, v_2, \dots, v_n) \\ (v_1 - v_1, v_2 - v_2, \dots, v_n - v_n) = & \text{ } (b_1, b_2, \dots, b_n) \\ (0, 0, \dots, 0) = & \text{ } (b_1, b_2, \dots, b_n) \\ \\ \therefore (a_1, a_2, \dots, a_n) = (b_1, b_2, \dots, b_n) = & \text{ } (0, 0, \dots, 0) \\ \overrightarrow{a} = \overrightarrow{b} = & \text{ } \overrightarrow{0} \end{align*} }[/math]

Suponha que existam dois vetores, [math]\displaystyle{ \overrightarrow{a} \neq \overrightarrow{b} }[/math], tais que eles tenham a mesma propriedade de não interferir na soma de um vetor. Com as contas, mostramos que ambos os vetores são iguais, o que prova que o elemento neutro da adição é único. Caso isto não fosse verdade, a lei de cancelamento não seria válida.


Prova de A1:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} \overrightarrow{v} + \overrightarrow{u} = & \text{ } (x_1, x_2, \dots, x_n) + (y_1, y_2, \dots, y_n) \\ = & \text{ } (x_1 + y_1, x_2 + y_2, \dots, x_n + y_n) \\ = & \text{ } (y_1 + x_1, y_2 + x_2, \dots, y_n + x_n) \\ = & \text{ } \overrightarrow{u} + \overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

A soma de números reais é comutativa. Geometricamente, pela regra do paralelogramo para somar vetores, o vetor soma é a diagonal e tanto pode-se obtê-lo percorrendo-se as laterais do paralelogramo por um lado como pelo outro. Em outras palavras, a ordem dos vetores não importa para a soma.


Prova de A2:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} (\overrightarrow{v} + \overrightarrow{u}) + \overrightarrow{w} = & \text{ } [(x_1, x_2, \dots, x_n) + (y_1, y_2, \dots, y_n)] + (z_1, z_2, z_n) \\ = & \text{ } (x_1 + y_1, x_2 + y_2, \dots, x_n + y_n) + (z_1, z_2, \dots, z_n) \\ = & \text{ } [(x_1 + y_1) + z_1, (x_2 + y_2) + z_2, \dots, (x_n + y_n) + z_n] \\ = & \text{ } [x_1 + (y_1 + z_1), x_2 + (y_2 + z_2), \dots, x_n + (y_n + z_n)] \\ = & \text{ } \overrightarrow{v} + (\overrightarrow{u} + \overrightarrow{w}) \end{align*} }[/math]

A propriedade associativa nos desobriga o uso de parêntesis para indicar qual soma é feita primeiro, tanto faz a ordem.


Prova de M4:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} 1\overrightarrow{v} = & \text{ } 1(x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } (1x_1, 1x_2, \dots, 1x_n) \\ = & \text{ } \overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

Multiplicar por um é o mesmo que não multiplicar. Em outras palavras, o elemento um é tal que, multiplicado por ele, resulta o próprio vetor.


Prova de M3:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} (a + b)\overrightarrow{v} = & \text{ } (a + b)(x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } [(a + b)x_1, (a + b)x_2, \dots, (a + b)x_n)] \\ = & \text{ } (ax_1 + bx_2, ax_2 + bx_2, \dots, ax_n + bx_n) \\ = & \text{ } a(x_1, x_2, \dots, x_n) + b(x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } a\overrightarrow{v} + b\overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

É o mesmo procedimento de por em evidência o fator comum na multiplicação de números reais.


Prova de M2:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} a(\overrightarrow{v} + \overrightarrow{u}) = & \text{ } a[(x_1, x_2, \dots, x_n) + (y_1, y_2, \dots, y_n)] \\ = & \text{ } a(x_1, x_2, \dots, x_n) + a(y_1, y_2, \dots, y_n) \\ = & \text{ } a\overrightarrow{v} + a\overrightarrow{u} \end{align*} }[/math]

É a mesma distributiva dos números reais. Geometricamente, esticar ou encolher o vetor resultante por um fator x é o mesmo que esticar ou encolher as componentes do vetor resultante por esse mesmo x. A visualização em duas dimensões mostra que esta propriedade cai na semelhança de triângulos.


Prova de M1:

[math]\displaystyle{ \begin{align*} a(b\overrightarrow{v}) = & \text{ } a[b(x_1, x_2, \dots, x_n)] \\ = & \text{ } a(bx_1, bx_2, \dots, bx_n) \\ = & \text{ } (ab)(x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } ab\overrightarrow{v} \\ (ab)\overrightarrow{v} = & \text{ } (ab)(x_1, x_2, \dots, x_n) \\ = & \text{ } [(ab)x_1, (ab)x_2, \dots, (ab)x_n] \\ = & \text{ } ab\overrightarrow{v} \end{align*} }[/math]

A propriedade multiplicativa por número real também é associativa.